Floresta da Tijuca: exemplo de proteção ambiental

Tempo de Leitura: 8 minutos

Atualizado em 30/04/2024 por Sylvia Leite

Vista da Flotresta da Tijuca - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAA Floresta da Tijuca, oficialmente chamada de Parque Nacional da Tijuca, merece um livro, mas como estamos num blog, vamos tentar mostrar pelo menos um pouco dessa maravilha nos limites de uma matéria jornalística. São quase 40 km² de mata dentro da cidade do Rio de Janeiro, com uma complexidade capaz de impactar qualquer visitante. Não bastassem a flora e a fauna; as montanhas, os rios, córregos e cachoeiras; o parque engloba construções e ruínas históricas, além de importantes pontos turísticos da cidade como a Vista Chinesa, a Pedra da Gávea e o famosíssimo Corcovado. Tudo isso graças à proteção e reconstituição da floresta, ainda no século 19, por um imperador que mais de 150 anos atrás já entendia a importância da preservação ambiental. E graças, também, ao trabalho braçal de seis negros escravizados que executaram o replantio e nunca tiveram seus nomes reconhecidos.

A decisão de Dom Pedro II foi tomada em 1861, portanto mais de uma década antes da criação do Parque Yellowstone, nos Estados Unidos, que é considerado um marco na história das áreas protegidas. O que motivou o imperador foi o impacto do desmatamento provocado pelas fazendas de café, plantações de cana-de-açúcar e corte de madeira sobre o fornecimento de água potável para a cidade. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Império e dependia, para seu abastecimento, dos mananciais da Floresta da Tijuca, que estavam secando.

Mapa da Floresta da Tijuca - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAA Floresta da Tijuca: um rápido histórico

O primeiro passo foi conceder a uma área de 33 km², hoje conhecida como Maciço da Tijuca, a condição de Floresta Protetora. Em seguida, foi feita a desapropriação de fazendas e chácaras, seguida do plantio de árvores nativas. Em apenas 13 anos, foram plantadas mais de 100 mil mudas, em sua maioria espécies da Mata Atlântica. O trabalho de reconstituição e proteção da floresta incluiu, também a sua transformação em um parque com recantos e áreas de lazer. O projeto ficou por conta do paisagista francês Auguste Glaziou.

Pouco restou desse paisagismo inicial. A maior parte do que vemos hoje foi obra de Roberto Burle Marx, na década de 1940, durante um processo de revitalização da floresta, que havia passado anos em relativo abandono. Durante a revitalização, foram consolidadas as vias internas criados três restaurantes em imóveis históricos.

Embora a floresta tenha assumido a fisionomia de parque desde os tempos do império, O Parque Nacional da Floresta da Tijuca – hoje administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – só foi criado em 1961, com o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro. O nome atual, Parque Fauna do Parque Nacional da Tijuca - BLOG LUGARES DE MEMÓRIANacional da Tijuca, foi adotado em 1967. Sua área inicial era a mesma preservada por Dom Pedro II no século 19, mas, em 2004, um decreto federal determinou sua ampliação para 39,51 km².

A diversidade de fauna e flora

O resultado dessa iniciativa de preservação é a manutenção, dentro da segunda maior cidade do Brasil, de 1.619 espécies, das quais 433 estão ameaçadas de extinção. O parque preserva, ainda, uma grande diversidade animal. Entre as 63 espécies de mamíferos estão o quati, que é o animal símbolo do parque, o macaco-prego e o cachorro-do-mato. Há, ainda, 39 espécies de anfíbios, como a rãzinha, o sapo, a rã de Goeldi, o sapo cururuzinho, e 39 espécies de répteis, como os lagartos e serpentes.

Voo livre na Floresta da Tijuca - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAO parque mantém, ainda várias espécies de invertebrados  que vão de animais peçonhentos, como escorpiões, às inofensivas borboletas, passando por camarões de água doce, besouros e libélulas. A maior diversidade, no entanto, ocorre na classe das aves, com 226 espécies.

Atividades na Floresta da Tijuca

Não é à toa que entre as atividades mais exploradas no Parque Nacional da Tijuca, conhecido popularmente como Floresta da Tijuca, está a observação de aves, que pode ser feita em qualquer parte do parque e em qualquer época do ano. Para orientar os observadores, foi criado o Guia de Observação de Aves do Parque Nacional da Tijuca, de autoria de Ivandy Castro-Astor e Claudia Bauer. Os administradores do parque garantem que a observação é acessível a qualquer interessado. Basta que leia o guia e adquira antes alguns conhecimentos básicos.

