Atualizado em 16/10/2024 por Sylvia Leite
Quem nunca foi a Colônia do Sacramento ou nunca leu sobre sua história, dificilmente imagina que essa pequena cidade do Uruguai – que nem sequer está localizada na fronteira – possa ter alguma forma de ligação com o Brasil. Mas a verdade é que o cartão postal dos uruguaios tem mais de um elo com nosso país. O maior deles é o fato de ter sido fundado por Manuel Lobo, na época governador da Capitania Real do Rio de Janeiro.
A história é longa e envolve uma sangrenta disputa entre portugueses e espanhóis. Mas, por enquanto, vamos deixar isso de lado. O importante agora é contar que além de Colônia do Sacramento ter sido fundada por um governante do Brasil, tivemos também um movimento inverso. O caso mais emblemático é o do jornalista Hipólito da Costa, que nasceu onde hoje encontra-se a cidade de Colônia do Sacramento, mas passou grande parte da vida no Brasil, tornou-se brasileiro e criou o nosso primeiro jornal.1
O Correio Braziliense ou Armazém Literário nasceu em 1808, em Londres, e era enviado clandestinamente ao Brasil com o fim de disseminar ideias liberais, defendendo o fim da escravidão e o estabelecimento de uma monarquia constitucional. Foi precursor de uma série de jornais portugueses criados no exílio e, tempos depois, inspirou o jornal homônimo fundado por Assis Chateaubrinand, que funciona até hoje em Brasília.
A importância de Hipólito da Costa como jornalista é reconhecida igualmente no Brasil e no Uruguai. Aqui, foi escolhido por Silvio Romero – fundador da Academia Brasileira de Letras – como patrono da cadeira 17. Em Colônia do Sacramento, é lembrado em uma praça que recebeu o nome de “Plazuela del Gentilhombre”, onde está preservada a casa em que viveu até os três anos de idade. Entre as placas comemorativas encontra-se uma homenagem dos jornalistas brasileiros representados pela Associação Brasileira de Jornalistas Especializados em Turismo (Abrajet).
Colônia do Sacramento: berço do Uruguai
A história de Hipólito da Costa, assim como quase tudo em Colônia do Sacramento, é resultado da disputa entre Portugal e Espanha pela pela região do Rio da Prata. A cidade surgiu em 1680 com a construção de um forte e foi chamada inicialmente de Colônia do Santíssimo Sacramento. Seu fundador, Manuel Lobo, cumpria ordens da coroa portuguesa.
Ao tomar conhecimento da fortificação, a coroa espanhola determinou que as forças instaladas onde mais tarde seria fundada a Argentina invadissem o local. A partir daí houve uma sucessão de lutas e negociações que durou quase 150 anos e só terminou com a independência da região dando origem ao que hoje conhecemos como Uruguai.
A Rua dos Suspiros
A disputa entre Portugal e Espanha está impressa em toda a cidade, que abriga construções deixadas pelos dois povos, mas em nenhum ponto isso fica tão claro como na Rua dos Suspiros, ou Calle de los Suspiros, onde, nos tempos de relativa paz, um lado era ocupado por portugueses e o outro por espanhóis.
Passear por ali é mergulhar na história. A rua é revestida de pedras coloniais que ocupam toda a extensão entre as duas fileiras de casas, sem deixar lugar para calçadas. Possui um desnível para facilitar o escoamento da água da chuva até o Rio da Prata e está praticamente toda preservada.
Como ocorre em muitos pontos históricos mundo afora, a Rua dos Suspiros está envolvida em lendas. Há quem diga que recebeu esse nome porque por ali passavam, aos suspiros, os marinheiros condenados à morte que, depois, eram atirados no Rio da Prata. Outra versão conta que uma jovem apaixonada foi assassinada na rua enquanto esperava por seu amado e, antes de morrer, suspirou.
O que diz a história é que os condenados à morte eram enforcados e não jogados ao mar. E que os suspiros ouvidos na rua eram de outra natureza, pois, até 1978, todos os seus imóveis funcionaram como casas de prostituição.
