Atualizado em 19/05/2024 por Sylvia Leite
Um dos sinais dessa especificidade é o fato do museu oferecer, entre suas visitas guiadas, um tour voltado exclusivamente para a arquitetura do prédio, que se desdobra em vários edifícios alinhados em duas alas sobre colinas da Serra de Santa Mônica. Em uma das alas, ficam os prédios administrativas e educacionais. Na outra, estão os pavilhões do museu propriamente dito.
Ao apresentar o prédio, a equipe do Getty Center faz questão de destacar o revestimento em pedra travertino de cor bege e altamente texturizada. Os motivos da escolha teriam sido o fato dessa rocha calcárea ter sido historicamente associada à arquitetura pública; suas qualidades como solidez e simplicidade; e sua capacidade de capturar e refletir luz e calor. De quebra, o travertino trouxe um ganho estético inesperado: entre suas pedras encontram-se folhas, penas e galhos fossilizados que só foram revelados após a separação dos blocos.
Outro elemento central na construção é o uso de luz natural especialmente em halls, por meio de claraboias e paredes envidraçadas. As galerias do segundo andar também recebem iluminação natural regulada por um sistema de persianas e cortinas, com filtros especiais que garantem a proteção das obras de arte.
Discutir as formas arquitetônicas é trabalho para arquitetos e seus críticos, mas qualquer leigo é capaz de perceber a harmonia alcançada pela combinação de linhas retas – que projetam sombras paralelas deixando interessantes desenhos no chão da área externa -, com as formas curvas e circulares presentes tanto em prédios como em canteiros. Caso do Jardim de Cactus e do labirinto de azaleias do Jardim Central, que também tem formato circular.
O Jardim Central, aliás, é um dos pontos mais impactantes do lugar por oferecer ao visitante uma variedade de formas, cores, sons e aromas. Segundo seu autor, o artista californiano Robert Irwin, “trata-se de uma escultura em forma de jardim, que pretende ser arte” e está em constante evolução. Para lembrar disso, uma frase sua que diz – “Sempre mudando, nunca duas vezes igual” – foi esculpida em um degrau no jardim.
Resistência ao fogo
A intenção de construir um monumento artístico, no entanto, não fez com que Richard Meier deixasse de lado seu aspecto prático. Para transportar os visitantes do estacionamento subterrâneo até o andar térreo, por exemplo, o Getty Center tem um bonde particular. Além de dispor os módulos no espaço conforme sua funcionalidade, com já foi visto, o arquiteto teve a preocupação de adequar os ambientes a cada tipo de acervo. Os itens mais sensíveis a luz, por exemplo, estão localizados no primeiro andar, enquanto somente os menos sensíveis localizam-se no segundo, recebendo a iluminação natural. Além disso, o conjunto de prédios é resistente a terremotos e a fogo.
A estrutura da construção é composta por barras de aço e o travertino que reveste suas paredes de concreto é extremamente resistente ao fogo. Além disso, o teto tem pedra triturada, os jardins são projetados para retardar a aproximação das chamas e o sistema de ventilação pode ser revertido de modo que a fumaça, mesmo estando muito próxima, não entre pelas janelas.
Tudo isso precisou ser feito com total rigor porque o museu reúne mais de 125 mil obras e cerca de 1,4 milhões de documentos. A prova dos nove já foi tirada em mais de uma ocasião, com destaque para o incêndio que atingiu a região em 2019, destruindo 300 hectares de floresta e, devido à proximidade com a instituição, ficou conhecido como Getty, mas as obras ali guardadas permaneceram intactas. O resultado de tudo isso é que o Getty Center tornou-se modelo de segurança e passou a ser visitado por representantes de outras instituições, e até de governos estrangeiros, que buscam conhecer seu sistema de proteção.
Getty Center: uma obra póstuma
O Getty Museu – ou Getty Museum – foi criado em 1954 pelo magnata do petróleo Jean Paul Getty, que reformou sua própria residência – em Malibu, no bairro de Pacific Palisades – a fim de acrescentar uma ala destinada a reunir, e apresentar ao público, sua coleção particular de obras de arte. Pouco tempo depois, o acervo não cabia mais naquele lugar, e ele mandou construir, no mesmo terreno, um prédio inspirado nas vilas romanas – que ficaria conhecido como Getty Villa.
O milionário não chegou a usufruir do novo prédio, inaugurado em 1974, e morreu dois anos depois. Mas essa obra foi contratada por ele e traz a sua marca. O Getty Center, no entanto, foi inteiramente concebido e realizado depois de sua morte. O terreno foi adquirido pelo grupo Getty em 1983 e a inauguração do prédio ocorreu somente em 1997.
