Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite
É comum, no mundo inteiro, o aproveitamento de prédios históricos como sedes de centros culturais, mas a Casa das Onze Janelas, em Belém do Pará, tem um aspecto especial. Além de ocupar uma construção do século 18, está localizada à margem do Rio Guamá, na Baía de Guajará. Depois de desfrutar de um dos mais importantes museus de arte da cidade, o visitante pode se entregar à contemplação em um bucólico jardim à beira-rio.
Não bastasse a beleza da baía, a vista alcançada por quem chega ao jardim da Casa das Onze Janelas inclui o Mercado Ver-o-peso, que é responsável por grande parte do abastecimento da cidade, além de ter se tornado um de seus mais importantes pontos turísticos e culturais.
Isso sem falar nas atrações que compõem o conjunto do próprio jardim como o pier que abriga uma curiosa escultura do artista paraense Osmar Pinheiro de Souza, feita especialmente para o centro cultural, e um pequeno navio permanentemente ancorado no local.
O navio é, na verdade o Museu Corveta Solimões – estruturado dentro de uma embarcação da Marinha que era usada para levar ajuda a populações ribeirinhas. Os que encaram o desafio de entrar em um museu flutuante são conduzidos por um marinheiro que apresenta todos os compartimentos e explica o funcionamento da embarcação.
Já a escultura, denominada Aninga, faz alusão à planta de mesmo nome que cresce sem ordenação por toda a margem do rio. O jardim, conhecido como Jardim das Esculturs, abriga, também, uma peça do artista Paulo Schmidit doada pela Funarte.
Ainda no ambiente externo, no terraço do restaurante Boteco das Onze – que integra o centro cultural – , encontram-se painéis com retratos estilizados dos poetas lusitanos Luís de Camões, Manuel Bocage, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. As obras são assinadas pelo artista plástico lisboeta Júlio Pomar e foram doadas por instituições portuguesas.
O Museu Casa das Onze Janelas
Se o terraço exalta a cultura dos colonizadores, o museu, que se estende dentro e fora do edifício, já nasceu com o propósito de difundir e propor reflexões sobre a arte brasileira. Seu acervo conta com mais de 300 peças de artistas de todo o Brasil, a partir do Modernismo até os nossos dias.
Entre as obras modernistas estão gravuras de Tarsila do Amaral, Lasar Segal, Clovia Graciano, Cícero Dias e Alfredo Volpi. O museu abriga, também, trabalhos de artistas contemporâneos como Cildo Meireles e como os paraenses Ruy Meira e Osmar Pinheiro de Souza – autor da já citada escultura Aninga.
Ocupação histórica do prédio
A Casa das Onze Janelas foi construída no século 18 – não se sabe a data exata1 – para servir de residência esporádica ao usineiro de açúcar Domingos da Costa Bacelar. No mesmo século, no ano de 1768, o palacete foi comprado pelo governo do Grão Pará e, depois de uma adaptação concebida pelo arquiteto italiano Antônio José Land, passou a funcionar como hospital militar sob o nome de Hospital Real.
A nova utilização do prédio durou pouco mais de um século. A partir daí, passou a ter diferentes funções militares, inclusive como local de confinamento para presos políticos durante a Ditadura Miltar. A Casa das onze janelas só voltou a ter uso civil em 2001, quando foi assinado um convênio entre o Governo do Pará e o Exército Brasileiro, destinando os terrenos da Casa das Onze Janelas e do Forte do Presépio à utilização turística.
A Casa das Onze Janelas, assim como o Forte do Presépio localizado ao lado, integram o conjunto arquitetônico e paisagístico resgatado pelo projeto de revitalização do Centro Histórico de Belém, criado em 1997 e denominado Feliz Lusitânia. O nome faz alusão à primeira vila fundada por europeus no lugar onde hoje se encontra a atual Belém do Pará. 2
Notas
- 1 Provavelmente antes de 1850 pois naquela data o prédio já constava no mapa da cidade
- 2 Leia, aqui no blog, sobre outros lugares especiais do Pará: Theatro da Paz / Ilha de Marajó / Santarém / Alter do Chão / Comunidade de Coroca
Casa das Onze Janelas – Belém – Pará – Brasil – América do Sul
Fotos
- Sylvia Leite
Referências
Que espetaculo essa historia, a Amazonia tem sua historia muito distante de nós, e remonta ao periodo colonial, com personagens e figuras como essas que foram mostradas.E viva a Baía de Guajará!!! Chamou pela minha memória infantil, pois tinha a Fazenda Guajará vizinha ao Quissamã e minha mae nos deu uma mini-aula de Geografia pra explicar de onde vinha o nome
Belém é linda, nao conheci a Casa das Onze Janelas nem o Museu, visitarei daqui pra frente, quando retornar a Belem!Mas adorei o mercado Ver o Peso com seus vitrais e sua paisagem e peixes maravilhosos, enquanto estive lá voltei varias vezes ao Mercado!!
Belém é realmente encantadora. Não deixe de ir à Casa das Onze Janelas na próxima visita.
Que lindo cenário para esse Centro Cultural!
A esperança é que o local nunca mais se torne uma prisão, como aconteceu na ditadura.
Parabéns pelo texto, Sylvinha, como sempre muito bem redigido!
Bjs
Ah, com certeza. Não podemos deixar que isso aconteça. Bjs
Parabéns Sylvia! Tive a oportunidade de conhecer a casa das onze janelas também! Lugar muito agradável de se estar contemplando o rio.
Muito agradável mesmo. Sempre que penso no jardim da Casa das Onde Janelas sinto vonta de estar lá.
Excelente! Não conhecia embora já tenha estado em Belém do Pará. É que foi uma estadia muito rápida e com passeios já programados. Na próxima visita não perderei a oportunidade de conhecer. Grato
Bom saber que gostou e que se animou a conhecer a Casa das Onze Janelas. Obrigada pelo comentário.
Gente, que beleza. A Casa das Onze Janelas é imponente, muito linda, adorei saber que é um espaço de arte e contemplação.
Sim, Deyse, a Casa das Onze Janelas é um lugar que vale a pena conhecer e desfrutar.
Em Julho de1978 estive em Belém com um grupo de colegas estudantes de medicina da Universidade Federal da Bahia , para o Congresso dos Estudantes de Medicina do Brasil. Ficamos hospedados em uma casa muito semelhante a essa. Não consigo no entanto me lembrar dessa proximidade com um rio. Fiquei encantada com Belém e foi o meu primeiro contato com a Amazônia. Nunca esquecerei os inúmeros sabores de frutas, que conheci através dos sorvetes que saboreei. Fico muito feliz que essa casa tenha sido preservada e que seja o museu que é.
Augusta Leite Campos
Obrigada pelo comentário, Gusta. Bom saber da sua vivência em Belém e da sua simpatia pela Casa das Onze Janelas.
Que bom a Casa das 11 janelas foi preservada e hoje abriga esse rico museu. Esse nosso Brasil é cheio de surpresas e Belém é uma delas. Eu preciso conhecê-la.
Ah, com certeza precisa conhecer, Soninha. Belém é incrível e a Casa das Onze Janelas é um dos lugares especiais da cidade.