Gruta de Maquiné: um dos marcos da paleontologia brasileira

Tempo de Leitura: 5 minutos

Atualizado em 17/08/2024 por Sylvia Leite

Gruta de Maquiné - Foto de Sylvia Lete - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAEm um de seus contos mais famosos, intitulado “O recado do morro1, o escritor Guimarães Rosa disse o seguinte sobre a Gruta de Maquiné, que está localizada em Cordisburgo2, Minas Gerais, sua terra natal:

… ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja…

Quem já esteve na gruta, sabe que Rosa não exagerou. Mesmo com as passarelas criadas posteriormente para facilitar o trânsito dos turistas, e com a iluminação artificial – elementos estranhos que tiram parte da naturalidade do lugar – visitar Maquiné é entrar em um mundo encantado de formas e cores.

São sete salões repletos de esculturas naturais talhadas pela água, que parecem brotar do teto e do chão e são chamadas cientificamente de estalactites e estalagmites, além de outras figuras que lembram colunas, cascatas ou animais. Sua constituição teria ocorrido mais de 500 milhões de anos atrás, na Era Neoproterozóica, quando o local, que hoje é sertão, ainda encontrava-se no fundo do mar, ou de um lago.

A lenda da Gruta de Maquiné

Estalactites - Foto de Sylvia Lete - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAIsso é o que diz a Ciência, mas a beleza de Maquiné é explicada também por uma lenda que atribui a artistas anões a a autoria do espetáculo de cores e formas que a gruta oferece.

Conta-se que em um lindo bosque vivia um rei muito magro, magérrimo, que estava acostumado a ter tudo o que desejava e vivia exigindo de seus vassalos novas formas de diversão. Seus principais auxiliares eram o Gorducho, que o ajudava a locomover-se quando batia a fraqueza, e 13 anõezinhos artistas, que faziam música, pinturas, desenhos, esculturas e versos.

Chegou um momento em que o rei não se satisfazia mais com o trabalho dos anõezinhos e resolveu pedir ao mágico que apresentasse alguma novidade. A sugestão que recebeu foi que viajasse, mas como ele era muito magro, e concluiu que se viajasse iria emagrecer mais ainda, exigiu do mágico que encontrasse uma forma de se transportar sem fazer esforço.

Depois de muito tempo pensando e recebendo cobranças do rei, o mágico encontrou a solução: um espelho mágico capaz de transportá-lo a EStalactites - Foto de Sylvia Lete - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAqualquer lugar. Mas o mágico fez uma recomendação: o espelho tinha que ser muito bem cuidado durante as viagens porque se ele quebrasse o rei não conseguiria mais voltar para casa.

Ao saberem dos poderes mágicos do espelho, os anõezinhos e o Gorducho resolveram fugir do reino e no momento em que o rei ia iniciar sua primeira viagem, os catorze jogaram-se contra ele na esperança de irem também. Imediatamente, todos caíram em uma gruta.

Ao perceber que os anões e o Gorducho queriam fugir, o rei sacou sua espada para executá-los mas ao tentar atacá-los, o rei acabou quebrando o espelho e ninguém conseguiu mais voltar para casa.

Os anões, que eram artistas, juntaram-se ao Gorducho, que era forte, e começaram a abrir galerias e a decorar as paredes, pisos e tetos da gruta com pinturas e esculturas e foi assim que, segunda a lenda, nasceu a beleza da Gruta de Maquiné.

A descoberta da Gruta de Maquiné

A gruta foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, provavelmente um dos vários proprietários da região que buscavam grutas desconhecidas para extrair o salitre usado na fabricação de pólvora.Garganta na Gruta de Maquiné - Foto de Sylvia Lete - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Apenas nove anos depois, Maquiné começou a ser explorada cientificamente pelo naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que acabou se tornando o pai da Paleontolgia e da Arqueologia no Brasil.

Maquiné não foi a única gruta estudada por Lund, nem tampouco a primeira, mas certamente foi a que mais o impressionou, a julgar por esse conhecido comentário feito por ele: “A mais rica imaginação poética não saberia engendrar uma tão esplêndida morada para os seres maravilhosos; […] confesso que, seja quanto à natureza, quanto à arte, jamais contemplei algo tão maravilhoso”.

