Forte do Presépio: o museu que guarda a memória de Belém

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Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite

Entrada do Forte do Presépio -- Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAVisitar o Museu Forte do Presépio – também chamado de Forte do Castelo – é entrar em contato com a história de Belém do Pará e com as tradições artísticas da região. O museu é formado por dois circuitos expositivos. Do lado de fora e no pátio interno temos acesso ao “Sitio Histórico da Fundação de Belém” composto pela estrutura militar – com seu arsenal de artilharia – que constitui a primeira edificação portuguesa da cidade. Do lado de dentro, o prédio abriga um acervo arqueológico que reúne desde material coletado no próprio sítio histórico e em seu entorno, até peças artísticas de Cerâmica Marajoara e Tapajônica, passando pelos simbólicos Muiraquitãs1. A esse segundo circuito expositivo, foi dado o nome de “Museu do Encontro” por incluir na estrutura de origem portuguesa, a cultura dos primeiros donos daquelas terras.

O encontro entre indígenas e portugueses no acervo do museu é o reflexo pacífico de uma convivência histórica que se deu de forma bem menos amigável. O Forte do Presépio é o ponto de partida dessa trajetória. Foi erguido pelos portugueses no século 17, mais precisamente em janeiro de 1616, como uma simples estrutura de madeira e palha, de onde surgiu a primeira rua, batizada como Rua do Norte e hoje denominada Siqueira Mendes 2.

Canhão na área externa do Forte do Presépio - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAA pequena vila colonial organizada a partir do Forte do Presépio ocupou parte de uma área indígena que abrangia os atuais estados Pará, Amapá e Mananhão. O nome original da região, dado pelos Tupinambás, era Mairi – palavra indígena que significa filha de Maíra, a grande Divindade – mas os portugueses chamaram a povoação nascente de Feliz Lusitânia. Esse nome, posteriormente substituído por Belém, foi recentemente resgatado pelo Patrimônio Histórico para denominar o núcleo histórico da cidade que abrange, além do forte, várias outras edificações.

Ao lado do forte, por exemplo, está a Casa das Onze Janelas, considerada um marco urbanístico da cidade, construído na primeira metade do século 18, não se sabe exatamente em que ano. Na outra lateral encontra-se a Ladeira do Castelo, que alguns registros apontam como a primeira rua de Belém. O Complexo Feliz Lusitânia engloba, ainda, a Catedral Metropolitana e o Museu de Arte Sacra – instalado no prédio da antiga Companhia de Jesus, hoje considerado o maior monumento Jesuíta da região Norte.

A história do Forte do Presépio

O Forte do Presépio foi criado pelos portugueses não apenas marcar território e evitar a entrada de outros invasores como também para proteger os recém-chegados dos povos indígenas. Esses, além de virem suas terras ocupadas por estrangeiros, tiveram parte de suas tribos escravizadas, o Canhões na parte externa do forte - Foto de Sylvia Leiteque naturalmente gerou inúmeras revoltas, com destaque para o Levante  dos Rupinambás  que durou cerca quatro anos e praticamente destruiu a primeira fortificação. Após a revolta, o Forte do Presépio foi substituído por uma estrutura mais sólida, descrita pelas fontes históricas como uma paliçada de taipa de pilão com cestões.

A construção como conhecemos hoje foi erguida em 1621, e, depois de inúmeras reformas,  pouco restou de sua característica original. Desde a primeira reconstrução que seu nome oficial passou a ser Forte Castelo do Senhor Santo Cristo, ou simplesmente Forte do Santo Cristo ou ainda Forte do Castelo. Foi com esse último nome que o edifício passou a funcionar como hospital durante uma epidemia de varíola, transformando-se depois, em um hospital militar. O Forte do Presépio ou Forte do Castelo foi usado também como sede social do Círculo Militar, abrigando um restaurante, um bar e um salão de festas.

A inauguração do espaço museológico Forte do Presépio ocorreu em 2002, depois da edificação ter passado por restauração, reforma e escavações que permitiram a identificação de diversas estruturas acrescentadas ao forte nas inúmeras reformas por que passou ao longo de quatro séculos. Entre as  descobertas estão os alicerces da Capela de Santo Cristo, que foi erguida por volta de 1640 e permanece em pé até o fim do século 17, vestígios das fundações da Casa de Pólvora, pisos em tijolos e em pedra e fragmentos de quatro rampas de acesso ao piso onde encontram-se os canhões.

O acervo arqueológico do Museu do Encontro

Cerâmica Marajoara - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAAs escavações realizadas na área e no entornou do Forte do Presépio resultaram no resgate de aproximadamente 100 mil objetos e fragmentos arqueológicos hoje incorporados ao acervo do museu. São peças de faiança portuguesa e inglesa, garrafas, fragmentos de armas, botões de uniformes e até moedas, uma delas de ouro. Mas o que mais surpreendeu aos pesquisadores foi a existência, no local, de peças de Cerâmica Tapajônica e Marajoara, o que comprova a ocupação anterior da área pelos nativos.

A cerâmica Tapajônica é caracterizada por formas antropozoomórficos que exaltam a fauna brasileira. São, em sua maioria, vasos e urnas funerárias produzidos há cerca de seis mil anos, a partir de uma mistura de argila com cauxixi – uma esponja que encontrada nos rios da região. Já a Cerâmica Marajoara é bem mais recente, localizando-se entre os anos 400 e 1400 de nossa era. Enquanto a primeira caracteriza-se basicamente por detalhes escultóricos, a segunda é marcada principalmente por desenhos em baixo relevo, alguns deles pintados com tintas extraídas de plantas como urucum e jenipapo ou de carvão.

Fazem parte, ainda, da coleção Tapajônica, pequenas esculturas de Muiraquitã, o sapo mitológico das índias Icambiaras que garantia a proteção de seus parceiros sexuais e que foi usado por Mário de Andrade como fio condutor do festejado romance Macunaíma. O Muiraquitã é um dos elementos culturais mais presentes no Pará e tornou-se símbolo de Santarém.34

Notas

Forte do Presépio – Belém – Pará -Brasil – América do Sul

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  • Sylvia Leite
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10 Comentários
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William
William
1 ano atrás

Belíssimo texto, como sempre. Não sabia quase nada sobre o forte. Já sobre os achados arqueológicos, me parece que ainda não compreendemos muito bem a ocupação das Américas, e fico sempre impressionado com a cerâmica Marajoara.

Genira
Genira
1 ano atrás

Muito bom o texto. Compacto e preciso. Estive neste sítio. Muito bom ter este recorte histórico. Obrigada

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Hebe
Hebe
1 ano atrás

Adorei o post, li todo seu material sobre o Pará e agora quero muito conhecer esse que é o local onde nasceu meu pai. Com certeza irei visitar o Forte do Presépio

Val Cantanhede
Val Cantanhede
1 ano atrás

Excelente matéria, Sylvinha!
Ainda preciso conhecer a região Norte e sua multidiversidade cultural.
Abraços

Sonia Pedrosa
1 ano atrás

Tudo uma grande novidade para mim. Preciso, urgentemente, conhecer o Pará!