Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
Quando foi comprada, em 1980, a terra que hoje abriga o Horto de Caípe Velho, na zona rural de São Cristóvão, estado de Sergipe, era exatamente igual às outras propriedades da vizinhança: um sítio de árvores frutíferas – como cajueiros e mangueiras – destinado ao sustento familiar dos proprietários, que continha alguns trechos de Mata Atlântica remanescente. Em apenas quatro décadas, o ex-fotógrafo Marcel Nauer transformou a área em um jardim botânico e a si mesmo em um paisagista autodidata.
O horto de Marcel não tem respaldo de nenhuma instituição e não integra a reduzida lista dos jardins botânicos do Brasil. Mais que isso: é apenas um sitio de propriedade particular que não está oficialmente aberto ao público. Para visitá-lo, é preciso contactar seu dono por intermédio de um conhecido comum e agendar a visita, sempre aos domingos, quando ele passa o dia trabalhando no local.
A visita é gratuita, mesmo se tratando de uma propriedade particular, porque esse esforço de décadas foi feito sem fins lucrativos. Somente de vez em quando é que Marcel vende alguma planta e acaba concluindo que não valeu a pena porque pagam muito pouco.
Como a terra não traz lucro, também não pode gerar muita despesa e isso faz com que tudo ali seja econômico e alternativo. A começar pela irrigação, feita com uma mangueira cheia de furos que provocam esguichos de até um metro de altura.
O surpreendente é constatar que, apesar de toda essa “informalidade”, ele conseguiu construir uma espécie de museu natural a céu aberto, onde se pode observar, ou mesmo estudar, exemplares de todos os continentes, especialmente das regiões tropicais e, com isso, contribuir com a preservação de algumas espécies.
Um paraíso que se releva aos poucos
Na chegada, pouco se vê além de uma casa de pau a pique e alguns canteiros de pedra. E tudo parece muito árido. Aos poucos, as maravilhas vão se revelando: palmeiras, cactus, orquídeas.
Há plantas de todos o tamanhos e idades, não apenas porque sempre chegam mudas e sementes novas, mas também porque algumas podem levar até dez anos para germinar. Outras germinam rapidamente, mas demoram para crescer. Há casos de baobás que só se tornam adultos depois de um século.
A variedade enriquece a paisagem. Enquanto o Jardim de Pedra reúne plantas tão pequenas que parecem feitas para as crianças brincarem de boneca, há árvores que já atingiram 40 metros de altura. Ao lado de palmeiras que se projetam no sentido vertical, plantas aquáticas espalham-se horizontalmente sobre a água.
Embora o horto já tenha espécies exóticas do mundo inteiro, Marcel continua querendo mais e segue em busca de novas sementes ou mudas com a mesma empolgação que tinha em 1982, quando mudou-se para Sergipe e começou a plantar. Só que agora, sua terra já não é mais um ‘jardim botânico de um homem só”. Além da ajuda de Domingos, um nativo da região do Caípe que acompanha seu trabalho há muitos anos, Marcel conta com a colaboração do próprio ecossistema e afirma que muitas árvores do horto germinaram a partir de sementes trazidas por morcegos. Isso sem contar no contato e intercâmbio que ele mantêm com profissionais de outros parques.
Além de não estar mais sozinho na construção do horto, Marcel também está longe de ser o único espectador das maravilhas que cultivou. O sítio é visitado por amigos, por pessoas que conseguem chegar até ele com a ajuda de conhecidos comuns, e também por pesquisadores e universitários.
A busca do conhecimento foi, desde o início desse trabalho, uma das grandes preocupações de Marcel, que abre mão de quase tudo para conseguir comprar livros de Botânica. Talvez por isso, tenha conseguido ir tão longe, mesmo sendo estrangeiro.
Horto de Caípe Velho: um jardim de sonhos
Antes de conhecer Neusa e se mudar para o Brasil, formou-se em uma escola de artes e trabalhou em gráfica fazendo retoques artísticos, mas, ainda em Zurich, mudou seu foco para a área da fotografia,.e foi esse seu primeiro trabalho no Brasil – fotógrafo do Centro de Criatividade de Aracaju. Depois que o Horto de Caípe Velho já estava estruturado, Marcel sentiu falta da atividade artística e começou a fazer tapeçaria.
