Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
Embora as terras onde hoje se localiza Portugal já estejam habitadas há pelo menos 500 mil anos, e não se saiba ao certo onde teve início essa ocupação – que incluiu os mais variados povos como fenícios, cartaginenses, celtas, romanos, germânicos e muçulmanos –, convencionou-se dizer que Guimarães, um distrito de Braga na antiga região do Minho, é o berço do país. A cidade, criada no século 4, foi a primeira capital do Condado Portucalense e, segundo a Unesco – que lhe concedeu o título de Patrimônio Mundial da Humanidade –, os primórdios de sua história “estão intimamente associados ao estabelecimento da identidade nacional portuguesa e da língua portuguesa no século 12”.
O episódio determinante dessa identificação foi a Batalha de São Mamede, ocorrida em 1128, na qual se disputava o governo do Condado Portucalense após a morte do governador Henrique de Borgonha. De um lado, estava seu filho, o infante Afonso Henriques, apoiado pelas tropas dos barões locais; do outro lado encontrava-se a viúva, condessa D. Teresa de Leão, e seu amante, o conde galego Fernão Peres de Trava, Peres de Trava, que possuía tropas próprias. Com a vitória sobre a mãe e seu amante, Afonso Henriques tornou-se o primeiro rei do Condado de Portucale, hoje Portugal.
O centro de Guimarães é ‘testemunha’ dessa história e seu monumento mais representativo é o Castelo de Guimarães. Primeiro porque a luta aconteceu no Campo de São Mamede, em seus arredores. Depois porque nele teria nascido e se criado Afonso Henriques. É uma construção militar, erguida no século 10 para defender o condado de invasões dos Muçulmanos, e teria sido reconstruída, tempos depois, pelos pais e Afonso Henriques que a adotaram como moradia.
Ao lado, encontra-se a Igreja de São Miguel do Castelo – uma construção simples, imersa em controvérsia. É datada do século 13, mas acredita-se que tenha sido o local de batismo de Afonso Henriques, que viveu no século anterior, e, guarda, inclusive, sua pretensa pia batismal. Mais que isso: há quem diga que ali estão os túmulos dos 47 soldados que teriam lutado junto ao pai de Afonso Henriques em uma batalha bem anterior à de São Mamede.
Completando a tríade arquitetônica central de Guimarães, logo ao lado dos dois primeiros monumentos, está o Palácio dos duques de Bragança, conhecido também como Paço Ducal. O prédio foi construído no século 15 com a função de residência e hoje abriga um museu que reúne obras de arte, tapeçarias, réplicas de móveis e armas. Ao seu lado, sobre um enorme pedestal, encontra-se uma escultura de Afonso Henriques.
Quem visita Guimarães, também não pode deixar de conhecer o Largo da Oliveira, famoso por causa de um monumento em estilo gótico, que abriga um marco comemorativo denominado Padrão do Salado. Esse monumento foi construído a mando de Afonso IV, em 1340, para celebrar a vitória do rei de Castela, que era seu genro, em um embate denominado Batalha do Salado, travado contra os mouros com o apoio de Guimarães. Mas a praça vai muito além disso.
A igreja de Nossa Senhora de Oliveira, por exemplo, tem origem em um mosteiro pré-românico do século 10 em torno do qual surgiu a vila de Vimaranes, batizada depois como Guimarães. Essa igreja é considerada o primeiro monumento gótico do Minho, embora tenha passado por várias alterações em diferentes períodos. Ao seu lado, está o prédio medieval do mosteiro, que hoje funciona como um museu, denominado Museu de Alberto Sampaio, e abriga mais de duas mil peças de arte sacra entre pinturas, esculturas, tapeçarias e cerâmicas.
O Largo da Oliveira tem ainda o prédio do antigo Paço do Concelho – nome dado aos edifícios que sediavam as administrações municipais em Portugal. Em cima de sua fachada, encontra-se a escultura de um guerreiro que passou a ser popularmente conhecido como “o Guimarães”. Mas o que chama atenção nesse edifício são suas arcadas, que fazem a ligação entre a Praça da Oliveira e a Praça de São Tiago, estendendo o alcance visual dos dois espaços.
