Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite
A poesia está em toda parte, a começar pela própria ideia de construir o Cemitério dos Pássaros na poética Ilha de Paquetá, que é um bairro do Rio de Janeiro. Prossegue na trilha sonora, pois, permanentemente, seja ou não dia de enterro, quem visita o local é embalado pelo canto de dezenas de pássaros que parecem entender sua ligação com o local. E, para completar, a poesia está literalmente impressa em sua parede principal transformada em Painel Poético para abrigar trechos de poemas e de letras de músicas.
O painel é democrático. Os fragmentos literários publicados em suas placas de granito reúnem desde clássicos da Literatura e da Música Popular, como Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, e Passaredo, de Chico Buarque e Francis Hime, até textos de desconhecidos passando pelo cancioneiro popular e por artistas locais. Caso de Januário Santos Sabino que não nasceu, mas viveu na ilha, ou de Maria do Carmo Zerbinato, da Academia de Paquetá, autora dos seguintes versos:
Liberdade / Amor / Carinho / teu / nome / passarinho …
Mistério / nossos / passarinhos / têm/ também / cemitério 1
Pássaros no lugar de anjos
E as manifestações artísticas não param aí. Assim como nos cemitérios tradicionais, o Cemitério dos Pássaros de Paquetá também abriga imagens, mas em vez de anjos e santos, elas retratam pássaros esculpidos pelo artista plástico, cantor, paisagista e poeta Pedro Paulo Bruno – que junto com Augusto Silva foi idealizador do cemitério.
Pedro Bruno, como ficou conhecido, era filho de italianos e nasceu em 1888 na própria Ilha de Paquetá. Sua obra mais conhecida é a Pintura “A Pátria”, exposta atualmente no Museu da República. Para os nativos da ilha, no entanto, suas obras mais familiares são as esculturas que enfeitam o Cemitério dos Pássaros.
Segundo o texto gravado no portal de entrada, Pedro Bruno e Augusto Silva conceberam aquele espaço “com o simbolismo do amor à natureza e aos pássaros”. O texto diz ainda que o local é mantido com a ajuda de moradores e vizinhos, o que continua valendo até hoje.
São apenas 24 covas, que medem aproximadamente 30 por 40 centímetros, mas isso não significa que o Cemitério dos Pássaros tenha pouco movimento. Ocorre que os pequenos e frágeis ossos dos animaizinhos se deterioram mais rapidamente que os dos humanos, dando lugar aos que vão chegando depois.
Provavelmente por causa dessa rotatividade, as covas não são identificadas como ocorre com os túmulos humanos, mas isso não impede que seus donos, ou quem os enterrou, volte à ilha para visitá-los e para homenageá-los com flores. Sim, porque a maioria das aves levadas ao Cemitério dos Pássaros vêm de outros bairros do Rio de Janeiro ou até mesmo de outros estados.
Sob a proteção de São Francisco
O Cemitério dos Pássaros fica ao lado – praticamente no mesmo terreno – do Cemitério de Paquetá, que assim como o vizinho foge ao formato tradicional. O cemitério abriga uma curiosa capela, com uma das laterais aberta (sem paredes) e bancos de pedra, dedicada a São Francisco de Assis – santo que ficou conhecido como o protetor dos animais.
Ao lado da igreja, numa espécie de jardim, uma cova está marcada por uma grande cruz branca que sustenta, nas pontas da haste horizontal, duas imagens de pássaros. A cruz tem ainda, a seus pés, uma placa com a seguinte inscrição: “Só Deus sabe o que está aqui”.
O Cemitério dos Pássaros e o Cemitério de Paquetá, também conhecido como Cemitério de Santo Antônio, estão curiosamente localizados à rua Joaquim Manoel de Macedo, batizada assim em homenagem ao autor do romance “A Moreninha” – um das mais festejados livros brasileiros do século 19, considerado a obra inaugural do Romantismo no país.
O livro de Macedo está intimamente ligado ao imaginário de Paquetá porque acredita-se que ele tenha se baseado na paisagem da ilha para ambientar a história de amor. E há até quem sugira que o enredo do romance foi inspirado em uma história real vivida por moradores locais.2
Além de batizar a rua onde se localizam os dois cemitérios, Macedo é lembrado em uma praia, uma pedra e vários outros pontos da cidade que levam o nome do seu romance. 3
Notas
- 1 Poema Vice-versa, Paquetá 2014, Maria do Carmo Zerbinato
- 2 A Moreinha - Manoel de Macedo - 1844
- 3 Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais da cidade do Rio de Janeiro: Paquetá / Urca / Jardim Botânico do Rio / Casa da Gávea / Museu do Amanhã / Castelo Mourisco da Fiocruz / Museu de Imagens do Inconsciente / Cristo Redentor / Floresta da Tijuca
Cemitério dos Pássaros – Ilha de Paquetá – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil – América do Sul
Fotos
- Sylvia Leite
Que cemitério lindo! Também adorei a capela de São Francisco, aberta do lado… deve ser bem agradável sentar nos bancos de pedra. Paquetá é a cara da minha infância, fui inúmeras vezes lá, mas nunca fui ao cemitério… uma pena. Gostaria de conhecer.
O Cemitério dos Pássaros é lindo mesmo e a capelinha de São Francisco é uma preciosidade.
Faz tanto tempo que não vou a Paquetá, ia muito na minha infância, não lembro se conheci o cemitérios dos pássaros na época, mas como quero voltar irei lá com certeza.
Vá sim, Hebe, você vai gostar do Cemitério dos Pássaros.
Que lugar mais lindo e melancólico esse cemitério de pássaros. Já fui tantas vezes ao Rio, mas ainda não conheço Paquetá. Preciso ir!
Vale a pena conhecer o Cemitério dos Pássaros e toda Paquetá.
O conjunto do cemitério dos pássaros com suas poesias , esculturas e lembranças constantes desses entes alados que nos falam de liberdade e leveza, junto com a Igreja de São Francisco na sua extrema simplicidade que nos relembra o Santo da Natureza e da Humildade, faz desse local um Hino de Amor. Parabéns Sylvia pela sensibilidade de nos mostrar essa história.
Valeu, Gusta! O Cemitério dos Pássaros e a capela de São Francisco são realmente preciosos. Têm a liberdade e a leveza que você atribui aos pássaros.
Que graça de lugar. Ainda preciso conhecer Paquetá. Esse cemitério de pássaros me fez lembrar de um cemitério de gatos lá em Blumenau, tão poético quanto
O Cemitério dos pássaros é um lugar especial mesmo.
Quando estive em Paquetá achei o Cemitério dos Pássaros muito interessante, é bem diferente a ideia né.
Sim, o Cemitério dos Pássaros é algo inusitado. Não conheço nenhum outro, embora já tenha ouvido falar wue existe pelo menos mais um.
Parece ser um local muito interessante o Cemitério dos Pássaros. Quando eu for a Paquetá, irei conhecer.
Vá mesmo, Alexandra.Você vai adorar o cemitério dos pássaros.
Estou com viagem marcada para o RJ em dezembro, ainda não conheço Paquetá, mas acabou de entrar no meu roteiro. Fiquei curiosa para conhecer o Cemitério dos Pássaros, nunca imaginei que existisse um. E saber que tem uma capela de São Francisco de Assis do lado me deixou mais entusiasmada ainda, faço coleção de imagens dele e sempre que vou uma cidade que tem alguma igreja dedicada a ele, entro.
Então você vai amar o Cemitério dos Pássaros e a capela de São Francisco.