Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite
Era para ser apenas a ermida de um hospital, mas acabou se transformando em uma das igrejas mais bonitas de São Paulo. A capela de Santa Catarina de Alexandria 1 foi construída no estilo Neogótico e abriga afrescos, vitrais, esculturas e peças religiosas. Desde sua inauguração, sempre foi aberta ao público, com acesso independente, mas não são muitos os que costumam frequentá-la. Poucos também são aqueles que têm conhecimento do seu acervo artístico.
As obras de arte já começam a se apresentar na fachada, ao atingirmos as arcadas que separam o prédio do jardim. São cinco grandes afrescos pintados pelo artista italiano Marco Ulgheri, que contam a vida de Santa Catarina, e de sua fé inabalável diante da perseguição que sofreu por parte do imperador Maximino Daia. Dentro da nave, seis vitrais abordam temas como a criação do mundo, a paixão e morte de Jesus Cristo, a Santíssima Trindade, o sacramento da Eucaristia e a missão dos religiosos que são ordenados padres. Há, ainda, dois vitrais, na altura do presbitério, que homenageiam as santas Elizabeth e Valburga, ambas filhas de reis que se dedicaram à assistência social e a trabalhos de cura.
Faz parte do acervo da capela, uma pintura da Madre Regina Protmann, que era devota de Santa Catarina e criadora da congregação que leva o nome da santa. Seu retrato foi pintado pelo pintor especialista em Arte Sacra, Claudio Pastro, autor de diversas obras religiosas no Brasil e no mundo, entre as quais o monumento em honra a Nossa Senhora Aparecida, nos Jardins do Vaticano.
Além dos vitrais e pinturas, a Capela de Santa Catarina abriga, ainda, um pequeno acervo que inclui móveis, missais, objetos litúrgicos e um Harmônio fabricado em 1890 que era tocado pelas irmãs durante as celebrações. Entre os objetos históricos, destaca-se o conjunto de cálice e patena fabricados em 1920 e usado no ritual da Eucaristia.
Uma capela centenária
A Capela de Santa Catarina foi erguida em 1920, mas a congregação à qual pertence é bem mais antiga. Sua padroeira viveu no século 3, em Alxandria, no Egito. Era filha do rei Costus e converteu-se ao Cristianismo por influência da mãe, Sabinela, tornando-se uma religiosa erudita. Foi presa e decapitada a mando do imperador Maximo Daia, que tentou, sem sucesso, fazê-la desistir da religião e casar-se com ele.
A congregação de Santa Catarina de Alexandria foi criada em 1552, por Regina Protmann, nascida em Braunsberg – atual Braniewo – localizada em uma região que hoje pertence à Polônia. Regina quebrou padrões da época ao criar uma ordem feminina sem clausura e dedicada ao trabalho de assistência aos necessitados numa época em que, às freiras, cabia apenas a contemplação.
As irmãs da Congregação de Santa Catarina chegaram ao Brasil em 1897 com a missão de fundar um colégio para educar as filhas dos alemães que viviam em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. Pouco depois fundaram um hospital e a Irmã Beata Heinrich, que veio na mesma comitiva, foi encarregada de fazer o mesmo em São Paulo, o que só correu em 1906 com a ajuda do doutor Seng, que se tornou o diretor técnico do hospital.
O Sanatório Santa Catarina nasceu com apenas 40 leitos e, anos depois, durante as revoluções de 1924 e 1932, teria se transformado em asilo de refugiados e funcionado como banco de sangue”1, segundo relato da revista revista Ser Médico do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo – CREMESP. A Capela de Santa Catarina também teve um início modesto, ganhando a configuração atual ao longo do tempo. Os afrescos, por exemplo, só foram pintados em 1998.
Muito além da capela de Santa Catarina
Mas a capela não é o único patrimônio cultural do Hospital Santa Catarina. Na fachada do prédio existem 24 placas de bronze, instaladas em 2006, com textos e imagens em baixo relevo, que contam a história da Medicina e do Pensamento Humano. Os doze primeiros painéis – que devem ser observados da direita para a esquerda – relatam os acontecimentos médicos desde Antiguidade até o século 19. A série se completa com doze marcos da evolução das ciências da saúde a partir do século 20.
Alguns quadros mesclam ciência e religião com temas como “Medicina e vida pós-morte”, “Medicina, magia e religião” ou “Pecado e doença”. Outros registram marcos históricos como a “Invenção do microscópio”, a “Teoria da Evolução”, o surgimento da “Anestesia”, do “Antibiótico”, e da Psicanálise , além de outros mais recentes como “Transplante, “Tecologia Genética”, Robótica e Comunicação”, “Medicina Alternativa” e Ambientalismo.
Entre os registros mais antidos e os mais recentes, há medalhões com imagens dos fundadores do hospital: a irmã Beata Heinrich, o dom Miguel Kruse e o médico Walter Seng. Essa exposição permanente a céu aberto também foi concebida por Marco Ulgheri. Os textos foram escritos Eduardo Cury e a fundição coube a Diego M.Ortega.
