Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
Quem já conhece ou ouviu falar em The Cloisters Museum (Os Claustros), pode até encarar sua existência com alguma naturalidade, mas mesmo para esses não deixa de ser impressionante imaginar que, em plena Nova Iorque, seja possível vivenciar a Europa medieval de maneira concreta, ao vivo, sem truques digitais. A aparente fantasia já é realidade desde os anos 20 do século passado, graças ao escultor norte-americano George Gray Barnard, que levou dezenas de peças da França para os Estados Unidos e criou, na própria Manhattan, o museu que deu origem à estrutura atual.
Os Claustros, como se conhece hoje, pertencem ao Metropolitan Museum of Art – MET, que assumiu a construção e manutenção do novo edifício, inaugurado em 1936, com financiamento do empresário John D. Rockefeller, Jr.. Estão plantados dentro do Fort Tryon Park, criado em terreno doado por Rockefeller, próximo ao edifício original, a cerca de 20 km do centro de Manhattan e atraem tanto interessados por arte e história como pessoas que buscam apenas momentos de tranquilidade, pois a sensação que se tem ali é de ter, inexplicavelmente, escapado da correria e do estresse do mundo em que vivemos.
Pelo menos três fatores contribuem para isso: a localização geográfica, a autenticidade dos ambientes e os jardins. Erguido em uma colina, à margem do Hudson, o museu oferece uma ampla vista tanto do rio como dos penhascos denominados New Jersey Palisades (Paliçadas de Nova Jersey) a partir de vários ângulos privilegiados. Em seu interior, a sensação é de ter voltado no tempo. As cerca de 2.000 peças medievais estão distribuídas em espaços que reconstituem construções da época, com materiais e detalhes removidos de monastérios europeus e levados aos Estados Unidos especialmente para esse fim.
Os jardins, plantados nos centros dos claustros, foram planejados com base em documentos ou obras de arte medievais e são compostos por ervas e flores que conquistam os sentidos do visitante, ora pelo aroma ora pelo apelo visual.
Jardins vivos
O claustro, para quem não sabe, é o coração de um mosteiro. Costuma ser localizado no centro do edifício e é composto por um pátio a céu aberto, com ou sem canteiros, cercado por passagens cobertas, separadas da parte central por arcadas ou simples colunas.
Três dos quatro claustros que compõem o museu possuem jardins. O mais famoso é o Cuxa Cloister, construído com fragmentos do mosteiro beneditino de Saint-Michel-de-Cuxa, no Sudoeste da França, perto dos Pireneus e inesquecível pela presença marcante do cheiro de lavanda.
Mas o Bonnefont Cloister, localizado no nível inferior do edifício, talvez seja o que merece maior atenção por reunir, segundo informações do próprio MET, uma das coleções de plantas mais especializadas do mundo. São cerca de 300 espécies de ervas e flores distribuídas em dezenove canteiros e organizadas por suas funções na culinária, medicina, magia e materiais artísticos.
Para compor toda essa variedade, algumas sementes não disponíveis nas Américas tiveram que ser importadas da Europa. O jardim chama a atenção, também, por outros elementos medievais como os leitos erguidos e as cercas entrelaçadas. O nome deve-se ao fato de suas 21 colunas duplas, com delicados capitéis, terem sido retiradas de um mosteiro do século 13 localizado em Bonnefont, próximo a Tolouse, no Sul da França.
O terceiro jardim reúne elementos do claustro do convento carmelita de Trie-en-Bigorre, perto de Toulouse e peças de outros monumentos da mesma região. Sua imagem remete aos prados e bosques, cobertos por flores e ervas, retratados em inúmeras obras de arte medievais, de modo especial nas Tapeçarias de Unicórnio, que converteram- se no conjunto artístico mais popular do museu.
Flores e símbolos
São sete enormes painéis que retratam a caça a essa fera mítica, com um único chifre na testa. Acredita-se que foram projetados por volta do ano 1.500, em Paris, e tecidos em algum lugar entre o Norte da França, o Sul da Holanda e Bruxelas. O significado dessas obras é motivo de muita discussão, mas parece haver um consenso sobre a ideia de que as tapeçarias contém um aspecto místico, pois sabe-se que na Idade Média o unicórnio era tido como símbolo de pureza e fertilidade, relacionado à Cristo ou à Virgem Maria.
Grande parte dos registros atribui ao seu chifre poderes curativos. Em um dos painéis, o unicórnio encontra-se junto a uma fonte onde, em contato com seu chifre, ervas e frutos são purificados. Para alguns pesquisadores, os caçadores presentes nas sete tapeçarias seriam uma alegoria dos 12 apóstolos.
