Estação de São Bento: um museu com portas abertas

Ao mergulharmos nos detalhes, descobrimos que há ainda uma forte identificação temática entre grande parte das pinturas e a destinação do prédio. A maior evidência dessa conformidade está no friso colorido que percorre toda a extensão do hall contando a história dos meios de transporte – desde carros romanos puxados por cavalos ou bois até o surgimento das ferrovias. Já a parede frontal da estação exibe estreitos painéis verticais, no curto espaço entre as portas, com motivos ferroviários como locomotivas, bandeiras, relógios e sinetas.

A temática da viagem está presente, também, em parte dos painéis em tons de azul, que tomam a maior parte das paredes. Nesse caso, entretanto, o foco não está mais no meio de transporte, mas na apresentação da região ao visitante. Essas pinturas reproduzem paisagens e cenas do cotidiano regional como a ‘Azenha do Rio Douro’, a ‘A Ceifa’, ou a “Vindima de Enforcado’; além de eventos religiosos como a ‘Romaria de São Torcato’, em Guimarães, e a Procissão de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego.

Seguindo a tradição da maioria dos prédios portugueses decorados com azulejos na mesma época, os painéis principais da Estação de São Bento são dedicados a cenas históricas, que registram desde batalhas, como a ‘Conquista de Ceuta’, até acontecimentos da realeza como o ‘Casamento de D João I com D. Filipa de Lencastre’. Restam, ainda, painéis alegóricos coloridos que aludem a disciplinas econômicas como ‘Comércio’, ‘Agricultura’ e ‘Indústria’; ou culturais, como Belas Artes e Literatura; ou climáticas, como as estações do ano.

Algumas cenas chamam muita atenção por exibirem elementos incomuns. Caso do painel que retrata a procissão de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, na qual o andor, tradicionalmente carregado por fiéis, é conduzido por um carro de bois. E o mais curioso é que a substituição dos fiéis por bois não é uma ‘licença poética’ do artista e sim o registro de uma tradição local.

De convento a estação

A história da ‘Estação Ferroviária de Porto – São Bento’ vai muito além dos fatos que envolvem seu projeto e construção. Começa mais de um século antes – quando havia um convento no lugar onde a estação seria construída – passa por acontecimentos históricos da cidade e se conclui com o talento dos dois artistas encarregados de seu projeto e decoração.

Anteriormente, o Porto possuía uma importante estação localizada na freguesia de Campanhã, na periferia da cidade.  A necessidade de estender o transporte até o Centro fez com que, em 1888, fosse autorizada a obra de uma nova estação no lugar do Convento Beneditino das Freiras de São Bento de Avé Maria.

Segundo algumas fontes, o que possibilitou a demolição do convento para dar lugar à estação foi uma Lei, promulgada em 1834, que decretava a extinção das ordens religiosas. A demolição teria demorado porque, de acordo com essa Lei, as ordens masculinas deveriam ser eliminadas de imediato, mas as femininas só poderiam ser efetivadas depois da morte da última freira. Outras fontes históricas ignoram a existência de tal Lei e atribuem o atraso a disputas judiciais entre a ordem religiosa e a empresa construtora ou o próprio Estado.

Estação de São Bento: uma das mais belas

Com o passar dos anos, a beleza da Estação de São Bento tornou-se cada vez mais admirada e ganhou fama internacional. Hoje, além de cumprir o seu papel principal, essa estação é uma das mais visitadas e fotografadas do mundo e, em 2001, foi classificada pela revista norte-americana de turismo e lazer Travel+Leisure como uma das 16 estações mais belas em uma lista que inclui a Gare du Nord, em Paris, Atocha, em Madrid, e a de S. Pancras, em Londres.

Faz parte da rotina da estação ser cenário de filmes, séries televisivas e, vez por outra, de eventos surpresa. O de maior repercussão até o momento foi o da banda britânica James, que pretendia realizar um miniconcerto de no máximo meia hora para divulgar os shows que faria em Guimarães e Lisboa, mas a estação ficou lotada e o espetáculo se estendeu por uma hora.

O fantasma da Estação de São Bento

Além das histórias que protagonizou desde o início de sua existência, a Estação de São Bento está vinculada também a pelo menos uma lenda: a do fantasma da abadessa.

Conta-se que a última abadessa do convento que antecedeu ao prédio da estação, Maria da Glória Dias Guimarães, demorou cerca de 58 anos para morrer e, com isso, permitir a extinção da ordem e a substituição do prédio por uma estação.

Acredita-se, então, que sua alma, ou seu fantasma, por ter vivido tanto tempo no convento, tenha se vinculado ao local e continue vagando pelos corredores da estação. Essa história é contada até hoje e não são poucos os que dizem ouvir suas orações nas horas de menor movimento dos trens.1

Estação de São Bento – Porto – Portugal – Europa