Atualizado em 30/04/2024 por Sylvia Leite
Existem atualmente no mundo inúmeros lugares com concentração de grafites – ou graffiti, que é a palavra original em Latim – , mas o Beco do Batman é uma verdadeira imersão: uma via estreita com muros altos e pinturas murais dos dois lados. Além disso, é possível repetir o passeio sem tédio porque os grafiteiros se revezam no espaço e as pinturas são renovadas com frequência.
Nos últimos anos, esse lugar de turismo espontâneo tornou-se um dos pontos mais visitados de São Paulo e atraiu comerciantes de todo tipo – de bares e restaurantes a artesãos e revendedores de roupas. Virou ‘point’ de cerveja artesanal. Passou a ser procurado, também por moradores da cidade em busca de cenários para selfies, produções de moda e gravações de vídeos.
A trajetória do beco do Batman
Antes de tudo começar, o atual Beco do Batman era apenas uma viela composta por duas ruas – Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque – que passam nos fundos de algumas casas da Vila Madalena, na zona Oeste de São Paulo. Os muros eram encardidos, com aparência de abandono. Acontece que além de encardidos eram e continuam sendo altos e extensos – muros dos fundos – e, por isso mesmo, ótimos para grafitar.
Um dia, segudndo a versão repetida por muitos, apareceu ali um desenho do Batman – o homem-morcego – e isso fez com que estudantes e artistas moradores do bairro percebessem que a viela era um suporte excelente para suas criações. Na verdade, como lembra o artista plástico Rui Amaral, naquele momento o grafite estava ganhando os muros de São Paulo, ocupando espaços como o ‘buraco da Paulista’, o Minhocão2 e o beco da Vila Madalena foi um dos lugares escolhidos pelos grafiteiros. Ente os que marcaram o início do Beco estão artistas considerados precursores do gratife paulistano como John Howard, o próprio Rui Amaral e a galera do Tupinãodá – um dos primeiros coletivos de arte urbana do Brasil.
Mas, ainda assim, o Beco do Batman continuou deserto e praticamente desconhecido. Os poucos que sabiam de sua existência passavam por lá de carro para cortar caminho de forma divertida, ou simplesmente para admirar os grafites. Um ou outro se aventurava a atravessar o beco a pé.
Do marginal ao turístico
Por muitos anos, o Beco do Batman foi uma espécie de segredo – uma preciosidade malocada no coração da Vila. Com o tempo, foi sendo descoberto por pessoas de outros bairros e começou a receber visitas ilustres que registraram suas experiências nas redes sociais. Caso do chef britânico Jamie Oliver, conhecido pelo uso de alimentos naturais e orgânicos, que na época estava no auge da fama comandando programas de tv e uma importante rede de restaurantes.
O Beco do Batman foi também um dos lugares escolhidos pelo designer Ellion Cardoso para receber a doação de sua Poltrona São Paulo, que tem esse nome por ser feita de concreto – material, segundo ele, presente em tudo o que há na cidade. Assim como os muros, a poltrona também é suporte para a arte mural do beco e objeto de cena para fotos, como a do artista plástico Henrique Oliveira divulgada pelo próprio Ellion.
Depois de tudo isso, o Beco do Batman foi ganhando cada vez mais visibilidade e ‘status’. De cantinho alternativo e marginal, passou a programa obrigatório dos turistas ou opção de lazer gratuito para moradores. E já faz tempo que não se pode mais passar de carro por lá.
Até hoje não se sabe, ou pelo menos ninguém jamais revelou publicamente, quem foi o autor do grafite de Batman que deu origem a tudo isso. A pintura original não existe mais, pois os murais são constantemente substituídos. Do Batman resta apenas o nome, mas quase sempre um grafiteiro ou um visitante também resolve homenagear o super-herói.
O Beco e a Vila
A história do Beco do Batman está intimamente ligada à história da Vila Madalena, que até a década de 1960 era um bairro operário, pouco valorizado, e de difícil acesso. Sua transformação em zona boêmia da cidade teve início quando o Crusp, a residência estudantil da Universidade de São Paulo -USP, foi fechado pela Ditadura Militar e mais de mil alunos tiveram que buscar moradia em locais próximos e de baixo custo.
A presença de estudantes e suas repúblicas atraiu artistas, jornalistas, escritores e assim, pouco a pouco, a Vila foi passando de pacato bairro operário a espaço alternativo, que dividia residências com pequenos bares e ateliês. A trajetória do bairro parece ter caminhado lado a lado com a do Beco do Batman. Ambos, avançaram passo a passo até o status atual em que o bairro é uma consolidada região de comércio, com um dos metros quadrados mais caros de São Paulo, e o Beco não pode mais ficar de fora do roteiro cultural da cidade.