A lenda da oliveira
Além dos belos prédios, o Largo da Oliveira guarda uma lenda com versões ligeiramente distintas, mas todas envolvendo o pé de oliva plantado em plena praça. Conta-se que a tal oliveira foi colocada ali para que se pudesse retirar azeite de seus frutos e, com isso, iluminar a imagem de Santa Maria de Guimarães no interior da igreja. Mas, de uma hora para outra, a árvore secou.
Para tentar resolver o problema, um comerciante chamado Pedro Esteves doou uma cruz, que foi colocada embaixo do Padrão do Salado. Imediatamente, começaram a brotar folhas e a árvore voltou a dar frutos. A notícia de que a oliveira reviveu espalhou-se rapidamente, provocando romarias ao local e, na boca do povo, a santa passou a ser chamada de Santa Maria de Oliveira e depois Nossa Senhora de Oliveira, acontecendo o mesmo com o nome do largo.
A oliveira foi retirada da praça em 1870, por decisão da Câmara Municipal, sob a alegação de que atrapalhava a passagem dos cavaleiros, mas, em 1985 voltou ao seu lugar de origem. As três datas – do milagre, da retirada e da restituição – foram gravadas no Padrão do Salado.
Guimarães e o Brasil
Assim como outras localidades portuguesas, Guimarães tem alguns pontos de contato com o Brasil. O primeiro deles é o fato de estar entre as cinco cidades que já foram capital do país, pois nessa lista encontra-se, também, o Rio de Janeiro, que, em 1808, assumiu o posto de capital do Reino de Portugal e Algarve ao tornar-se moradia da família real. As outras três são Lisboa, Coimbra e Angra do Heroísmo, no arquipélago de Açores.
O outro ponto de contato é o fato de um de seus jardins mais bonitos ter o nome de Largo da República do Brasil. Não consegui descobrir a razão, mas ela deve existir. Nesse largo fica a Igreja de São Gualter, também conhecida como Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre lugares e obras especiais de Portugal: Palácio da Pena, Ponte 25 de abril, Belém, Azulejos Portugueses, Estação de São Bento, Óbidos
Guimarães – Distrito de Braga – Minho – Portugal – Europa
Referências
- Site Unesco Portugal
Para saber mais
- Para ler sobre outras Cidades Históricas de Portugal, acesse o blog Vamos Viajar Para Onde Agora?
Qtas histórias tem Guimarães!!!
Delicia de leitura!
Que bom que gostou! Volte sempre. Toda quinta tem matéria nova aqui no blog e todo dia tem link, lá no face, para uma das matérias já postadas aqui. Acomoanhe!
A história está bem contada de forma simples e muito acessível
Gostei muito
Agora só uma referência à gastronomia que é excelente
E esta cidade é das que mantém os jardins mais bonitos
Um pequeno conselho não deixe de visitar aqui o palácio dos duques de Bragança
Obrigada pelo comentário. Pena que você não se identificou. Da próxima vez não esqueça de deixar seu nome, ok? Abraço! Volte sempre.
Lero texto: Guimarães: o berço da identidade portuguesa me fez viajar no imaginário! Tenho muita vontade de conhecer Portugal, espero poder em breve!
Espero que possa ir logo. Portugal tem lugares lindos. Guimarães é um deles.
Nossa, AMEI conhecer a história de Guimarães. A história da Oliveira me emocionou. É fiquei feliz de saber que tem um jardim chamado Largo da República do Brasil.
Essa história é linda mesmo. E Guimarães é bem legal. Aliás, Portugal é uma beleza e eu demorei muito a descobrir isso.
Mais um post encantador. Adorei a história de Guimarães. Deu até vontade de voltar em Portugal
Bom saber disso, Angela. É gratificante saber que a matéria produziu algum tipo de bem estar em quem leu.
Estive em Guimarães em 1985. Ver essas imagens é reviver uma linda viagem. Pena q à época não tinha todas essas informações.
Estive em Guimarães em 1985. Ver essas imagens é reviver uma linda viagem. Pena q à época não tinha todas essas informações.
Estive em Guimarães em 1985. Ver essas imagens é reviver uma linda viagem. Pena q à época não tinha todas essas informações.
Agora que você descobriu o ‘lugares de memória’, já pode obter esse tipo de informação antes de viajar. Temos mais de 160 matérias e toda semana chega uma nova. Navegue e descubra. Obrigada pelo comentário.