Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
Todos que foram à escola no Brasil tiveram a oportunidade de aprender, e muitos jamais esqueceram, que, em 22 de abril de 1.500, o português Pedro Álvares Cabral chegou com sua esquadra a Porto Seguro e isso marcou o início de nossa colonização pelos europeus. O que muitos livros não enfatizavam – ou talvez simplesmente isso não tenha chamado nossa atenção – é que aquelas embarcações saíram de uma praia chamada Restelo, à margem do rio Tejo, hoje transformada no famoso bairro de Belém, em Lisboa.
Na época das grandes navegações, Belém teria sido uma espécie de distrito independente, ocupado inicialmente por pescadores, depois por agricultores mouros e, finalmente, por famílias da nobreza que usavam o local como residência de recreio ou para fugir do que consideravam a ‘bagunça de Lisboa’. Hoje, mais de cinco séculos depois, Belém está integrada à capital portuguesa e reúne alguns dos mais importantes monumentos de Portugal.
Belém guarda a memória dos ‘descobrimentos’
A construção que relembra as grandes navegações ainda é jovem, foi construída em 1960, mas suas raízes são bem antigas. O primeiro projeto, não concretizado, foi elaborado pelo arquiteto e cineasta Cottinelli Telmo, que viveu entre o fim do século 19 e a primeira metade do século 20. Em 1940, foi inaugurada uma primeira versão em materiais perecíveis, desmontada 18 anos depois.
A ideia inicial era homenagear o infante Dom Henrique, da Escola de Sagres, considerado o grande mentor das viagens marítimas, mas a demora na concretização do projeto fez com que outros navegadores ganhassem importância e o monumento atual homenageia 32 deles, inclusive de Pedro Álvares Cabral.
Dentro da caravela estilizada com imagens de Dom Henrique e seus seguidores, há um auditório, salas de exposição e um mirante. Do lado de fora, o piso é decorado com uma Rosa dos Ventos de 50 metros de diâmetro, desenhada no ateliê de um dos pioneiros da arquitetura modernista em Portugal, Luís Cristino da Silva.
Embora o Padrão dos Descobrimentos seja o que mais diretamente nos diz respeito, o mais famoso, mesmo entre brasileiros, talvez seja a Torre de Belém, inaugurada em 1.520, depois de seis anos de construção. Seu projeto fez parte de um plano de defesa da barra de Lisboa elaborado, antes de 1.500, pelo rei Dom João II, e que envolvia outras duas fortalezas – o baluarte de Cascais e a fortaleza de S. Sebastião da Caparica, na outra margem do rio – , mas sua execução só foi iniciada em 1514, sob o reinado de Dom Manuel.
A Torre de Belém substituiu uma nau ancorada permanentemente no Tejo, no lugar de onde partiam as frotas para as Índias. Com o passar do tempo, o prédio perdeu a função de fortaleza e passou a ser usado para vários outros fins, como escritório aduaneiro, central de correios, farol e até cadeia para presos políticos. Foi tombada pelo governo de Portugal e recebeu o título de Patrimônio da Humanidade, concedido pela Unesco. Hoje está aberto à visitação e oferece uma das mais belas vistas do Tejo.
Mosteiro dos Jerônimos
Iniciado na mesma época que a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos levou cerca de cem anos para ser concluído e é hoje considerado a “joia” do estilo manuelino – caracterizado por misturar elementos diversos, especialmente góticos e renascentistas, e por ser uma expressão exclusiva de Portugal no período em que foi governado por Dom Manuel.
Quando o infante Dom Manuel pediu autorização à Santa Sé para construir o mosteiro, já havia ali uma igreja, a Ermida de Santa Maria de Belém, onde os grandes navegadores rezavam antes de partir para suas viagens. É na igreja do Mosteiro, que conserva o mesmo nome de quando era apenas uma capela, que estão enterradas figuras famosas como o navegador Vasco da Gama. E entre os que tiveram esse privilégio, encontram-se também dois escritores: Luís de Camões e Fernando Pessoa.
O Mosteiro dos Jerônimos é, ainda, o berço de um dos ícones mais representativos de Portugal: os deliciosos Pastéis de Belém.
Pastéis de Belém: um segredo secular
A receita original dos pastéis, que permanece guardada a sete chaves há mais de 200 anos, foi inventada pelos monges do mosteiro. Diz a lenda – ou a história não escrita – que essa era a forma encontrada por eles para aproveitar as gemas que sobravam da fabricação de hóstias, feitas com farinha de trigo e clara de ovo. E há quem diga, também, que as gemas sobravam do uso de claras para engomar as golas dos trajes religiosos.
Os pastéis eram colocados à venda em uma pequena casa de comércio que funcionava dentro de uma usina de cana-de-açúcar, ao lado do Mosteiro, mas somente os monges conheciam a receita. Quando veio a Revolução Liberal do Porto, todos os mosteiros de Portugal foram extintos e, talvez pelas mãos de um ex-monge, a receita secreta foi parar nas mãos do proprietário da loja. Aí começa a história oficial dos atuais Pastéis de Belém, que atraem turistas do mundo inteiro.
No próprio bairro e em várias partes de Lisboa, de Portugal e do resto mundo, existem pastéis de nata portugueses, talvez igualmente saborosos, mas os detentores da receita dos Jerônimos garantem que há uma grande diferença entre esses e os originais.
Seja pelo paladar ou por simples ‘fetiche’, o fato é que turistas de toda parte enfrentam enormes filas para saborear os pastéis produzidos a partir da receita secreta dos monges e há quem diga que a loja produz cerca de vinte mil pastéis por dia. Conscientes da preciosidade que detêm, e do encantamento que provocam, os proprietários da loja se recusam a abrir filiais ou franquias.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre Portugal: Ponte 25 de Abril / Azulejos Portugueses / Guimarães / Óbidos / Santuário de Fátima/ Palácio da Pena / Estação de São Bento / Capela dos Ossos / Livraria Lello
Para saber mais
- Se você está buscando informações sobre o que fazer na capital portuguesa, leia as dicas do blog Existe um lugar no mundo, na matéria Lisboa: três roteiros para as melhores atrações
- Para mais dicas sobre Belém, leia o texto o que fazer no bairro histórico de Lisboa, no blog Rotina Viajante
- E para saber como montar um roteiro de viagem pela Europa, acesse o blog Destino Compartilhado
Belém – Lisboa – Portugal – Europa
Fotos
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Referências
- Site Unesco
- Site Patrimonio Cultural de Portugal
- Site Mosteiro dos Jerònimos
É mesmo deslumbrante esse conjunto arquitetônico! Gostaria de retornar à terrinha…
Amei a matéria, Sylvinha
Bjs,
Val Cantanhede
O nosso comecinho..lindamente retratado por vc, Sylvinha! Parabéns!
Que bom! Obrigada, Val, bjs
Ô cantinho legal Silvinha. Beijos.
É muito legal mesmo. Me lembra a Ribeira, em Salvador.
Sim, Soninha, nosso comecinho com os portugueses, mas antes disso já havia vida e cultura por aqui. Obrigada pelo comentário, beijos!
Já estive aí. Espetacular. E o pastel de Belém é delicioso. Sempre fresquinho e quentinho.
Pena que você não se identificou. Obrigada de qualquer forma.
Que delícia que foi ler esse post. Um dos locais que mais em Portugal foi Belém. Cada local mais lindo que o outro. Nosso ponto zero em Portugal foi super bem retratado aqui por você, parabéns!
Obrigada, Hebe. Bom saber que gostou. Volte sempre.
Que texto incrível Belém marco zero de nossa história! Estou louca pra conhecer Belém!