O parque oferece, ainda, atividades de voo livre, rapel, ciclismo, skate, corridas e  escaladas. Isso sem falar nos banhos de cachoeira que são permitidos  em diversos pontos, desde que observadas as medidas de proteção à Cristo Redentor - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAflora e à fauna.  E para completar, a Floresta da Tijuca é um excelente ponto de observação da cidade e oferece uma das melhores visões do Corcovado.

Os pontos turísticos da floresta

Considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, o Corcovado conquistou essa posição por causa da estátua do cristo redentor instalada em seu pico. Mas entes mesmo de receber o impressionante monumento de 38 metros de altura e aproximadamente 1.100 toneladas, esse morro da Floresta da Tijuca já era um dos pontos turísticos do Rio de Janeiro. Moradores e turistas subiam o morro a fim de observar do alto a vistaVista Chinesa - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA da cidade. Para facilitar esse acesso, foi construída, em 1884, portanto quase 50 anos antes da inauguração do Cristo Redentor, a Estrada de Ferro do Corcovado, considerada a primeira ferrovia turística do país.

O famoso mirante denominado Vista Chinesa veio um pouco depois, entre 1902 e 1906. Foi construída em estilo oriental e recebeu esse nome em alusão aos agricultores que chegaram da China, na primeira metade do século 19, para dar inicio a plantações de chá. Além da beleza arquitetônica, o lugar oferece uma ampla vista da Zona Sul da cidade, tendo, ao fundo, a  também famosa Lagoa Rodrigo de Freitas.

Se o Corcovado e a Vista Chinesa são acessíveis a todos, a Pedra da Gávea só pode ser alcançada pelos que conseguem vencer uma caminhada de aproximadamente três horas com grau de dificuldade considerado pesado. Muitos fazem questão de encarar a caminhada não apenas pela incrível vista da cidade que vão poder observar a partir de seu topo, mas também pelo fetiche de conseguir subir o maior monolito à beira-mar do mundo, que, Pedra da Gávea - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAdurante décadas, serviu de referência para navegadores.

E tem mais. Durante a subida, os trilheiros passam por dois pontos misteriosos: o primeiro é conhecido como Portal de Agartha e seria uma passagem para o mundo subterrâneo, enquanto o segundo é um conjunto de marcas que alguns acreditam tratar-se de uma inscrição. Os que defendem essa tese, interpretam os sinais como uma mensagem fenícia que informa sobre a existência de um rio enterrado no local. Já os opositores, garantem que as marcas não passam de desgastes naturais da pedra. Mas isso é assunto para outra matéria.

Quem não tem condições físicas ou simplesmente não se dispõe a tanto esforço para chegar ao topo, perde a vista e toda essa magia, mas pode observar a pedra de baixo ou fazer uma trilha mais leve, de apenas 20 minutos até a Pedra Bonita de onde poderá observar não apenas a Pedra da Gávea como uma boa parte da cidade e aindaSítio do Reservatório Carioca - BLOG LYGARES DE MEMÓRIA assistir um espetáculo esportivo pois é lá que ficam as famosas e movimentadas rampas de voo livre.

A vertente histórica

Quem prefere um passeio histórico, pode começar descobrindo de onde vem a palavra carioca – gentílico oficial dos que nascem no município do Rio de Janeiro, usado também como adjetivo para eventos estaduais, como é o caso do Campeonato Carioca, embora o gentílico do Estado seja ‘fluminense’. Carioca é o nome de um rio que nasce na Floresta da Tijuca e foi usado para abastecimento da cidade desde o século 16 até meados do século 20.  A lembrança dessa época está gravada no Capela Mayrink - BLOG LUGARES DE MEMÓRIASítio do Reservatório do Carioca, tombado em 1998 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC).

Além de conhecer a nascente do rio e sua barragem, o visitante pode observar o conjunto arquitetônico formado por três reservatórios a céu aberto – as Caixas do Carioca – um tanque de decantação, jardins e a caixa de passagem, conhecida como Caixa Mãe D’Água. Para completar, é possível acompanhar o curso do rio1 até o Centro de Visitantes Paineiras, , que funciona no prédio de um antigo hotel do século 19 e mantém a exposição permanente ‘Floresta Protetora’, que conta a história da Floresta da Tijuca2.Parque LageFoto de Caioviniciuscosta - - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

A arquitetura histórica pode ser vista, também, no que restou das fazendas de café, com destaque especial para as ruínas da Fazenda Nassau, que pertenceu ao holandês Alexander Von Mocke. Em seu ápice, essa fazenda teve 100 mil pés de café e 16 edificações, tornando-se uma referência para a cidade e chegou a ser citada por José de Alencar em seu romance “Sonhos d’Ouro”.