Conta-se que Lund chegou a morar dentro da caverna pelo período de dois anos e ali encontrou fósseis de aves gigantes e de diversos mamíferos, entre os quais se destacam Tigre Dente de Sabre (Smilodon Populator) e a Preguiça Pequena (Nothrotherium Maquinensis). Há duas hipóteses para a presença desses fósseis em Maquiné: os animais teriam entrado na gruta para fugir de predadores ou seus corpos teriam sido arrastados até ali pela água.

O zoológico de pedra

Escultura no Zoológico de Pedra - - Foto de Sylvia Lete - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Pelo menos alguns dos animais cujos fósseis foram encontrados na Gruta de Maquiné estão representados na Praça Octacílio Negrão de Lima, localizada no centro de Cordisburgo, que é conhecida também pelo nome de Zoológico de Pedra Peter Lund.

São apenas seis imagens feitas com tela, areia e cimento pelo artista Stamar Azevedo. O Zoológico de Pedra não é um espaço fechado como o nome pode sugerir. Sequer tem uma área exclusiva para suas esculturas, que convivem com árvores, um coreto e alguns equipamentos de ginástica. Mas impressiona pela surpresa de se encontrar espalhadas em uma praça, numa cidade do interior, esculturas de mamíferos que povoaram a nossa pré-história.3

Notas

Para saber mais

Cordisburgo – Minas Gerais – Brasil – América do Sul

Texto

Fotos

  • Sylvia Leite

Referências

  • Site oficial da Gruta de Maquiné (obs: site com problema de acesso)
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26 Comentários
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Margareth
5 anos atrás

Coisa linda!

Celia Regina Moraes Leme
5 anos atrás

Adorei a matéria e fiquei com vontade de conhecer essa gruta. Ainda mais com essa.historia e Guimarães Rosa circulando.Beijos

Celia Regina Moraes Leme
5 anos atrás

Adorei a matéria e fiquei com vontade de conhecer essa gruta. Ainda mais com essa.historia e Guimarães Rosa circulando.Beijos

Pablosz
5 anos atrás

Maravilhosa reportagem Silvinha !
Adorei !!!!
Beijos

Neilton Santana
Neilton Santana
5 anos atrás

Conheci a gruta na minha adolescência, não existia a atual infra-estrutura, era natural e linda. Não sabia a história da sua descoberta e tão pouco a lenda. Grato por me fazer lembrar de um lugar tão bonito.

Unknown
5 anos atrás

Amei.Vou compartilhar

Sidney Menezes
5 anos atrás

Execelente Silvinha como sempre.

Anônimo
Anônimo
5 anos atrás

Mais um fantástico texto sobre uma de nossas maravilhas da natureza. Parabéns Sylvia. Augusta Leite Campos.

Sabrina Albuquerque
Sabrina Albuquerque
3 anos atrás

Tenho memória afetiva da Gruta do Maquiné. Visitei o local na minha viagem de formatura. Vale muito a visita.

Cynara Vianna
1 ano atrás

Não tinha conhecimento sobre a Gruta de Maquiné, quantas maravilhas pouco divulgadas temos em nosso Brasil. Estamos com viagem marcada para Minas em poucos dias, pena que só descobri essa maravilha agora que já estamos com o roteiro fechado.

Marcella
Marcella
1 ano atrás

Eu queria muito ter ido a Cordisburgo em minha última viagem a MG, mas não consegui. Tenho muita vontade de conhecer a Gruta de Maquiné!!

Ana
Ana
1 ano atrás

Nunca tinha ouvido falar da Gruta de Maquiné, parece ser um passeio muito interessante.

PEDRO LUIZ DIVIDINO
PEDRO LUIZ DIVIDINO
1 ano atrás

Conheci a Gruta de Maquiné em 29/05/1975. Tenho fotos somente da entrada. Visitei somente o primeiro salão. Naquela ocasião não havia estrutura turística. Quando passei pela vila rapazes ofereceram partes de estalactites. Rejeitei e tive a certeza que faltava muito empenho para a sua preservação.