As tapeçarias do Unicórnio, assim como o jardim do Trie Cloister, estão cobertas por vegetação e tornaram-se conhecidas como tapeçarias de ‘millefleurs’, ou tapeçarias de mil flores pelo fato de exibirem, por trás do tema principal, um fundo floral. Elas pertenceram originalmente a uma família francesa, de sobrenome Rochefoucauld, mas teriam sido roubadas durante um levante camponês e ficaram anos desaparecidas até serem descobertas em uma pequena propriedade camponesa, onde eram usadas para proteger a plantação das geadas.
Os Claustros e o resgate histórico
Além de preservar importantes obras artísticas e de oferecer a seus visitantes uma experiência sensorial bastante ampla da cultura medieval, o The Cloisters pode ser considerado veículo de um resgate histórico iniciado no século e19 e até hoje não concluído, no sentido de reabilitar a imagem desse período que, após o renascimento (século 16), passou a ser chamado de Idade das Trevas.
O próprio termo Idade Média, cunhado pelos iluministas, tinha também um caráter pejorativo, pois tratava o período compreendido entre a Antiguidade Clássica e a retomada de seus valores estéticos como um hiato na evolução da humanidade.
A razão central do preconceito era o fato da cultura desses séculos não ter privilegiado a razão e da arte produzida pelos artistas da época ter forte motivação religiosa.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre arte e arquitetura nos Estados Unidos: Getty Center / The Wall / Estátua da Liberdade / Art Déco District
- 2 Leia, também, sobre lugares da Europa com arquitetura medieval: Óbidos / Assis / Kilkenny /
Os Claustros – Nova Iorque – Estados Unidos – América do Norte
Fotos
Referências
- Site oficial do museu
Olá Sylvia Leite e parabéns! Mais uma excelente viagem pelo mundo.
Lindo texto!! Linda viagem !!!
Este comentário foi removido pelo autor.
Como sempre um texto precioso e um passeio inusitado mostrando um lado quase que desconhecido de Nova York. Parabéns
Maravilha. Fotos perfeitas. Texto que nos leva a um passeio gostoso. Tudo perfeito. Parabéns.
parabéns, sylvia!texto e conteúdo 10!
as fotos estão lindas!
Suas fotos fizeram a diferença! Obrigada. bjs
Valeu, Nena, bjs
Agradeço por mim e por Marcelo Prates, o autor das fotos.bjs
Obrigada, Neilton! beijos
Obrigada!Se puder, deixe seu nome.
Concordo com você. Marcelo Prates arrasa. Se puder, deixe seu nome.
Silvinha que maravilha. Realmente é uma viagem no tempo. Lindo. Beijos, Aida
Parabéns Sylvia Leite
Delicioso esses passeios cheios de conhecimento,curiosidades e história que você nos proporciona através de seu blog. Até alguns lugares já visitado por nós, nos fez ter uma nova e enriquecida visão. Muito bom mesmo.
Continue nos permitindo esses momentos delicioso de leitura e conhecimento desses lugares ricos em história e informações.
Eliane
Interessante, não é, Aida? Obrigada pelo comentário. Beijos
Obrigada. Bom saber que está acompanhando. Beijos
Beijos
Ouvindo as belas canções pelo Arquivo Musical e apreciando um boa leitura por aqui Silvinha.
. Parabéns Silvia pelo seu caprichado e fiel retrato deste claustros ( em Nova York !!) Conseguiu me transportar na minha terra onde ainda encontra se lindos e bem conservados claustros da Idade Média . Acho pena que está reconstituição seja proveniente da retirada de peças valiosas de antigos claustros
Valeu, Valtinho! Toda quinta tem postagem nova. Figue ligado! bj
Obrigada, Brigitte. Você tem razão. Retirar peças de seus locais originais não é a melhor forma de construir museus. O ideal é que não se faça mais isso. Esse, aliás, é um tema bastante polêmico e dá uma boa discussão.
Bom saber que você continua um leitor assíduo. Bj
Eu que agradeço pela visita e pelo comentário. Bjs
Como chegar? Não encontrei o endereço.
Obrigada pelo comentário Fábio. O foco deste blog é histórico e cultural. Não trabalhamos com informações do tipo como chegar, onde se hospedar ou onde fazer refeições. Mas existem inúmeros blogs que fazem isso com bastante competência e não será difícil você encontrá-los na internet ou mesmo pesquisar as informações que precisa por meio de algum site de busca. Caso não consiga, por favor entre em contato pelo e-mail que, embora isso não faça parte do compromisso do blog, eu tentarei te ajuda-lo.
Abraço, Sylvia
O nosso e-mail é:
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Adoro New York, já fui várias vezes, mas ainda não conheci The Cloisters (Os Claustros). Mesmo já tendo visitado o MET, esse espaço não entrou no meu roteiro ainda, não por falta de vontade e de curiosidade, mas por uma questão de tempo. Quando estou naquela cidade quero fazer e ver tanta coisa que nunca consigo riscar tudo da minha lista. Contudo, pretendo conhecer na próxima viagem.
Vale a pena, Cynara. The Cloisters, apesar das polêmicas que me parecem legítimas, vale a pena ser visto.