Gruta do Salitre: um canion de acústica perfeita

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite

Vista da Gruta do Salitre - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAEnquanto especialistas fazem sofisticados cálculos para conferir a um determinado ambiente uma acústica de qualidade, os paredões de quartzo que rodeiam a Gruta do Salitre, a 9 km de Diamantina, em Minas Gerais, oferecem, a céu aberto, uma acústica considerada perfeita. A opinião não vem de leigos, mas de músicos experientes que procuram o lugar para a realização de concertos ou simplesmente param no meio de uma caminhada para fazer música com boa ressonância.

A gruta já foi e continua sendo palco de concertos do programa Diamantina Musical, realizados à noite, com acesso gratuito. Além disso, aqueles que dão sorte de encontrar com músicos durante a visita acabam assistindo a sessões informais porque dificilmente um instrumentista resiste ao ambiente formado pelos paredões de mais de 80 metros de altura.

Visitante atravessa fenda - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAA acústica quase perfeita é apenas uma das curiosidades do lugar, que distingue-se da maioria das outras grutas do Brasil e do mundo por ser composta de quartzo em vez de calcáreo como é comum. Outra importante singularidade da própria diferença de constituição: enquanto as cavernas calcáreas concentram todo o seu encanto no ambiente interno, ornado pelas estalactites e estalagmites, a Gruta do Saitre é bonita por fora, com um cânion cercado por paredões que chegam a 80 metros de altura e fendas que parecem ter sido cortadas a laser.

O interior da gruta também tem dimensões gigantes, podendo chegar a 500 metros de profundidade, mas, por questões sanitárias, o acesso é vedado ao público. Apenas pesquisadores são autorizados a entrar na gruta e assim mesmo com máscaras e outros equipamentos de segurança. Mas a beleza exterior do conjunto – muitas vezes comparado a um castelo medieval – nos faz até esquecer a curiosidade que possamos ter em relação a seu interior.

Rochas que parecem brotar da terra

A impressão que temos, ao olhar para a Gruta do Salitre, é de que suas rochas brotam do chão. E essa impressãoParedão- Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA não é totalmente falsa. Embora não brote precisamente do solo, o bloco foi erguido pelas forças tectônicas da posição horizontal, onde se encontrava, para a posição vertical. Segundo os especialistas, isso aconteceu há cerca de um bilhão de anos.

A formação do cânion deu-se posteriormente em consequência de uma fratura seguida do afastamento das duas partes. Os recortes e irregularidades são decorrentes de vários desmoronamentos ocorridos depois da fratura. Resultam, ainda, da ação dos ventos ou da lavagem de sedimentos provocada pelas chuvas e favorecida pela posição vertical das rochas.

De onde vem o nome da Gruta do Salitre

Como se não bastassem as particularidades geológicas, a Gruta do Salite tem ainda uma história econômica: seu nome faz alusão ao Nitrato de Potássio (KNO3), popularmente conhecido como salitre. Trata-se de um subproduto da decomposição de material orgânico no interior de cavidades que misturado ao enxofre e ao carvão resulta naMapa do Brasil no céu - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA pólvora – único explosivo conhecido na época e considerado estretégico para a defesa das nações.

No Brasil, mais especialmente na Bahia e em Minas Gerais, o salitre foi intensamente extraído para a produção de pólvora visando não apenas atender demandas da indústria bélica, mas também para ser usado na mineração de ouro e diamante, seja para explodir aberturas de minas ou para desviar cursos de rios.

O composto químico era não apenas extraído mas também beneficiado nas bocas das cavernas e levado para o Rio de Janeiro onde foi criada a primeira fábrica de pólvora do Brasil, que funcionou dos primeiros anos dos século 19 até 1832. Mas alguns pesquisadores acreditam que, no mesmo período, pode ter havido produção de pólvora também em Ouro Preto.

Além de todas essas curiosidades, a Gruta do Salitre tem uma que é bem brasileira: quem se posiciona em um certo ponto, perto de uma de suas entradas, pode avistar nosso mapa desenhado no céu, emoldurado pela pedras e pelas folhas.

Atividades na Gruta do Salitre

Embora se encontre dentro de uma propriedade privada, a Gruta do Salitre é gerida atualmente pela ONG Instituto BiotrópicosRocha e arbustos - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA em parceria com a Prefeitura de Diamantina. As visitas ao local precisam ser agendadas e acompnhadas de guia.

A programação da gruta inclui de concertos musicais e práticas esportivas a visitas técnicas destinadas a alunos de ensino técnico e superior dos cursos de Ciências Biológicas, Geografia, Geologia, Gestão Ambiental e Turismo.

Para crianças e adolescentes são oferecidas visitas lúdico-pedagógicas com atividades de integração com a natureza e estímulo à perceção e sensibilidade ambiental. 1

Notas

Gruta do Salitre – Curralinho – Diamantina – Minas Gerais – Brasil – América do Sul

Texto

Fotos

  • Sylvia Leite

Participação especial

Referências

  • Site da Prefeitura de Diamantina
  • Artigo Salitre: o produto químico estratégico no passado do Brasil - Publi SBQ/ Quimica Nova
  • Artigo: Pesquisador segue rota dos mineralogistas que procuravam salitre e chumbo nas Minas Gerais do século 19 - Revista Museu

 

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8 Comentários
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Ilza
Ilza
2 anos atrás

Que beleza. Deu vontade de conhecer. Obrigada pelas informações.

Liliana Díaz
Liliana Díaz
2 anos atrás

Increíble lugar! No conocía! Gracias por la oportunidad de tu relato e información!

Sonia Pedrosa
2 anos atrás

Que interessante, Sylvinha! E esse mapa do Brasil, hein? Muito legal!

Val Cantanhede
Val Cantanhede
2 anos atrás

Mais uma das belezas naturais de Minas, como sempre muito bem relatada em sua matéria.
Dá para imaginar a sonoridade de um concerto nessa gruta.
Abraços