Atualizado em 30/04/2024 por Sylvia Leite
Falar em Torres de Sevilha, assim no plural, é algo que pode causar estranheza a quem já visitou a cidade, pois o que comumente se apresenta a quem chega de fora é apenas a construção que se tornou um de seus cartões postais: a Torre do Ouro ou Torre del Oro em seu nome espanhol. Ocorre que além dessa existe outra, também construída durante o Califado Almohade, nos século 12, denominada Torre da Prata, ou Torre de la Plata.
As duas torres pertenciam a um esquema defensivo que circundava a cidade a fim de protegê-la de invasões pelo Rio Guadalquivir. Antecedendo a muralha, ainda dentro do rio, havia uma corrente que impedia a passagem de embarcações não autorizadas.
Torres de Sevilha
Os construtores das torres de Sevilha pertenciam a um dos grupos muçulmanos que se sucederam nos governos da Península Ibérica a partir do século 7. Tinham o nome de Almohades, vieram do Marrocos e eram de origem berbere.
As torres do Ouro e da Prata foram construídas com formas harmônicas entre si – a primeira dodecagonal e a segunda octogonal. Eram originalmente ligadas por uma ‘coracha’ – o mesmo tipo de muralha secundária que as ligava à muralha.
Tanto uma como outra eram do tipo ‘albarranas’ – nome dado a construções que fazem parte da estrutura fortificada, mas localizam-se do lado de fora das muralhas e ligam-se a elas por meio muros secundários ou ‘corachas’. Essas ligações podiam ser fixas ou removíveis, ter forma de arcos ou pontes, mas frágeis o suficiente para serem destruídas no caso da torre ser tomada por inimigos. Esse tipo de construção é típica da arquitetura militar muçulmana e o nome ‘albarranas’ provavelmente vem da palavra árabe ‘barranu’ que significa exterior*.
A partir do século 16, quando esse tipo de proteção não era mais necessária, a Torre da Prata passou a ser usada sucessivamente para outros fins, até que foi abandonada e acabou servindo de abrigo para moradores de rua. Ao longo do tempo, perdeu o muro de ligação com a Torre de Ouro e ficou escondida atrás de prédios. Mas, em 1992, a Torre da Plata foi restaurada como parte dos preparativos para a Exposição Universal de Sevilha, conhecida popularmente como “Expo’92” e hoje pode ser de perto a partir de um estacionamento de veículos.
A Torre do Ouro
Já a Torre do Ouro teve uma história diferente. Na época dos almohades, dizia-se que além de servir à defesa, também era usada para os encontros amorosos do califa. Mesmo depois que o esquema defensivo se desfez, nunca deixou de funcionar: primeiro como capela dedicada a São Isidro, depois como prisão. Desde 1936, a Torre do Ouro abriga o Museu Maritimo ‘Torre del Oro’ de Sevilla, que narra a história da cidade e a importância do rio para o seu desenvolvimento. Entre as principais peças do acervo está uma maquete do ‘Don Fernando’ – primeiro barco a vapor construído na Espanha.
A Torre do Ouro foi batizada originalmente em Árabe com o nome Borg al-Dsayeb, expressão alusiva ao brilho dourado que a torre refletia sobre o rio. Durante muito te
mpo, imaginou-se que isso se devesse ao fato da torre ter sido, um dia, revestida por azulejos pintados em ouro, mas, durante as obras de restauração realizadas em 2005, descobriu-se a causa do brilho era uma mistura de argamassa de cal com palha prensada.
Talvez por ter sido mais usada e também mais preservada, a Torre do Ouro acabou ganhando um acréscimo e se tornando uma construção mista, composta por três seções: as duas primeiras dodecagonais, construídas em 1221 pelo califa Abù-I-a Ulà; terceira cilíndrica, com cúpula coberta por azulejos dourados, construída em 1760 pelo engenheiro militar Sebastián Van der Borcht.
