Cisterna da Basílica: água e histórias sob o chão de Istambul

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 03/11/2024 por Sylvia Leite

Cisterna da Basílica - Foto Claudia Beyli por Pixabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIATempos atrás, quem visitava a Cisterna da Basílica, em Istambul, podia circular em barcos a remo entre suas colunas de mármore. Hoje em dia, o percurso é feito a pé, por cima de plataformas de madeira. É claro que o sistema anterior era mais poético e imersivo, mas a mudança não tirou o encanto da visita. Passear por essa alameda subterrânea continua sendo uma experiência única que nos transporta para cerca de 1.500 anos atrás, época do Império Bizantino.

Cisterna da Basílica - Foto Niek Verlaan por Pixabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAFoi naquele período, mais precisamente no ano 542 [1] século 6, quando Istambul ainda se chamava Constatinopla, que o imperador Justiniano I mandou construí-la embaixo de uma basílica – essa é a razão do nome – a fim de armazenar água para o Palácio Imperial e outros importantes edifícios. A Cisterna da Basílica é a maior entre centenas de reservatórios que teriam sido cavados na mesma época. O objetivo desses enormes tanques subterrâneos era garantir o abastecimento caso invasores destruíssem o Aqueduto de Valente que transportava para a cidade a água coletada na vizinha Floresta de Belgrado.

A Cisterna da Basílica, ou Yerebatan Sarniçi, em turco, ocupa uma área de aproximadamente 9.200 metros quadrados e tem capacidade para 30 mil [2] metros cúbicos de água – o equivalente ao conteúdo de 27 piscinas olímpicas. Foi utilizada por vários séculos, mas acabou abandonada pelos Otomanos que tinham um sistema próprio de abastecimento. Seu ressurgimento, mais de cem anos depois, foi envolvido em curiosas histórias e lendas.

Cisterna da Basílica - Foto 2427999 por Pixabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIACuriosidades e mitos

A primeira delas diz respeito à própria redescoberta do reservatório que foi feita por um estrangeiro, a partir de fatos rotineiros da cidade. O pesquisador e topógrafo francês Petrus Gyllius (ou Pierre Gilles), enviado a Istambul pelo rei Francisco, da França, em busca de manuscritos antigos, percebeu que os moradores do distrito de Eminönü – onde se localizam outas construções históricas como a basílica Hagia Sofia – , retiravam água de buracos abertos em seus porões e, algumas vezes, chegavam até a pegar alguns peixes. Intrigado, Gyllius resolveu investigar de onde vinha aquela água e acabou descobrindo a cisterna.

Outas histórias e lendas relacionam-se ao fato de duas das 336 colunas que dão sustentação à cisterna estarem pousadas sobre blocos de pedra esculpidos em forma de Medusa – o monstro da mitologia grega que tem cobras no lugar dos cabelos. Para alguns, isso se deve apenas ao aproveitamento de peças retiradas de templos demolidos e não têm qualquer significado. Mas muitos acreditam que as medusas não estão ali por acaso.

Cisterna da Basílica - Foto Ank Kumar, em Wikimedia Commons- BLOG LUGARES DE MEMÓRIANa Antiguidade, os guerreiros temiam essa figura mitológica capaz de transformar em pedra aqueles que olhassem diretamente para ela. O mito tem várias versões, mas todas elas emprestam à Medusa um sentido de proteção. Sua imagem costumava ser pintada ou esculpida nos tetos dos templos gregos com o propósito de espantar os maus espíritos. A palavra Égide, usada especialmente em linguagem jurídica com o significado de amparo, vem do vocábulo grego Aegis – nome do escudo da deusa Atena que tem como principal elemento a cabeça da Medusa.

As cabeças da Medusa

Por cCisterna da Basílica - Foto Metehan Tanrıverdi por Pixabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAausa dessas crenças, há quem diga que as duas esculturas foram colocadas na cisterna para proteger o lugar de invasores. Outros acreditam que o objetivo é espantar os monstros subterrâneos. Mas a Medusa é personagem da Mitologia Grega e a cisterna foi construída por bizantinos.

Uma hipótese que pode parecer mais coerente é a de que as cabeças tenham sido colocadas ali, espremidas embaixo das duas colunas, e em posições alteradas – uma deitada e outra de ponta cabeça – para mostrar a força da fé cristã sobre o mito. Mas a verdade é que ninguém sabe explicar a presença dessas imagens na cisterna.