Há, ainda, uma extensa lista de construções, preservadas ou em ruínas, que podem ser vistas pelos visitantes do parque. Uma das mais expressivas talvez seja a Capela Mayrink, chamada assim porque foi construída na então propriedade do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink. A capela encanta por sua fachada cor de rosa e, principalmente, por ter no altar réplicas de quatro telas feitas para ela por Portinari. Os originais foram retirados do local e hoje integram o acervo do Museu Nacional de Belas Artes.

Para encerrar, resta falar do Parque Lage, antigo engenho de açúcar onde hoje funciona uma Escola de Artes Visuais. O casarão construído em torno de uma piscina é sua imagem mais divulgada, mas os jardins do parque estão repletos de surpresas que vão das ruínas do antigo engenho a ilhas e cavernas artificiais. O Parque Lage é assunto para outra matéria que ainda virá.3

Notas:

Para saber mais

  • O blog Fui ser viajante preparou um passo a passo para quem deseja conhecer a Trilha do Mirante da Cascatinha, que oferece uma das vistas mais bonitas da Floresta da Tijuca
  • Já os que se encantaram com o casarão construído em torno de uma piscina no Parque Laje, não podem deixar de ler a postagem do blog Lets Fly Away
  • Se você é amante de atividades ao ar livre, acesse também, no mesmo Lets Fly Away, uma lista com 25 opções de passeios
  • Para, nossa indicação é a postagem do blog Uma Senhora Viagem, com dicas dos mirantes do Rio de Janeiro
  • Agora, se você quiser conhecer os top 5 parques no Rio de Janeiro, acesse o blog Dani Turismo

Floresta da Tijuca – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil – América do Sul

Texto

Fotos:

  • (1,3,4,5,6,7,8,9) Site do Parque Nacional da Tijuca
  • (2) Por Parnatijuca / Domínio Público / Wikimedia
  • (10) Caioviniciuscosta / CC BY-SA 4.0 / Wikimedia
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William
William
3 anos atrás

Estive dezenas de vezes no Rio, mas nunca tive oportunidade de visitar a Floresta da Tijuca. Na próxima vez vou reservar um tempo para isso, parece que vale a pena!

Maria Consuelo
Maria Consuelo
3 anos atrás

Como sempre suas matérias são fantásticas, informando-nos e fazendo-nos viajar! Parabéns!

Beatriz Wanderley
Beatriz Wanderley
3 anos atrás

O Parque Lage está no meu imaginário de infância: era um dos passeios preferidos quando ia passar as férias no Rio.

Augusta Leite Campos
Augusta Leite Campos
3 anos atrás

Fantástico a existência dessa floresta, completamente reflorestada, há mais de 100 anos antes da ideia da importância de preservação ambiental. Minha enorme gratidão aos que nos deixaram esse legado. A Dom Pedro II, mas principalmente aos anônimos 6 escravos, cujas mãos nos ofertaram esse presente.

Sonia Maria Pedrosa Silva Cury
3 anos atrás

Delícia de texto e recordações. A Floresta da Tijuca foi eu destino preferido na infância, quando meu pai ou minha tia Stella nos levava para passear, aos domingos de manhã. obrigada, Sylvinha e parabéns pelo texto!

Olivia
3 anos atrás

A Floresta da Tijuca é um exemplo de proteção ambiental e espeto que inspire outras ações tão necessárias nesse nosso Planeta tão maltratado pela ganância e pelo próprio desenvolvimento.
Bjs

Deyse
Deyse
3 anos atrás

Sensacional este post. A Floresta da Tijuca é um lugar sensacional, um encanto e exemplo de proteção. Além de ótimo espaço de passeio e contemplação.

hebe
hebe
3 anos atrás

Muito bem colocado seu post Sylvia, realmente nossa Floresta da Tijuca é um exemplo mesmo de proteção ambiental e que sirva de inspirações para toda a nação desse planeta.

Christina Hayne
Christina Hayne
3 anos atrás

Muito bom o conteúdo do Blog Lugares de Memória