Teatro Oficina: um templo de rebeldia na região central de São Paulo

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 03/09/2023 por Sylvia Leite

Visão interna do Teatro Oficina - Fofo do Site Elito Arquitetos - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAO Teatro Oficina tem linhas visuais desafiadoras, assentos duros e nega inteiramente a forma que os teatros costumam ter, por isso é mais intenso.1

A frase acima é parte de um texto publicado em dezembro de 2015 por Rowan Moore, crítico de Arquitetura do The Observer’s – jornal dominical ligado ao inglês The Guardian – em matéria que apontava os 10 teatros “mais deslumbrantes do mundo”. O Oficina ficou em primeiro lugar, à frente dos consagrados Epidauro, da Grécia, Grosses Schauspielhaus, da Alemanha, e National Theatre, da Inglaterra.

O prédio, projetado pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito, reflete e, ao mesmo tempo, possibilita a plena concretização de algumas das propostas centrais da companhia, e do seu diretor José Celso Martinez Corrêa – conhecido como Zé Celso – de romper limites, desafiar convenções e colocar o teatro em contato direto com o público.

Passarela na parte superior do teatro - Foto do Site Elito Arquitetos - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Rompendo limites

Em contraste com os teatros convencionais, onde os espectadores posicionam-se em frente ao palco, o Teatro Oficina integra tudo em um único espaço: uma espécie de rua estreita e comprida com galerias desmontáveis, que permite o deslocamento dos atores e do público, sem barreiras ou hierarquias, inserindo o espectador na própria cena.

Em uma das paredes, um janelão envidraçado integra o teatro à cidade e serve como pano de fundo a um jardim e a um segundo elemento de intermediação com o ambiente externo: uma árvore da espécie Cesalpina (ou Sibipuruna) que ultrapassa o pé direito do prédio.

A estrutura física do Teatro Oficina elimina cenografia nos termos em que conhecemos e proporciona uma espécie de arquitetura cênica adaptável a cada peça, sempre integrando as esferas pública e privada, do teatro e da rua.

Teatro Oficina: patrimônio cultural brasileiro

Vista externa do teatro com a famosa Sibipuruna - Foto do site do teatro - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA A história do Teatro Oficina começa em 1961, quando estudantes da Faculdade do Largo de São Francisco (USP), liderados por José Celso , escolhem o bairro do Bixiga para instalar sua companhia, que já vinha atuando desde 1958. Eles consideravam o local antropofágico por ter absorvido traços culturais dos períodos colonial, quando foi área de quilombo, e pós-abolição, quando passou a abrigar imigrantes italianos.

O primeiro prédio, projetado por Joaquim Guedes, já trazia alguns dos elementos que hoje caracterizam o local, como a quebra da separação entre atores e espectadores. Após um incêndio ocorrido em 1966, o teatro foi reconstruído com projeto de Flávio Império e Rodrigo Lefévre, com paredes de tijolos e concreto sem revestimento.

O Teatro Oficina foi tombado pelo CONDEPHAAT, o conselho de Patrimônio Histórico e Cultural de São Paulo, em 1983, antes mesmo da conclusão do prédio atual. Em 2010, foi considerado Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).Zé Celso Martinez Corrêa - foto de Wilson Dias da Agencia - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Desde o tombamento estadual, o Teatro Oficina é um lugar público, sob administração do Uzyna Uzona – nome atual companhia que foi fundada e dirigida por Zé Celso até julho de 2023, quando ele faleceu vítima de um incêndio no apartamento onde morava.

Contar a história do Oficina exigiria um livro, ou mais que isso. Ao longo de quase seis décadas, sua sede foi palco de movimentos políticos e de lutas pela manutenção do local, constantemente ameaçado pela especulação imobiliária. Foi, acima de tudo, palco de montagens teatrais que se tornaram históricas como “O rei da vela”, de Oswald de Andrade, em 1967, ou As Bacantes, de Eurípedes, em 1996, ambas remontadas em 2018 e 2016 respectivamente.2

Notas

Teatro Oficina – Bixiga – São Paulo – São Paulo – Brasil

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Cynthia
Cynthia
5 anos atrás

Excelente texto !

Val Cantanhede
5 anos atrás

O Oficina,palco de tantas lutas contra a ditadura, permanece como referência de todos que anseiam por liberdade.
Saudades daqueles bons encontros, mesmo nos tempos de chumbo…
Abraços.
Val Cantanhede

Maria Helena
5 anos atrás

Gostei de conhecer o Teatro Oficina. Você descreve de uma maneira tão boa, que nos dá um conhecimento legal sobre ele. Parabéns.

Nathalia Geromel
Nathalia Geromel
3 anos atrás

Que interessante esse teatro oficina!! Achei muito legal, todo o conhecimento que você nos trouxe. O local realmente parece ter uma belíssima arquitetura

Fabíola Moura
Fabíola Moura
3 anos atrás

Gente, não sabia da existência do Teatro Oficina, juro. Não me surpreende que seja tão inovador e incomum, visto que Lina Bo Bardi foi uma das arquitetas. Adoraria ver esse templo de rebeldia de perto. Mais um lugar pra botar na lista em São Paulo.

Deyse
Deyse
3 anos atrás

Oi Sylvia! Muito interessante este texto sobre o o Teatro Oficina como um templo de rebeldia na região central de São Paulo. Já estive algumas vezes em São Paulo e não tive a oportunidade de conhecer o teatro.

LeoSV
3 anos atrás

Cada vez se faz mais importante a manutenção desses locais que prezam a cultura e contam sua história para as gerações futuras.

Angela Beatriz Camara Martins
3 anos atrás

Que interessante esse post sobre esse templo de rebeldia! Não conhecia o Teatro Oficina. Gostei de ler!

cleonicein
3 anos atrás

Nao conhecia esses detalhes sobre o teatro oficina. Adorei

cleonicein
3 anos atrás

Muito legal conhecer a história do teatro oficina. Ja assisti peças nele mas nao conhecia detalhes

Aline Laudelina Pires
3 anos atrás

Não conhecia o Teatro Oficina e gostei muito de conhece-lo e conhecer a sua história. O modelo dele é muito diferente e interessante.

Van
3 anos atrás

Adorei conhecer o Teatro Oficina por você! Muito interessante esse lugar.

Hebe Carvalho
3 anos atrás

Que bacana esse teatro oficina, não conhecia, gostei de saber .

Hebe
Hebe
1 ano atrás

Sylvia, não sabia da existência do Teatro Oficina, você como sempre me surpreende.
Adoraria ver esse templo de rebeldia de perto. Mais um lugar pra botar na lista do que ver em São Paulo, quando for em abril