Outras torres de Sevilha
Além das torres do Ouro e da Prata, Sevilha tem, ainda, outras duas que merecem ser admiradas. A Torre do Bronze e a Torre Abdel Aziz, ambas do período Almohade. Embora o nome sugira uma continuidade, a Torre do Bronze não tem ligação direta com as outras duas que levam nomes de metais e foi construída muito antes delas . Na verdade, sabe-se pouco sobre essa torre. Ela ganhou esse nome em 2012, quando sua ruína foi descoberta durante as obras de restauração de um edifício ao qual estava anexada. É uma torre quadrada e pertencia ao prolongamento da muralha do Alcázar.
A outra que merece ser conhecida é chamada de Torre Abdel Aziz, nome de um califa que governou Sevilha por cinco anos, no século 8. É chamada também de Santo Tomás por estar localizada em uma rua que tem esse nome. Assim como a Torre do Bronze, é bem mais antiga que as torres do Ouro e da Prata. Escavações feitas no início do milênio em pátios do Alcázar mostraram que sua construção coincide com o processo de expansão militar do Alcázar que ocorreu cerca de um século antes.
Mesmo sabendo que pertencem a períodos distintos, é interessante notar como as quatro torres obedecem a uma ordem crescente no que diz respeito ao número de lados em relação à distância que se encontram do rio. Da mais distante, com quatro lados, à mais prórima, dodecagonal.1
Notas:
- 1 Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais da Andaluzia com herança muçulmana: La Giralda / Guadix / Arcos de la Frontera / Ronda / Algodonales / Mesquita de Córdoba
Torres de Sevilha – Sevilha – Andaluzia – Espanha – Europa
Fotos:
- (1) O autor não foi fornecido de forma legível por computadores. Presume-se que seja Morinpat (com base nos direitos de autor reivindicados) - Wikimedia
- (2) Domínio público - Wikimedia
- (3) De Lobillo - Wikimedia
- (4) De Galván - Wikimedia
Referências:
- Site Curiosa Sevilla
- Site do Museu Maritimo de Sevilha
Para saber mais
- Descubra outros lugares especiais dessa cidade andaluza, na lista de 10 coisas que você precisa fazer em Sevilha na Espanha, preparada pelo blog Vamos por ai
Mais uma grande escolha.
Valeu, Sidney, beijo
Sylvia, eu sou completamente apaixonada por Sevilha, fiquei encantada em conhecer a história das torres através do seu blog! Cada post é uma aula diferente.
Bom saber que gostou. Volte sempre. Toda semana tem matéria nova por aqui.
Não conhecias as Torres de Sevilha e fiquei encantada com a sua beleza e história.
São bonitas mesmo e a história é bem interessante. Volte sempre, Patrícia.
É muito interessante a influência Almohade no sul da Espanha! Podemos ver essa infância sobretudo em Sevilha, por suas torres.
Sim, em Sevilha com as torres e com o Alcázar; em Granada, com Alhambra.
Quando estive em Sevilha conheci a Torre de Ouro, mas não me atentei para a Torre de Prata. Lendo sua matéria fiquei com vontade de voltar e conhecer as outras torres de Sevilha que não tive oportunidade de conhecer pelo simples fato de não saber sua história.
Agora já sabe rsrs Quando voltar lá experimente visitar tofdas elas.
Sevilha não seria a mesma sem as torres. Muito bom, conhecer a história delas. Valeu, Sylvinha!
Que bom que gostou, Soninha. Beijo
Que linda Torres de Sevilha na Espanha. Sevilha já é um destino encantador que quero muito explorar e Torres de Sevilha é outro atrativo que está na linha lista. Uma herança almohade.
As Torres de Sevilha são realmente encantadoras. Vale a pena conhecer, Deyse.
As torres de Sevilha São encantadoras. Eu amo Sevilha desde que eu era adolescente etenho sonho de ir conhecer.
VOCê não vai se decepcionar. Sevila é linda e agradável.
Ainda não conheço Sevilha mas tenho muita vontade. Parece ser uma cidade maravilhosa, com esse cenário de torres enfeitando tudo. Muito legal saber a história por trás.
Sim, Marcella, Sevilha é simplesmente linda. Além das torres, tem muitas outras atrações. Uma delas já foi retratada aqui: La Giralda e seu Giraldillo