E o Beco do Batman fez escola
Em seu rastro surgiram outros como a Travessa Ipojuca, inaugurada em 2014 no bairro Vila Ipojuca, que, como a Vila Madalena, também fica na zona Oeste. O local tem 100 metros quadrados em formato de ‘S’ e sua transformação em espaço de intervenção urbana é obra do mesmo Rui Amaral que foi pioneiro no Beco do do Batman.
Cinco anos depois, em 2019, a ideia de ocupar o beco com arte urbana atravessou a cidade e se instalou na periferia da zona Leste, pelas mãos do Coletivo Cultural Cenário Urbano. O endereço é a Viela Gildo Lao, no bairro Hermelino Matarazzo. O novo espaço é considerado uma extensão do Beco do Batman e a inspiração fica evidente até no nome: Beco do Hulk.3
Notas
- 1 Passagem de carros subterrânea que liga a Avenida Doutor Arnaldo à Avenida Paulista
- 2 Minhocão é o apelido do Elevado Presidente João Goulart - uma obra polêmica, no Centro de São Paulo. Breve teremos matéria sobre o tema
- 3 Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais de São Paulo: Minhocão / Galeria do Rock / Estação Júlio Prestes e Sala São Paulo / Cemitério da Consolação / Parque Augusta / Galeria do Rock / Teatro Oficina / Theatro Municipal / Liberdade / Viaduto do Chá / Vila Itororó / Bixiga
Beco do Batman – Vila Madalena – São Paulo – São Paulo – Brasil – América do Sul
Fotos
- (1,2,3,5 e 6) Marcia Minillo do site Sampa Inesgotável
- (4) Site de Ellion Cardoso
Livros
- Beco do Batman, de Julio Freire Junior
Como o Beco do Batman se popularizou! Hoje, é parada obrigatória de quem visita São Paulo. Todo mundo fica hipnotizado com o colorido. Ótimo post, Sylvinha!!!!
É, foi uma longa trajetória. Obrigada pelo comentário!
O beco é um projeto meu do John haward e do Tupy de intervenções artísticas assim como o buraco da paulista e minhocão para fazermos da vila Madalena e a cidade de São Paulo um museu a céu aberto
Valeu, Rui. Legal ter seu depoimento aqui. Dá mais vida à matéria.
Fiquei maravilhada! A arte sempre nos salvará! Mergulhei de cabeça em tudo…uma São Paulo que eu não conhecia.
Ainda não conheço o beco do batman, mas a cada tempo que passa vejo o que estou perdendo. Sem dúvida uma ótima atração turística em SP.
Com certeza, Deyse. É um lugar muito interessante. E eu gosto mais ainda porque acompanhei sua história.
Ainda não conheço. Mais um desejo a realizar.
Preciso de um guia em Sao Paulo como você Sylvinha.
Já viajei bastante somente lendo você.
Parabens et muito obrigado.
Eu que agradeço, Joaquim, por ser leitor e comentador frequente do blog. E quanto ao Beco, com certeza te levo lá, só marcar.
Sou louca para conhecer o Beco do Batman e, como vc disse, fazer uma imersão nos grafites, tirando muitas fotos! É um lugar muito fotogênico!
Sim, é um lugar que dá belas fotos, mas o gostoso mesmo é andar por ele olhando os grafites em toda parte.
Ah,,,, Sylvia Leite que delícia de matéria! Conheci o Beco do Batman em 2020 e foi uma experiência fantástica, tanto que assim que voltei para Aracaju aderi ao movimento e criei o Beco da Arlequina, que inclusive foi destaque cultural 2021!
Sim, o Beco da Arlequina. Preciso conhecê-lo o quanto antes para inseri-lo na matéria.
Adorei saber os detalhes da história do Beco do Batman: uma imersão em grafites. Estive uma vez e fiquei encantada com o colorido do lugar.
É muito colorido mesmo. Pelos grafitis, pelo artesanato que vendem lá, pelas roupas dos frequentadores.
O Beco do Batman é um dos lugares que mais gosto em São Paulo! Fora que a região em torno dele é massa! Adorei
É verdade. A Vila Madalrna é ótima.Na minha opinião já foi melhor, mas ainda é muito legal.
Eu adorei visitar o Beco do Batman. Os grafites são incríveis e as fotos ficaram lindas. Adorei ler todas essa informações no seu post.
É um passeio muito interessante. Sempre que chega alguém em São Paulo, eu levo pra conhecer o Beco do Batman.