Aparentemente, a formação de Marcel e sua nova atividade de tapeceiro não têm qualquer relação com o trabalho de Botânica, mas quem visita o Horto de Caípe Velho – ou Jardim Botânico, como preferem alguns – , percebe que não se trata apenas de um algomerado de plantas, ordenados pela lógica da botânica, mas de uma ‘pintura’ natural comparável ao trabalho dos mais famosos paisagistas.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, sobre outros lugares dedicados à preservação ambiental: Floresta da Tijuca / Jardim Botânico do Rio / Arara-azul-de-lear / Parque dos Falcões / Projeto Tamar
Horto de Caípe Velho – São Cristóvão – Sergipe – Brasil – América do Sul
Fotos
- (1,2,4,5 e 9) Clara Angélica Porto
- (3,6,7 e 8) Lucinha Simões
Participação especial:
- Ruth Oliveira
O Marcel é um Ser Humano de grande sensibilidade e de um amor imenso pelas plantas.
Conheci e me encantei com esse horto e com o trabalho de mágico do Marcel.
Abraços
Val Cantanhede
Tive o privilégio de visitar o lugar é fiquei encantada. Só posso agradecer por tamanha dedicação!
Matéria maravilhosa! Texto, conteúdo e fotos muito bonitos. Parabéns!
Pretendo visitar,
Tenho paixão por oropronobis, e procuro a espécie dourada, alguém sabe onde adquirir em Sergipe?
Que apaixonante história.
Que legal, Sylvinha! Deve ser lindo!
Eu tb sou apaixonada por plantas. Há quatro anos fiz uma pos graduação em Terapia Auyveda e aumentou minha paixao. Trabaho principalmente com a ORAI PRÓ NOBIS e Moringa, fazendo pesquisas usando como alimentos e fitoterapico .
Parabens a Marcel. Acho que o conheço. Tenho ligação com Sergipe . Meu sobrinho Tarcisio tb mora em Sao Cristóvão e tem um sitio onde cria cavalos.
Me encantei com seu trabalho e gostaria de conhcer seu jardim botanico . Tenho um mini espaco onde planto e cultivo, pratico permacutura. Sou uma amante tb da natureza.
Obrigada pelo comentário, TK Alves. Vou enviá-lo a Marcel. Toda quinta tem matéria nova no blog. Volte sempre! Abs, Sylvia
Valeu, Val. Beijão
É impressionante mesmo! Obrigada pelo comentário.
Obrigada, Márcia.Toda quinta tem matéria nova por aqui. Não perca!
Valeu, Valtinho. Bom constatar que você acompanha o blog. Beijo
Acho que só o próprio Marcel poderia responder esta perguta. Enviarei a ele. Obrigada pelo comentário.
Muito legal, não é?
É lindo e impressionante.
Excelente matéria! Obrigada por nos apresentar lugares tão interessantes e bonitos! Para mim, foi uma grata surpresa saber da existência desse jardim botânico aqui em Sergipe!
Obrigada, Maria Consuelo. Pela leitura e pelo comentário. Toda quinta tem matéria nova no blog. Acompanhe!
Fantástico. Como não conhecemos coisas nossas.
É verdade, Sidney. Você sabia que o blog nasceu desta constatação? Foi quando descobri que a banheira onde se diz que Mário de Andrade escreveu Macunaíma estava em um museu de Araraquara, perto de São Paulo, e eu nunca tinha ouvido falar nisso.
Perfeito!!!
Obrigada! Pena que você não se identificou. Toda quinta tem matéria nova no blog. Acompanhe! Abraço
Gostaria muito de entrar em contato com o Marcel. Como devo fazer?
Por favor envie uma mensagem para o blog pelo formulário de contato, se identificando, e veremos um meio de lhe ajudar, ok?
Boa noite. Tenho uma página, juntamente com outros dois amigos, sobre a história da cidade de Estância. Nela, postamos fotos e vídeos antigos da cidade. Será que Marcel possui fotos de Estância tiradas por ele em décadas passadas? Meu nome é Danrley de Lima Santos. email: [email protected]/ nome da página: Memórias de Estância (facebook e instagram). Grato desde já.