Oito museus e menos de 30 mil habitantes
História é o que não falta em Colônia do Sacramento e a impressão que se tem é de que toda ela está preservada, de uma forma ou de outra, seja pela arquitetura, pelos canhões no meio da rua ou pelo farol que se mantém altivo por trás das ruínas da fortaleza.
E como se tudo isso não bastasse, Colônia ainda tem oito museus, um número bastante alto para sua população que não chega a 30 mil habitantes. Um dos museus guarda a memória dos portugueses, outro reúne peças dos espanhóis. Os outros seis abrigam documentos, mobiliários, obras de arte e armas de ambos os lados.
À beira-mar, instalado em uma antiga casa portuguesa, funciona um museu mínimo, talvez o menor deles, que impressiona pela beleza das peças: são azulejos franceses, catalãos e uruguaios, estes últimos da década de 1840 – os mais antigos fabricados no país.
Todos os oito museus guardam preciosidades que não se pode deixar de conhecer, mas nem precisaríamos deles para voltar ao passado em Colônia do Sacramento. Além do centro histórico preservado e tombado pela Unesco, a cidade virou uma espécie de estacionamento para carros antigos abandonados que enfeitam as ruas, servem como vasos para charmosos arbustos, e nos transportam para o tempo em que ainda funcionavam.2
Notas
- 1 Na época, quem nascia no brasil era chamado de braziliense e não de brasileiro como ocorre atualmente
- 2 Leia, aqui no blog, matéria sobre outras cidades e lugares especiais do Uruguai: Chuí e Chuy / Piriápolis / Casapueblo / Castelos Pittamiglio / Tira del Tiempo
Colônia do Sacramento – Colônia – Uruguai – América do Sul
Fotos
- (1, 3 e 6) Marcelo Prates
- (2, 4 e 5) Sylvia Leite
Referências
Maravilhoso, sonho com o dia que irei conhecer este paraiso
Maravilhoso, sonho com o dia que irei conhecer este paraiso
Obrigada pelo comentário. É um lugar bonito e agradável. Vale a pena. Da próxima vez, lembre de deixar seu nome.
Obrigada pelo comentário. É um lugar bonito e agradável. Vale a pena. Da próxima vez, lembre de deixar seu nome.
Gostei muito. O envolvimento de Portugal e Espanha. A homenagem aos jornalistas brasileiros. Tudo colocado, como sempre, de uma maneira que fica fácil compreender e entender. Parabéns.
Obrigada, Maria Gelena. Beijo
Cidade linda e bucólica. Já fui 3x.
Chiquitita pero cumplidora…
Linda mesmo. A quem devo agradecer pelo comentário? Da próxima vez, não esqueça de se identificar, ok?
Valeu, Mauro! bj
Cada vez mais me surpreendo com as informações que você nos passa de uma forma maravilhosa! Parabéns!
Obrigada, Cynthia!!
Lindo e mágico este lugar!
Elisete Garcia
É lindo mesmo, e mágico também. Toda quinta temos um novo lugar aqui no blog. Acompanhe!
Maravilhosa, informações claras AMEI.
Que bom que você gostou. Pena que não se identificou. Da próxima vez não esqueça de dizer seu nome. E volte sempre.
Tive a felicidade de conhecer Colônia de Sacramento e a satisfação de conviver, por alguns dias,com o Tito uma simpatia de pessoa e um profissional de alto gabarito e um profundo conhecedor desta linda cidade histórica.Lendo esse texto me deu uma saudade imensa dos dias em que passei lá.Abs ao Tito, do Carioca agradecido.
Tive a felicidade de conhecer Colônia de Sacramento e a satisfação de conviver, por alguns dias,com o Tito uma simpatia de pessoa e um profissional de alto gabarito e um profundo conhecedor desta linda cidade histórica.Lendo esse texto me deu uma saudade imensa dos dias em que passei lá.Abs ao Tito, do Carioca agradecido.
Que pena que você não se identificou. Obrigada pelo comentário.