Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
Atualmente, a Abadia de Westminster, em Londres, é vista pelo mundo como o cenário de coroações e casamentos da monarquia inglesa. É conhecida, também, como um lugar que abriga túmulos de gente famosa, como escritores 1 e cientistas 2, ou foi cenário de cerimônias póstumas de políticos, nobres e monarcas, entre eles a rainha Elizabeth e a princesa Diana. Mas isso é apenas uma pequena parte do acervo material e imaterial que a construção vem acumulando, há séculos. Além de sua linda arquitetura e de muita história, a abadia abriga também lendas e mistério.
Acredita-se que sua construção tenha como referência inicial a uma visão sobre-humana de São Pedro. O santo teria aparecido a um jovem pescador de salmão do rio Tâmisa – chamado Aldrich – e ordenado a criação de uma igreja naquela área. Segundo a lenda, isso ocorreu por volta do ano 615. Mais de três séculos depois, não se sabe se na década de 960 ou na seguinte, foi instalada no local uma comunidade de monges beneditinos que permaneceu ali por seis séculos, até sua dissolução, em 1539. O responsável pela criação do mosteiro tinha sido o abade Dunstano da Cantuária, mais tarde canonizado pela Igreja Católica.
Provavelmente por causa da lenda, o nome oficial da abadia é Igreja Colegiada de São Pedro em Westminster. E talvez tenha sido pelo mesmo motivo, que os pescadores do rio Tâmisa passaram a oferecer, anualmente, um salmão à abadia – uma tradição secular hoje mantida pela Companhia de Peixarias. Outra lenda, talvez um pouco menos divulgada, vincula a Abadia de Westminster à Virgem Maria. Tempos antes da visão do pescador, haveria no local um culto à deusa-mãe e o bispo de Londres, Melito de Cantuária, teria sonhado com a Virgem que lhe pedia a substituição do santuário por um templo cristão. Não se sabe se em função da lenda, mas a abadia é consagrada também a Santa Maria. Sua imagem, com o Menino Jesus ao colo está na entrada Norte do templo e, no século 16, a Santa ganhou uma capela na abadia.
Entre as lendas que habitam a Abadia de Westminster, há uma que envolve o rei Henrique IV e tem caráter premonitório. Diz a narrativa que pela previsão dos astrólogos da corte, sua morte ocorreria em Jerusalém. Para fugir à profecia, o rei jamais visitou aquela cidade. Mas a abadia tem um cômodo denominado Câmara (ou sala) de Jerusalém e teria sido nesse local que o monarca teve um mal súbito e faleceu, em 1413.
Pedra de Scone: a joia de Westminster
Mistérios também não faltam na Abadia de Westminster. Talvez o maior deles seja a origem e o significado de uma pedra que permaneceu por séculos sob o assento do trono em que eram feitas as coroações dos reis britânicos. O costume nasceu na Escócia e foi levado à Inglaterra por Eduardo I, o Confessor. Embora se trate de uma simples placa de arenito, a Pedra de Scone sempre foi cultuada como uma relíquia, não apenas pela tradição, mas também pela crença de muitos em seus poderes mágicos, que seriam transmitidos aos monarcas no momento da coroação.
A falta de registros históricos sobre sua origem dá margem a inúmeras lendas. A mais tradicionalmente aceita afirma que se trata da mesma pedra citada no capítulo 28 do Gênesis. De acordo com a narrativa bíblica, Jacó adormeceu no deserto, perto de Betel, usando uma pedra como travesseiro, e sonhou com uma escada que alcançava o céu, por onde os anjos subiam e desciam. De acordo com a lenda, os filhos de Jacó levaram a pedra para o Egito. De lá, a relíquia teria passado pela Espanha e pela Irlanda, até finalmente chegar à Escócia, onde passou às mãos de Eduardo I.
Depois de sete séculos na Inglaterra – período em que os escoceses nunca aceitaram sua ausência – a Pedra de Scone foi devolvida a Escócia pelo governo inglês. Para admirá-la, é preciso ir ao Castelo de Edimburgo, mas sua história permanece viva em Westminster, assim como a cadeira que Eduardo, o Confessor, mandou fazer para abrigá-la, exposta na capela de São Jorge e ainda em uso nas coroações.
A Casa do Capítulo
Os encantos da Abadia de Westminster vão muito além do que é possível registrar em uma matéria jornalística. Podem preencher um livro inteiro, ou vários livros, e é difícil escolher o que destacar, assim como é difícil escolher o que visitar caso não haja tempo para tudo. Mas, certamente, a Casa do Capítulo é um dos lugares que merecem ser priorizados. Seja por sua arquitetura, seja pela importância funcional e simbólica que teve ao longo dos séculos.
Era na Casa do Capítulo que os monges faziam suas reuniões diárias com o abade para tomar decisões, ler e rezar. Foi também ali que se reuniram o Grande Conselho do Rei, em 1257, marcando o início do Parlamento Inglês. O lugar também foi usado para reuniões da Câmara dos Comuns – precursora do parlamento atual.
A sala tem formato octogonal, com assentos para oitenta pessoas. Suas abóbadas são sustentadas por oito arcos que partem de um eixo central e a parte superior das paredes está em grande parte tomada por vitrais. Sob os arcos que ficam logo abaixo, há pinturas com cenas do Apocalipse.
