Atualizado em 16/07/2024 por Sylvia Leite
O Teatro Oficina tem linhas visuais desafiadoras, assentos duros e nega inteiramente a forma que os teatros costumam ter, por isso é mais intenso.1
A frase acima é parte de um texto publicado em dezembro de 2015 por Rowan Moore, crítico de Arquitetura do The Observer’s – jornal dominical ligado ao inglês The Guardian – em matéria que apontava os 10 teatros “mais deslumbrantes do mundo”. O Oficina ficou em primeiro lugar, à frente dos consagrados Epidauro, da Grécia, Grosses Schauspielhaus, da Alemanha, e National Theatre, da Inglaterra.
O prédio, projetado pelos arquitetos Lina Bo Bardi e Edson Elito, reflete e, ao mesmo tempo, possibilita a plena concretização de algumas das propostas centrais da companhia e do seu diretor José Celso Martinez Corrêa – conhecido como Zé Celso – de romper limites, desafiar convenções e colocar o teatro em contato direto com o público.
Rompendo limites
Em contraste com os teatros convencionais, onde os espectadores posicionam-se em frente ao palco, o Teatro Oficina coloca tudo em um único espaço: uma espécie de rua estreita e comprida com galerias desmontáveis, que permite o deslocamento dos atores e do público, sem barreiras ou hierarquias, inserindo o espectador na própria cena.
Em um dos lados, uma parede envidraçada integra o teatro à cidade e emoldura um segundo elemento de intermediação com o ambiente externo: uma árvore da espécie Cesalpina (ou Sibipuruna) que ultrapassa o pé direito do prédio.
A estrutura física do Teatro Oficina elimina cenografia nos termos em que conhecemos e proporciona uma espécie de arquitetura cênica adaptável a cada peça, sempre integrando as esferas pública e privada, do teatro e da rua.
Teatro Oficina: patrimônio cultural brasileiro
A história do Teatro Oficina começa em 1961, quando estudantes da Faculdade do Largo de São Francisco (USP), liderados por José Celso , escolhem o bairro do Bixiga para instalar sua companhia, que já vinha atuando desde 1958. Eles consideravam o local antropofágico por ter absorvido traços culturais dos períodos colonial, quando foi área de quilombo, e pós-abolição, quando passou a abrigar imigrantes italianos.
O primeiro prédio, projetado por Joaquim Guedes, já trazia alguns dos elementos que hoje caracterizam o local, como a quebra da separação entre atores e espectadores. Após um incêndio ocorrido em 1966, o teatro foi reconstruído com projeto de Flávio Império e Rodrigo Lefévre, com paredes de tijolos e concreto sem revestimento.
O Teatro Oficina foi tombado pelo CONDEPHAAT, o conselho de Patrimônio Histórico e Cultural de São Paulo, em 1983, antes mesmo da conclusão do prédio atual. Em 2010, foi considerado Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Desde o tombamento estadual, o Teatro Oficina é um lugar público, sob administração do Uzyna Uzona – nome atual companhia que foi fundada e dirigida por Zé Celso até julho de 2023, quando ele faleceu vítima de um incêndio no apartamento onde morava.
Contar a história do Oficina exigiria um livro, ou mais que isso. Ao longo de quase seis décadas, sua sede tem sido palco de movimentos políticos e de lutas pela manutenção do local e da área vizinha, constantemente ameaçados pela especulação imobiliária.
Mas o Teatro Oficina é, acima de tudo, uma referência no teatro brasileiro, responsável por montagens históricas como “O rei da vela”, de Oswald de Andrade, em 1967, ou As Bacantes, de Eurípedes, em 1996, ambas remontadas em 2018 e 2016 respectivamente.
As peças e os movimentos seguem acontecendo como na época de seu fundador. A luta pela manutenção do local teve fim com os tombamentos. Restava uma última vitória que agora parece bem próxima: a construção de um parque no terreno ao lado, recém aprovada pela Câmara Municipal de São Paulo, que consolidará a integração do teatro com a comunidade. 2
Notas
- 1 Tradução livre do texto em inglês.
