Cemitério dos Pássaros: recanto poético em Paquetá

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 05/02/2023 por Sylvia Leite

Painel poético no Cemitério dos Passaros - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAA poesia está em toda parte, a começar pela própria ideia de construir o Cemitério dos Pássaros na poética Ilha de Paquetá, que é um bairro do Rio de Janeiro. Prossegue na trilha sonora, pois, permanentemente, seja ou não dia de enterro, quem visita o local é embalado pelo canto de dezenas de pássaros que parecem entender sua ligação com o local. E, para completar, a poesia está literalmente impressa em sua parede principal transformada em Painel Poético para abrigar trechos de poemas e de letras de músicas.

O painel é democrático. Os fragmentos literários publicados em suas placas de granito reúnem desde clássicos da Literatura e da Música Popular, como Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, e Passaredo, de Chico Buarque e Francis Hime, até textos de desconhecidos passando pelo cancioneiro popular e por artistas locais. Caso de Januário Santos Sabino que não nasceu, mas viveu na ilha, ou de Maria do Carmo Zerbinato, da Academia de Paquetá, autora dos seguintes versos:

Liberdade / Amor / Carinho / teu / nome / passarinho …

Mistério / nossos / passarinhos / têm/ também / cemitério 1

Pássaros no lugar de anjos

Imagens de pássaros no cemitério - Fotos de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA cópiaE as manifestações artísticas não param aí. Assim como nos cemitérios tradicionais, o Cemitério dos Pássaros de Paquetá também abriga imagens, mas em vez de anjos e santos, elas retratam pássaros esculpidos pelo artista plástico, cantor, paisagista e poeta Pedro Paulo Bruno – que junto com Augusto Silva foi idealizador do cemitério.

Pedro Bruno, como ficou conhecido, era filho de italianos e nasceu em 1888 na própria Ilha de Paquetá. Sua obra mais conhecida é a Pintura “A Pátria”, exposta atualmente no Museu da República. Para os nativos da ilha, no entanto, suas obras mais familiares são as esculturas que enfeitam o Cemitério dos Pássaros.

Segundo o texto gravado no portal de entrada, Pedro Bruno e Augusto Silva conceberam aqueleCovas de passaros - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA espaço “com o simbolismo do amor à natureza e aos pássaros”. O texto diz ainda que o local é mantido com a ajuda de moradores e vizinhos, o que continua valendo até hoje.

São apenas 24 covas, que medem aproximadamente 30 por 40 centimetros, mas isso não significa que o Cemitério dos Pássaros tenha pouco movimento.Ocorre que os pequenos e frágeis ossos dos animaizinhos se deterioram mais rapidamente que os dos humanos, dando lugar aos que vão chegando depois.

Provavelmente por causa dessa rotatividade, as covas não são identificadas como ocorre com os túmulos humanos, mas isso não impede que seus donos, ou quem os enterrou, volte à ilha para visitá-los e para homenageá-los com flores. Sim, porque a maioria das aves levadas ao Cemitério dos Pássaros vêm de outros bairros do Rio de Janeiro ou até mesmo de outros estados.

Sob a proteção de São Francisco

Capela de São Francisco de Assis - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAO Cemitério dos Pássaros fica ao lado – praticamente no mesmo terreno – do Cemitério de Paquetá, que assim como o vizinho foge ao formato tradicional. O cemitério abriga uma curiosa capela, com uma das laterais aberta (sem paredes) e bancos de pedra, dedicada a São Francisco de Assis – santo que ficou conhecido como o protetor dos animais.

Ao lado da igreja, numa espécie de jardim, uma cova está marcada por uma grande cruz branca que sustenta, nas pontas da haste horizontal, duas imagens de pássaros. A cruz tem ainda, a seus pés, uma placa com a seguinte inscrição: “Só Deus sabe o que está aqui”.

O Cemitério dos Pássaros e o Cemitério de Paquetá, também conhecido como Cemitério de Santo Antônio, estão curiosamente localizados à rua Joaquim Manoel de Macedo, batizada assim em homenagem ao autor do romanceCruz branca sobre tumulo com passaros nas pontas - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA “A Moreninha” – um das mais festejados livros brasileiros do século 19, considerado a obra inaugural do Romantismo no país.

O livro de Macedo está intimamente ligado ao imaginário de Paquetá porque acredita-se que ele tenha se baseado na paisagem da ilha para ambientar a história de amor. E há até quem sugira que o enredo do romance foi inspirado em uma história real vivida por moradores locais.2

Além de batizar a rua onde se localizam os dois cemitérios, Macedo é lembrado em uma praia, uma pedra e vários outros pontos da cidade que levam o nome do seu romance. 3

Notas

Cemitério dos Pássaros – Ilha de Paquetá – Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil – América do Sul

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  • Sylvia Leite
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Sonia Pedrosa
1 ano atrás

Que cemitério lindo! Também adorei a capela de São Francisco, aberta do lado… deve ser bem agradável sentar nos bancos de pedra. Paquetá é a cara da minha infância, fui inúmeras vezes lá, mas nunca fui ao cemitério… uma pena. Gostaria de conhecer.

Hebe
Hebe
1 ano atrás

Faz tanto tempo que não vou a Paquetá, ia muito na minha infância, não lembro se conheci o cemitérios dos pássaros na época, mas como quero voltar irei lá com certeza.

Marcella
Marcella
1 ano atrás

Que lugar mais lindo e melancólico esse cemitério de pássaros. Já fui tantas vezes ao Rio, mas ainda não conheço Paquetá. Preciso ir!

Augusta
Augusta
1 ano atrás

O conjunto do cemitério dos pássaros com suas poesias , esculturas e lembranças constantes desses entes alados que nos falam de liberdade e leveza, junto com a Igreja de São Francisco na sua extrema simplicidade que nos relembra o Santo da Natureza e da Humildade, faz desse local um Hino de Amor. Parabéns Sylvia pela sensibilidade de nos mostrar essa história.

Marcela
Marcela
1 ano atrás

Que graça de lugar. Ainda preciso conhecer Paquetá. Esse cemitério de pássaros me fez lembrar de um cemitério de gatos lá em Blumenau, tão poético quanto

Ana
Ana
11 meses atrás

Quando estive em Paquetá achei o Cemitério dos Pássaros muito interessante, é bem diferente a ideia né.

Alexandra
Alexandra
7 meses atrás

Parece ser um local muito interessante o Cemitério dos Pássaros. Quando eu for a Paquetá, irei conhecer.

Cynara Vianna
7 meses atrás

Estou com viagem marcada para o RJ em dezembro, ainda não conheço Paquetá, mas acabou de entrar no meu roteiro. Fiquei curiosa para conhecer o Cemitério dos Pássaros, nunca imaginei que existisse um. E saber que tem uma capela de São Francisco de Assis do lado me deixou mais entusiasmada ainda, faço coleção de imagens dele e sempre que vou uma cidade que tem alguma igreja dedicada a ele, entro.