Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite
Quando alguém se refere à Fontana di Trevi, na Itália, como um monumento cinematográfico, é possível que esteja exaltando sua beleza e grandiosidade. De fato, se trata da maior, e mais importante, entre as cerca de 2.500 fontes de Roma. Mas isso não é tudo. Os apaixonados por cinema sabem que a expressão não é apenas metafórica, pois a famosa fonte romana foi imortalizada, em 1960, por uma das cenas antológicas do cinema mundial. Trata-se do momento em que os personagens principais do filme La Dolce Vita, de Frederico Felini, interpretados pelos atores Anita Ekberg e Marcello Mastroianni, banham-se na fonte à luz do luar.
Desde aquela época, casais do mundo inteiro sonham em repetir a cena na vida real e alguns até conseguem, mas a fantasia custa caro. Em 2016, por exemplo, um casal de norte-americanos vindo da Califórnia teve que pagar uma multa de 450 euros depois de ter sido flagrado dentro da fonte. O banho romântico em Trevi é uma imagem inesquecível, mas não é a única importante aparição da fonte no cinema.
A famosa lenda que faz turistas do mundo inteiro encherem o fundo da fonte com moedas de várias nacionalidades ganhou visibilidade por meio de um filme norte-americano vencedor de dois Oscars. Seu título, Three Coins in the Fountain, traduzido no Brasil como A Fonte dos Desejos, já revela o tema central da narrativa. O filme conta a história de três turistas norte-americanas que decidem jogar moedas na fonte enquanto, silenciosamente, fazem seus pedidos e acabam alcançando o que desejaram.
A lenda da Fontana de Trevi
Segundo a lenda, se o visitante virar de costas para a Fontana di Trevi e jogar uma moeda para trás, conseguirá um dia voltar a Roma; se jogar duas moedas, encontrará um grande amor; e se jogar três moedas se casará com essa pessoa. Algumas versões da lenda dizem que quem jogar três moedas se casará com um italiano. Seja pela esperança de realizar seus desejos, ou apenas para cumprir um ritual, o fato é que os milhares de turistas que visitam anualmente a Fontana di Trevi, deixam em seu leito cerca de 1,5 milhão de euros. As moedas são retiradas a cada sete dias e a partir de 2007 passaram a ser doadas a instituições de caridade.
O hábito de jogar moedas na fonte de Trevi é imitado em vários lugares do mundo e pode ter origem em um antigo costume romano de atirar moedas na água de rios, lagos e fontes para alcançar proteção em viagens maritimas ou ou fluviais. Outros afirmam que é uma invenção da Igreja Católica a fim de arrecadar fundos para a manutenção da fonte.
Como acontece com outros monumentos, a passagem da Fontava de Trevi pelo cinema envolve também o velho clichê do golpista que tenta vendê-la, nesse caso a um turista desavisado. Isso ocorre no filme Totòtrufa 62. O vigarista que pretendia negociar a fonte é um ex-transformista que aplica pequenos golpes para sustentar a filha em um colégio caro. O personagem é interpretado pelo comediante italiano Totó, que dá ao filme um sabor de comédia.
Um monumento milenar
Acredita-se que quando surgiu, em 19 antes de Cristo, o monumento que conhecemos hoje como Fontana di Trevi era uma construção bem mais simples. Sua função seria receber a água retirada de uma fonte situada a pouco mais de 20 km de Roma e levada até ali pelo aqueduto subterrâneo Aqua Virgo.
O aqueduto Aqua Virgo havia sido projetado pelo consul Marcus Agrippa para abastecer suas termas e teria cumprido a função de abastecimento por cerca de quatro séculos, mas por volta de 537 de nossa era acabou destruído por ataques de invasores. A recuperação só ocorreu em no século 16 quando o papa mandou restaurar seus tubos e projetar uma fonte. Era a época do Renascimento e passou a ser comum, em Roma, a construção de fontes suntuosas nas terminações dos vários aquedutos que existiam na cidade, provavelmente recuperando um costume da Roma Antiga.
A configuração atual da Fontana di Trevi foi adquirida em uma obra posterior, realizada entre 1732 e 1763. A nova fonte foi projetada pelo escultor Nicola Salvi, que, segundo alguns, venceu um concurso promovido pelo Clemente XII e, segundo outros, foi derrotado na competição mas mesmo assim assumiu o cargo. Salvi morreu antes da conclusão da obra e parte da decoração prevista em seu projeto teria sido alterada. Entre as mudanças estaria a substituição da estátua de Agrippa – autor do aqueduto Aqua Virgo – pela de Netuno – deus do Oceano – levado por uma carruagem.