- 2 Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais de São Paulo: Parque da Juventude / Parque Augusta / Vila Itororó / Bixiga / Theatro Municipal / Viaduto do Chá / Galeria do Roque / Pavilhão da Bienal / Minhocão /Parque Savóia / Galeria do Rock
Teatro Oficina – Bixiga – São Paulo – São Paulo – Brasil
Fotos
- (1 e 2) Site Elito Arquitetos
- (3) Site do Teatro
- (4) Wilson Dias / Agencia Brasil - Licença CC BY 2.5 br
Referências
- Site do Teatro
- Site do escritório Elito Arquitetos
- Jornal The Guardian
Excelente texto !
O Oficina,palco de tantas lutas contra a ditadura, permanece como referência de todos que anseiam por liberdade.
Saudades daqueles bons encontros, mesmo nos tempos de chumbo…
Abraços.
Val Cantanhede
Obrigada!
Obrigada pelo comentário, Val.
Gostei de conhecer o Teatro Oficina. Você descreve de uma maneira tão boa, que nos dá um conhecimento legal sobre ele. Parabéns.
Obrigada, Maria Helena. Beijo
É verdade, Val, o Oficina é um ícone. Beijo
Que interessante esse teatro oficina!! Achei muito legal, todo o conhecimento que você nos trouxe. O local realmente parece ter uma belíssima arquitetura
Vale a pena conhecer. De preferência assistindo uma peça para entender essa 'arquitetura viva', que se completa em interação com os atores e com o público.
Gente, não sabia da existência do Teatro Oficina, juro. Não me surpreende que seja tão inovador e incomum, visto que Lina Bo Bardi foi uma das arquitetas. Adoraria ver esse templo de rebeldia de perto. Mais um lugar pra botar na lista em São Paulo.
Oi Sylvia! Muito interessante este texto sobre o o Teatro Oficina como um templo de rebeldia na região central de São Paulo. Já estive algumas vezes em São Paulo e não tive a oportunidade de conhecer o teatro.
Cada vez se faz mais importante a manutenção desses locais que prezam a cultura e contam sua história para as gerações futuras.
Que interessante esse post sobre esse templo de rebeldia! Não conhecia o Teatro Oficina. Gostei de ler!
Nao conhecia esses detalhes sobre o teatro oficina. Adorei
Muito legal conhecer a história do teatro oficina. Ja assisti peças nele mas nao conhecia detalhes
Não conhecia o Teatro Oficina e gostei muito de conhece-lo e conhecer a sua história. O modelo dele é muito diferente e interessante.
Adorei conhecer o Teatro Oficina por você! Muito interessante esse lugar.
Que bacana esse teatro oficina, não conhecia, gostei de saber .
Não deixe de ir. As peças costumam ser ótimas e o teatro é diferente de tudo que a gente conhece.
Verdade, Fabíola, Lina realmente foi especial. E tão especial quanto ela é o diretor do Teatro Oficina, Zé Celso Martinez. Cada um em sua área.
Verdade, Leo.
Que bom que gostou. Obrigada pelo comentário.
Que bom que gostou. Vole sempre. Toda quinta tem matéria nova no blog.
É diferente mesmo, Aline, e para você entender bem como funciona é legal assistir uma peça.
Que bom que gostou!
Sylvia, não sabia da existência do Teatro Oficina, você como sempre me surpreende.
Adoraria ver esse templo de rebeldia de perto. Mais um lugar pra botar na lista do que ver em São Paulo, quando for em abril
Hebe, o Teatro Oficina é ímpar. Não deixe de conhecer, de preferência em funcionamento. Vá assistir uma peça do Zé Celso.
Muito interessante a história do Teatro Oficina, no Bixiga! Eu nunca assisti a uma peça lá, mas depois de ler seu post, fiquei com vontade de conhecer o lugar! Parabéns pelo post!
Acho que não vai se arrepender. As peças são ótimas e o a Teatro Oficina é bem diferente de todos os outros. Vale a pena conhecer.
O teatro Oficina é um marco, uma referência, é história e conta história. Valeu pelo registro, Sylvinha!
É um marco sim, Soninha. Zé Celso e o Teatro Oficina mudaram a história teatro brasileiro.
Uau! Impactada pois nunca soube da existência desse espaço de rebeldia que hoje é palco de cultura e arte. Cuirosaaaaaa demais. Anotado aqui. Próximo passeio em Sampa.
Muita gente não sabe, principalmente quem não vive em São Paulo, porque é um espaço alternativo, mas o Tetro Oficina é um dos teatros mais importantes do Brasil