O Getty Center foi planejado para abrigar não apenas o Jean Paul Getty Museum, mas também as outras instituições que compõem o J. Paul Getty Trust, como o instituto de pesquisas Getty Research Institute, o instituto de conservação Getty Conservation Institute e o instituto de lideranças Getty Leadership Institute – este último dedicado à formação de museólogos.
Acervo dividido
O prédio anterior, o Getty Villa, ainda existe e, embora reformado, permanece com a função original, mas, desde a criação do Getty Center, passou a reunir apenas a parte antiga do acervo que data de 6.500 aC até 400 dC. É também esse prédio que sedia o programa de mestrado em Conservação Arqueológica e Etnográfica em parceria com a UCLA, mas o Getty Villa é assunto para outra matéria.
Para o Getty Center foram levadas as obras da Europa e dos Estados Unidos desde a Idade Média até os nossos dias. Além do Jardim Central, que é considerado parte do acervo, estão em exposição permanente no museu pinturas, desenhos, manuscritos iluminados, esculturas e artes decorativas europeias do século 20; fotografias estadunidenses e internacionais dos séculos 19 e 20; esculturas modernas e contemporâneas distribuídas dentro e fora dos prédios. Isso, sem falar das exposições especiais rotativas.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre lugares especiais nos Estados Unidos: Os Claustros / Art Déco / The Wall / Estátua da Liberdade
Para saber mais
- Saiba o que fazer em Los Angeles, em postagem do blog Chicas Lokas na Estrada
- Veja como fazer uma viagem de carro de San Diego a Los Angeles em postagem do blog Porta de Embarque
- E para descobrir atrações gratuitas em Los Angeles, acesse o blog Latitude Infinita
Getty Center – Los Angeles – Califórnia – Estados Unidos – América do Norte
Fotos
- (1,2,4,6) Sylvia Leite
- (3) Domínio Público
- (5) Marnin Somerman
Referências
Realmente, fiquei impressionada com esse museu. Mais com o prédio do que com as obras, para falar a verdade. Belo registro, Sylvinha!
Mas a coleção é muito boa e o museu tem várias exposições e atividades paralelas. É que conhecemos outros museus com boas coleções, mas, nenhum, pelo menos entre os que eu conheço, tem um prédio tão interessante.
Um grande visionário! Bem diferente dos milionários brasileiros…
Beleza de matéria, Sylvinha!
Abraços
Val
Sim, com certeza um grande visionário. Beijo
Que obra de arte o getty center! eu não conhecia, mas amei muito os prédios e achei incrível que um magnata reformou a casa para servir de museu, bem legal
Impressionante! Devia fazer parte da formação de todo arquiteto uma visita minuciosa a esse museu. Ou, pelo menos, uma excursão virtual completa, para os que não puderem se dar o privilégio de vê-lo ao vivo. Parabéns, Sylvinha, por mais esta escolha para nos brindar.
Devia mesmo, Jane. De todo arquiteto e de toda pessoa interessada em arte e arquitetura.
É interessante mesmo. Vale a pena conhecer.
Nossa eu não sabia desse prédio, gostaria de ter visitado o Getty Center quando fui para Los Angeles! Adorei a arquitetura
É incrível mesmo. Não deixe de ir da próxima vez. E ainda tem o Getty Villa que também é incrível e será tema de outra matéria.
A arquitetura do Getty Center é linda. Comcordo com você, uma verdadeora obra de arte que abriga outras. Lindo post!
Obrigada, Ângela. Bom saber que gostou da matéria. O Getty Center realmente é muito interessante!
Este museu está na minha lista de atrações a visitar na Califórnia, iríamos em setembro de 2020, mas deu ruim por causa da pandemia, infelizmente, rsrs. Rindo pra não chorar!
A sua definição de que o Getty Center é uma obra de arte que abriga milhares de outras é perfeita e me deu mais vontade ainda de conhecer. Beijos.
Que bom que a matéria te deu vontade de conhecer o Getty Center. Adoro quando isso acontece. Sinal de que houve uma boa comunicação. heheh Toda quinta tem matéria nova aqui no blog. Acompanhe!
Realmente uma obra de arte o Getty Center Sylvia, pena não ter lido seu post antes da minha viagem a Califórnia, teria ido lá com toda a certeza.
Então já sabe: antes de viajar, dê uma olhadinha no Lugares de Memória kkk Pode ajudar!
Que incrível a história do Getty Center! Estou planejando minha viagem e não quero deixar essa obra prima de fora. Amei as dicas!
Você não vai se arrepender. O Getty Center é muito especial.