Uma fonte “de cinema”
Até aqui, falamos da Fontana di Trevi como cenário, tema ou elemento concreto de filmes famosos. Falta mostrar por que, metaforicamente, Trevi também é considerada cinematográfica. A primeira razão é o seu tamanho, com 20 metros de largura por 26m de altura – o que faz dela a maior fonte de Roma. A segunda é seu imponente conjunto escultórico, dominado, ao centro, pela estátua de Netuno.
Mas isso não é tudo. Além da beleza monumental das peças de arte barroca, que podem ser vistas por quem quer que chegue ao local, a Fontana di Trevi esconde em seu subsolo, como se fosse num filme, uma cidade que fez parte da Roma Antiga. O sítio arqueológico tem o nome de Vicus Caprarius – ou Cidade da Água – e, por uma curiosa coincidência, foi descoberto durante as obras de reforma de um cinema, que fica a alguns metros da fonte.
O sítio arqueológico da Fontana di Trevi
Na verdade, a Vicus Caprarius não ocupa apenas a área subterrânea da fonte, mas se estende por baixo de praticamente todo o bairro de Trevi. É composta por um sistema de aquedutos, inclusive o Aqua Virgo, que sempre abasteceu a Fontana di Trevi, e apartamentos residenciais. Guarda, ainda, um ‘tesouro’ com centenas de moedas de diferentes períodos entre os séculos 4 e 5 d. C., além de utensílios e elementos decorativos como esculturas, ânforas, azulejos e mosaicos.
Embora a Vicus Caprarius tenha sido construída na mesma época que as famosas catacumbas de Roma – no século 1 de nossa era – só foi descoberta pelos italianos no final da década de 1990. Depois de um longo trabalho de restauro e adaptação a visitas, a Cidade da Água foi aberta ao público em abril de 2004 como uma espécie de museu subterrâneo.
Um encontro de três ruas
Depois de conhecer um pouco da historia, dos atributos e até do subsolo da Fontana di Trevi, é hora de descobrir a razão de seu nome. A hipótese mais aceita é a de que Trevi vem da palavra latina trivium, que nomeia o ponto de convergência de três vias, e seria uma referência ao fato da fonte ficar exatamente no encontro de três ruas1. Outra tese afirma que o nome vem do fato do aqueduto Aqua Virgo possuir três saídas e da última ser exatamente na praça onde está a fonte.
Mas há quem prefira uma versão mais poética segundo a qual o nome da fonte é uma homenagem à jovem Trivia, que teria indicado a soldados sedentos da tropa de Marcus Agrippa a localizção de uma fonte de águas límpidas. Teria sido a água dessa mesma fonte que, tempos depois, o aqueduto criado por Agrippa passou a transportar até Roma, tendo como ponto final a atual Fontana di Trevi.2
Notas
- 1 Trivium é também o nome de parte das artes liberais da Idade Média. O Trivium incluía a Gramática, Retórida e Lógica, enquanto o quadrívium era composto por Aritmética, Música, Geometria e Astronomia
- 2 Leia, aqui matérias sobre outros lugares especiais da Itália: Murano / Ponte Vecchio / Pantheon / Assis /
Para saber mais
- Acesse um roteiro completo da capital italiana em postagem sobre o que fazer em Roma do blog Voyajando
- Descubra 8 destinos maravilhosos da Itália no blog Destinos por Onde Andei
- E no blog Ares do Mundo, você vai encontrar um roteiro personalizado para a Itália: cidades clássicas
Fontana di Trevi – Roma – Itália – Europa
Fotos
- (1) Diliff em Wikimedia
- (2) Filme La Dolce Vita - Divulgação
- (3) Filme Three Coins in the Fountain - Divulgação
- (4) unibay em Pixabay
- (5) Patrixio 1948 em Pixabay
- (6) vlad_ropotica em Pixabay
Referências
Uma delícia de ler. Faz a gente se transportar para o lugar que guardamos na memória. Obrigada por proporcionar este momento de entretenimento.
Valeu, Buduga! Volte sempre! Beijo
É como conhecer a alma, não só a aparência
Que lindo!! Adorei.
A Fontana di Trevi é linda demais, um cartão postal dos mais importantes e tem uma trajetória super interessante na vida da cidade. Belíssimo registro, Sylvinha! Parabéns!
Valeu, Soninha. Você sempre uma leitora assídua. Muito bom!
Concordo total com você, a Fontana de Trevi é mesmo um monumento cinematográfico, quando estive lá pela primeira vez, me senti em um filme italiano.Linda!
Roma inteira nos faz sentir em um filme, né?
A Fontana di Trevi é um lugar cinematográfico mesmo, mas confesso que quando cheguei diante dela me decepcionei um pouco com a dimensão. Imaginava muito maior, com um espaço bem amplo em frente, não tirou o encanto claro, mas a minha primeira impressão foi essa.
às vezes acontece isso mesmo. A gente idealiza e se decepciona. Faz parte rsrs
Maravilhosa pesquisa.
Valeu, Sidney!