Seja qual for o motivo, ou a falta dele, as esculturas tornaram-se uma atração a parte para os visitantes e um ponto de referência para seus rituais de desejo e agradecimento, tanto que sob as águas se pode ver o brilho das moedas atiradas por eles.

Mas apesar do sucesso das cabeças de medusa, o que realmente impressiona na visita é a própria cisterna: uma alameda subterrânea com 12 fileiras de colunas envoltas por uma luz misteriosa, dentro de um ambiente úmido e frio, capaz de nos roubar a noção de tempo e espaço e de nos fazer viajar pela rica história de Istambul. [3]

Notas

Cisterna da Basílica – Sultanhammed – Istambul – Turquia

Texto

Fotos

  • (1) Claudia Beyli por Pixabay
  • (2) Niek Verlaan por Pixabay
  • (3) 2427999 por Pixabay
  • (5 e 6) Ank Kumar em Wikimedia Commons - CC BY-SA 4.0 / Wikimedia Commons CC BY-SA 4.0
  • (7) Metehan Tanrıverdi por Pixabay

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Marcelo
3 anos atrás

Excelente matéria,já estive lá, parabéns Silvinha.

sonia pedrosa cury
3 anos atrás

Essa cisterna é, mesmo, surpreendente! Além do ar de mistério, essas cabeças maravilhosas de medusa, que nos transportam no tempo. Visitá-la foi uma experiência maravilhosa! Adorei o texto e a história. Parabéns, Sylvinha!

dih
3 anos atrás

Que lugar incrível. Com certeza visitarei a cisterna da Basílica quando for para lá! Demais!

Cintia Vaz
Cintia Vaz
3 anos atrás

Nossa fiquei completamente encantada com tamanha beleza! As cabeças de Medusas realmente são muito curiosas mas a vista da cisterna da basílica é realmente impressionante. Eu creio que seja possivel terem reaproveitado as pedras, e também creio que seja possível a opressão da igreja sobre o paganismo. Acho as 2 opções possíveis, inclusive a última mais possível ainda.

Adalton Martins
3 anos atrás

A Turquia deve ser incrível! Muito interessante essas informações sobre a Cisterna da Basílica.

Angela Beatriz Camara Martins
3 anos atrás

Meu sonho é conhecer a Turquia . Achei super interessante essa Cisterna da Basílica Sultanhammed Istambul deve ser incrível!

Aline Laudelina Pires
3 anos atrás

Que curioso esse caso das cabeças das medusas, seguindo a linha de quem construiu acho bem forte a história de querer mostrar a força cristã sobre a crença da mitologia, mas nunca iremos saber kkk

normeide carvalho
normeide carvalho
2 anos atrás

Já tive oportunidade de visitar a Cisterna da Basílica em Istambul, e fiquei muito impressionada, mas bom mesmo é ler sobre isso no seu texto e ficar bem informada sobre toda a história. Mais uma vez, obrigada por isso.

Deyse
Deyse
2 anos atrás

Estou impressionada com a beleza e imponência deste local. Sonho tanto em conhecer Istambul e espero que seja logo! Obviamente que a Cisterna da Basílica estará em meu roteiro. Amei saber da água e histórias sob o chão de Istambul.

Cynara Vianna
2 anos atrás

Tenho muita vontade de conhecer Istambul, é uma cidade que chama muito minha atenção por sua história como também pela localização. Fiquei bem curiosa para conhecer essa cisterna da basílica, deve ser uma experiência incrível.

Marcela
Marcela
2 anos atrás

Que incrível a história da cisterna da basílica! Vou para Istambul esse ano e quero conhecer sem falta. Obrigada por compartilhar

ANGELA MARTINS
ANGELA MARTINS
2 anos atrás

Eu não conhecia essas historias sobre a Cisterna da Baíilica de Istambul. Que incrível! Um destino que me encanta.

ALEXANDRA MORCOS
ALEXANDRA MORCOS
1 ano atrás

Eu estava louca para visitar a Cisterna da Basílica em Istambul, mas fui lá no ano que passou e a fila gigantesca me desanimou. Espero ter novamente a oportunidade de voltar lá e visitar essa preciosidade!

Clau Parra
3 meses atrás

Mais um lugar que deve ser incrível e parada obrigatória de conhecer na Turquia. Parabéns pelo belo material.

Cintia Grininger
Cintia Grininger
3 meses atrás

Que interessante a história da cisterna da Basílica! Sempre me impressiona a descoberta por acaso de construções antigas como ela, que resistiram ao tempo e ao abandono.