Olá, Danrley, obrigada pela mensagem. Infelizmente não tenho como responder à sua pergunta. Sugiro que entre em contato diretamente com Marcel.
Lendo somente em dezembro/2020. Qual a localização do horto? Procurei no Google e não achei… A visitação é aberta ao público? Precisa agendar? Qual o horário de funcionamento? Tem algum contato de lá?
Parabéns pela matéria, não sabia que tínhamos um tesouro desses tão perto!
Obrigada pelo comentário, Cris. Como falei na matéria, o horto fica na zona rural de São Cristóvão.
Infelizmente, a visitação não é aberta ao público de forma regular, mas entrando em contato, é muito provável que você consiga agendar.
Fale comigo pelo email [email protected] que eu te passo o canal.
Que história incrível a do Marcel! Fico maravilhada como pessoas assim conseguem construir algo tão lindo como o Horto de Caipe Velho sem grandes pretensões ou ambições, simplesmente para fazer algo bonito aos olhos.
É incrível mesmo e o lugar é muito especial. Vale a pena visitar.
Por favor, não consigo mais contato com o Marcel. Fazíamos intercâmbio de plantas e não consigo falar no telefone da filha dele. Por favor se tiver um novo contado me envie. Grato.
Por favor envie um email para [email protected] e se identifique.
Que especial conhecer o Horto de Caípe Velho, este lindo jardim botânico de um homem só. Confesso que desconhecia totalmente e achei a história impressionante. Que linda história!
Que bacana a história do Marcel em construir o Horto de Caipe. Pelas imagens dá para ver o carinho e o cuidado que ele tem com o local, lindíssimo esse jardim botânico
Amei esse lugar incrível. Que pena que o Horto de Caipe Velho não está aberto ao público. Adoraria poder conhecer um dia.
Esse horto de Capipe Velho é muito legal e quase um Jardim Botanico mesmo. Adorei o que o fotografo fez no local. Interessante como uma pessoa transforma o local. ABraços
Que iniciativa louvável do Marcel. Depois de ler teu post, fiquei com vontade de conhecer o Horto de Caípe Velho. Pena que não é aberto ao público.
É verdade, Moisés, ele transformou aquele lugar.
Uma pena mesmo, mas só de saber que existe já é legal, né?
É, todo mundo lamenta isso.
Muita gente desconhece. Não tem divulgação. Eu só fui lá porque tenho amigos que conhecem Marcel.
Sim, uma dedicação imensa.
Que lugar lindo esse horto de Caípe Velho ! Na verdade, um jardim botãnico fantástico. Marcel Nauer é uma pessoa de extrema sensibilidade com a arte da natureza
Imaginar que um jardim botânico de um homem só é tão lindo! EU já quero conhecer o Sr. Marcel e seu maravilhoso Horto de Caípe Velho.
Adorei conhecer a história do Horto de Caípe Velho: o jardim botânico de um homem só. Obrigada por compartilhar com a gente!
Que achado hein? Um jardim botânico de um único homem, que tem paixão por plantas, artes e a esposa que não está catalogado e só dá para agendar por indicação e aos domingos. O dia que eu for a Sergipe, certamente quero conhecer! Mas ai vou ter que falar com você para conseguir me indicar heheheh. Beijos adorei a matéria!
É verdade. É um lugar lindo e Marcel é uma pessoa incrível.
Vale a pena. É uma visita inesquecível.
Eu que agradeço. pela leitura e pelo comentário.
Beijos. Que bom que gostou.
Olha só, em 1980 eu morava em Aracaju. Pouco antes morei em Nossa Senhora das Dores, um interior bem pertinho de São Cristóvão e lembro de irmos à cidade algumas vezes. Uma pena que não conhecemos o Horto de Caípe Velho. Um lugar muito interessante pelo que li aqui.
Ah, pena mesmo, Cynara. Mas compreensível porque o Horto de Caípe Velho não fica permanentemente aberto ao público. É preciso ei tear e contato com eles e agendar uma visita. Além disso, não tem nenhuma divulgação.