Uma frase, escrita em latim nos ladrilhos medievais que compõem o piso, dá ideia da importância dessa sala para a abadia e da abadia para os ingleses: “Assim como a rosa é a flor das flores, esta é a casa das casas”. A frase suscita também interpretações esotéricas que coincidem com afirmações, feitas a boca
miúda, segundo as quais a cripta do capítulo, que também tem formato octogonal, seria um local de reuniões secretas para a realização de meditações e exercícios espirituais.
O piso Cosmati de Westminster
Embora a Casa do Capítulo seja o local onde supostamente eram realizadas tais práticas, os defensores dessa tese afirmam que é no piso em mosaico localizado diante do altar-mor – e denominado Pavimento Cosmati –, onde se encontra a maior prova da existência de uma tradição esotérica na Abadia de Westminster. Nele estariam impressas figuras geométricas que compõem o tratado alquímico medieval “Livro do Segredo dos Segredos” (Liber Secretum Secretorum), considerado um dos mais importantes da Alquimia.
O painel é formado por retângulos e círculos que, juntos, somam 33 – a idade de Cristo ao ser crucificado. Os retângulos impressos nas laterais coincidem em número com as portas da Jerusalém Celeste que, por esse simbolismo, pode ser acessada pelo altar-mor de uma igreja e os círculos posicionados entre eles seriam uma representação dos cinco elementos naturais considerados pela alquimia: Água, Terra, Fogo, Ar e Éter. Esse último, também chamado de quinto Elemento ou Akasha, seria a quintessência a partir da qual se fabrica a Pedra Filosofal. A mesma quintessência estaria representada, ainda, pela cor azul do globo central.
Oficialmente, o Piso Cosmati tem aspecto distinto de outros mosaicos da época apenas pelo fato de ter sido feito pela família de artesãos que lhe dá nome. Os Cosmati dedicaram-se durante quatro gerações à uma decoração geométrica usada principalmente em pisos de igrejas, utilizando pequenas peças cortadas em forma de triângulos e retângulos, diferindo, assim, do mosaico romano que utilizava peças quadradas e do mesmo tamanho. Mas entre os desenhos usados por eles, estavam padrões geométricos de origem islâmica, mais precisamente das ordens sufis que constituem o braço esotérico do Islã3, o que poderia reforçar a tese da existência de práticas iniciáticas na Abadia de Westminster.4
Notas
- 1 William Blake, Charles Dickens e T. S. Eliot i2=
- 2 Leia, também, sobre outros monumentos históricos da Europa: Torres de Sevilha / Pantheon / Ponte Vecchio / Cisterna da Basílica / Santa Sofia / Estação de São Bento / Fontana di Trevi
- 3 Leia, aqui no blog, a matéria Padrões geométricos: a oração visual dos sufis
Para saber mais
- Descubra outros atrativos da capital inglesa na postagem Amazing Londres do blog Olívia Garimpando Por Aí
Abadia de Westminter – Londres – Inglaterra – Reino Unido – Europa
Fotos
- (1) Dimitris Vetsikas por Pixabay
- (2) Hulki Okan Tabak por Pixabay
- (3,5) Site Abadia de Westminster
- (4) Aiwok com cortes nas partes superior e inferior
Referências
- Site da Abadia de Westminster
Para saber mais
- Descubra outros lugares especiais na postagem sobre O que fazer em Londres, do blog Across The Universe
- E para conhecer as 30 principais atrações de Londres, acesse o blog Turismo de Peimeira
Solo estuve x fuera y es extraordinaria construcción q tu describes maravillosamente como para completar casi una vidita x ahi. Gracias Sylvia continua con ka tarea de comunicar!!
Obrigada, Elisa. Bom saber que gostou. Volte sempre. Toda quinta Tem matéria nova no blog.
Realmente, a abadia é extraordinária. A primeira vez que visitei, foi com a escola, quando fiz intercâmbio, e lembro que passamos muitas horas por lá. Um guia nos acompanhou e eu saí encantada com a visita, com a história e a riqueza de detalhes, os mistérios e a beleza arquitetônica. Belo tema, adorei! Beijão.
Que bom que gostou, Soninha! Obrigada pelo comentário.Beijo
Queria voltar lá, Sylvinha, depois de ler sua rica descrição. Acho que não fiz a visita minuciosa que Westminster merece. Vou ter de buscar uma visita virtual, já que turismo agora é um sonho difuso…
Westminster é como os grandes museus. Tem que ser visitada várias vezes. Obrigada pelo comentário.
A abadia foi um dos passeios que mais gostei de visitar em Londres, ela realmente acumula muita história, é um local digno de visitação e contemplação!
Sim, e de voltar muitas vezes porque você sempre vai descobrir algo que ainda não viu.
Eu amei saber mais sobre Westminster: uma abadia que acumula história e mistério, já estive por lá, é um lugar maravilhoso, encantador, suntuoso, mas eu desconhecia quase tudo que você contou aqui! Agora quero voltar para reparar nesses detalhes.
Tenho muita vontade de conhecer a Abadia de Westminster. Adorei ler sobre sua história e seus mistérios
Que bom que gostou, Angela. Toda quinta tem matéria nova aqui no blog. Acompanhe!
É bom quando a gente tem informação sbre o que está vendo, não é? Parece que as coisas ficam mais bonitas porque ganham significado.
Como é impressionante a Abadia Westminster. Conhecer através de seu texto, todos os detalhes e curiosidades, já é um apanhado maravilhoso do que conhecerei pessoalmente. Adorei!
Que bom que gostou e que vai servir para tornar sua visita mais completa. Fico feliz quando isso acontece.