Por contara história da Medicina e do Pensamento, a exposição permanente ao ar livre já constitui uma espécie de museu, mas o Hospital Santa Catarina abriga também um Museu Histórico que guarda a memória da instituição por meio de fotos antigas, objetos pessoais das primeiras irmãs da Congregação de Santa Catarina e instrumentos médicos, inclusive aqueles usados pelo doutor Walter Seng, um dos fundadores do hospital. A peça mais impressionante talvez seja uma machadinha que era usada em intervenções ortopédicas, mas há também um antigo aparelho de raio-x, e seringas de vidro.
Um oásis no deserto de concreto
O Hospital e a Capela de Santa Catarina estão localizadoa na Avenida Paulista, região central de São Paulo. No passado, sua vizinhança era formada pelas mansões dos barões do café, rodeadas de jardins. Hoje, o hospital e a capela estão cercados de prédios empresariais que, em sua maioria, não possuem qualquer área verde. O hospital, no entanto, apesar das mudanças por que passou desde sua inauguração, em 1906, mantém um enorme jardim que começa com um roseiral em frente à capela e se estende para a área da direita onde se encontram os alojamentos das irmãs.
São quase quatro mil metros quadrados, com cerca de 100 espécies vegetais, incluindo orquídeas, jasmins, gardênias e 180 árvores, além de sete espécies de aves. Uma gruta, rodeda por um lado de carpas, sustenta a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. E apesar de pertencer a um o jardim, assim como a capela e o museu, está aberto ao público, mas é preciso chegar os horários de visita. No momento, está fechado por causa da pandemia.2
Notas
- 1 Alguns confundem Santa Catarina de Alexandria com Santa Catarina de Sena, que viveu cerca de mil anos depois
- 2 Citação publicada pelo site Apartamento 203
- 3 Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais de São Paulo: Minhocão / Theatro Municipal / Estação Júlio Prestes e Sala São Paulo / Bixiga / Teatro Oficina / Galeria do Rock / Vila Itororó / Liberdade / Beco do Batman / Cemitério da Consolação / Parque Augusta / Pavilhão da Bienal / Parque Savóia / Parelheiros, Marsilac e Bororé
Capela de Santa Catarna – Hospital Santa Catarina – Avenida Paulista – São Paulo – São Paulo – Brasil – América do Sul
Fotos
- Sylvia Leite
Referências
- Site oficial do hospital
- Site da Associação Congregação de Santa Catarina
- Site Apartamento 203
Que descoberta! Sempre pensei que aquele prédio remanescente cor de mostarda fosse um colégio antigo. Dou sempre meu giro por alí Mas agora estou muito curiosa e minha próxima ida a São Paulo irei lá… lá vou repassar pra uma amiga que mora aqui e lá e vive atrás de coisas clássicas, de música a objetos e prédios!
É uma descberta mesmo. Eu também não sabia. Não tem muita divulgação. Mas vale a pena. Sua amiga vai gostar. Aproveite diga a ela que no blog tem muitas matérias sobre São Paulo.
Quanta beleza revelada em seu texto, Sylvinha!
Morei em SP tanto tempo e não tinha conhecimento do acervo cultural por trás daquelas paredes…
Bjs
Eu também demorei muitos anos ara descobrir, Val. São Paulo é assim, cheia de preciosidades escondidas.
Mais uma maravilha que você me apresenta. Preciso conhecer.
Muito obrigado Sylvinha.
Você ai gostar,Joaquim!
Nada como um olhar mais cuidadoso para descobrir toda a beleza dessa capelinha tão linda do Santa Catarina! Sempre apreciei essa igrejinha, nas minhas idas ao hospital, mas nunca dei a devida atenção. Agora, com seu olhar, estou vendo a preciosidade que é. Vou ser mais atenta com tudo à minha volta, com certeza.
Da próxima vez que vier a São Paulo, dê um pulinho lá. Vai gostar.
Aquele espaço é mesmo uma clareira em meio á selva de pedra. Estive em visita só hospital quando nasceu minha primeira neta, Anna Beatriz. Depois de minha neta, toda aquela arquitetura foi a coisa mais linda que vi em São Paulo. Não pude entrar na capela, mas percebi o quão importante era ela, na composição daquele ambiente.
Harmonia e estilo chamavam a atenção de qualquer um.
Que bacana, José Nivaldo, você conhecer essa linda capela justo no nascimento de sua neta!
Incrível descoberta, Sylvia, já estive no hospital mas é um local onde o objetivo é muito focado e se vc não tiver já um conhecimento, não tem “esse olhar “ . Legal
Mas é isso mesmo, Aninha. Acho que muitos desses lugares históricos ou arqueológicos ganham alma quando a gente tem conhecimento anterior.
Linda e maravilhosa a Capela de Santa Catarina na Av. Paulista. Eu ainda não tive a oportunidade de conhecer e agora vendo tanta beleza na arte e arquitetura, me deu muita vontade.
A Capela de Santa Catarina é linda mesmo. Sempre que passo por esse trecho da Paulista fico admirando.
Adoro a Capela. Sou devota de Santa Catarina, como minha mãe era. Já fui operada no hospital e dois netos nasceram na época da maternidade. Sempre q posso vou a capela e recomendo a todos, o local é lindo e reconfortante.
É linda a Capela de Santa Catarina, não é?
Qual o horário para visitação? alguém sabe informar?
Jane, sugiro que telefone para o hospital perto do dia que pretende fazer a visita porque pode haver mudanças. Os telefones são 3016-4374/4357/3803.