Atualizado em 16/10/2024 por Sylvia Leite
Entre as marcas deixadas em Londres pela rainha Elizabeth II (falecida dia 8 de setembro de 2022, aos 96 anos) certamente está a torre que abriga o relógio mais famoso do mundo, conhecido como Big Ben. Embora tenha uma história secular, a estrutura, que faz parte do Palácio de Westminster, sede do Parlamento do Reino Unido, foi batizada com o nome de Elizabeth Tower em 2012 para marcar o jubileu de Diamante de seu reinado. Foram os sinos do relógio que pontuaram a despedida da rainha em Londres, composta por cortejo, velório e cerimônia funeral – estes últimos no Hall e na Abadia de Westminster, que compõem o mesmo conjunto monumental.1
O Big Ben e a Elizabeth Tower parecem ter se preparado para o evento. Em 2017, foi iniciada a maior reforma de sua história e os sinos do relógio só voltaram a tocar no último dia de 2021, depois de um silêncio de cinco anos. Os motivos oficiais da reforma, claro, foram outros: antes de tudo, o relógio é muito antigo e havia uma ameaça de seu mecanismo falhar de repente. Além da necessidade de modernização, precisava de alguns reparos. Tudo isso junto à consciência de que, com o passar dos anos, aumentariam os problemas e também o seu orçamento, o que poderia tornar a obra inviável.
A reforma do Big Ben foi considerada complexa porque a torre está localizada no meio de um parlamento movimentado e a obra não seria pequena. Envolveu desde questões básicas como o restauro de pedras em ruínas, ferragens enferrujadas e telhados com vazamentos até a melhoria da eficiência energética a fim de reduzir seu impacto ambiental. Houve ainda, uma profunda reformulação dos sistemas de segurança visando tanto o público como as equipes de manutenção. Para completar, os idealizadores da obra decidiram resgatar o projeto original, o que fez com que os ponteiros do relógio, há anos pintados de preto, voltassem a ter uma combinação de azul da Prússia com dourado.
Curiosidades e números do Big Ben
O reinado de Elizabeth II, a rainha que lhe deu nome, foi o sexto que a torre testemunhou desde que seus sinos começaram a tocar em 1859. No mesmo período, o Reino Unido teve 41 primeiros-ministros. Atualmente, o Big Ben assiste ao sétimo reinado – o do rei Charles.
A imagem da torre com seu famoso relógio, assim como a rainha Elizabeth II, tornaram-se icones do Reino Unido nas últimas décadas e símbolo de identidade dos britânicos.
A torre tem 11 andares e 96 metros de altura. Em sua estrutura foram usados 850 metros cúbicos de pedra e 2.600 metros cúbicos de tijolo. Isso sem contar com materiais mais refinados como pedra Anston, de Yorkshire, pedra Clipsham, de Rutland, e Calcário Caen, importado da França.
O relógio é composto por quatro mostradores e cada um deles reúne 324 peças de vidro opalino sustentadas por uma estrutura de ferro fundido. Cada tipo de ponteiro é feito de um metarial diferente e a composição se repete nas quatro faces. Os dos minutos são de folha de cobre e os das horas de metal de arma.
O mecanismo do Big Ben mede 4,7 m de comprimento e 1,4 m de largura. É feito de ferro fundido e pesa cinco toneladas. O relógio foi concebido para, como os ingleses, ser mais pontual do mundo e parece ter conseguido atingir sua meta.
Os ajustes são feitos com centavos pré-decimais. Para se ter uma ideia do que isso significa, a adição de um centavo acrescenta ao relógio dois quintos de segundo a cada 24 horas. Além dos ajustes, foi criado um complexo sistema denominado ‘Double Three-legged Gravity Escapement’ que compensa interferências externas como o impacto do vento nos ponteiros e é fundamental para manter a hora exata.
A expressão Big Ben é, na verdade, o nome do sino2 condutor das badaladas que anunciam as horas na Elizabeth Tower e acabou se tornando uma espécie de apelido não apenas do relógio, mas também da torre.
Além do Big Ben, há na torre mais quatro sinos, cujas notas se combinam para compor o som das badaladas. O maior e mais pesado é o Big Ben, com 13,7 toneladas.
Uma das curiodisidades do Big Ben e desses outros quatro sinos que formam o sistema sonoro da Elizabeth Tower é o fato de seus sons serem produzidos pela batida de martelos externos e não de badalos internos como ocorre na maioria dos sinos em todo o mundo. O Big Ben e três dos outros sinos possuem apenas um martelo cada. O quarto sino, no entanto, tem dois martelos para poder tocar, com rapidez, duas notas seguidas.
História e antecedentes do Big Ben
Embora não haja registros sobre isso, acredita-se que a primeira Torre do Relógio tenha sido construída na Idade Média (1290), já no lugar onde hoje se encontra a Elizazeth Tower. Quase oitenta anos depois é que viria a primeira torre documentada, que abrigava o primeiro carrilhão público da Inglaterra.
A Torre do Relógio (ou Elizabeth Twer) como conhecemos hoje só começaria a ser erguida em 1843, já na Idade Moderna), em meio à reconstrução de todo o complexo de Westminster que havia sido destruído por um incêncio três anos antes. Seu sino, que até hoje anuncia as horas marcadas pelo relógio, começou badalar em 1859 e foi transmitido pela rádio BBC para todo o Reino Unido em 1923, na véspera do ano novo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, o Big Ben ficou sem acender as luzes de seus quatro mostradores em cumprimenro às prdens de apagão. Já os sinos, deixaram de badalar em várias ocasiões – algumas por defeito, outras para reparos programados como o que durou de 2017 a 2022.
Imagem da democracia e ícone de Londres
Desde que a construção atual foi erguida, em 1859, o Parlamento Inglês e sua torre do relógio tornram-se ícones da Democracia e imagem do Parlamento como instituição. Isso porque o modelo de democracia parlamentar de Westminster foi seguido por muitos países do antigo Império Britânico levando o político e reformador britânico John Bright a declarar que “a Inglaterra é a mãe dos parlamentos”. Em parte por isso, e em parte por sua beleza arquitetônica, tanto o prédio de Westminster como sua torre tornaram-se ícones de Londres e inspiraram obras de arte no mundo inteiro.
Um dos exemplos mais marcantes é a tela The Thames Below Westminster de ninguém menos que Claude Monet – pintor francês conhecido no mundo inteiro como um dos mais fortes representantes do Impressionismo. A obra foi apresentada ao público em 1871, apenas uma década depois da inauguração da torre do relógio.
Em 2017, foi a vez de um londrino escolher o Big Ben como inspiração. Luke Adam Hawker retratou a torre do relógio em reforma, cercada de andaimes. O trabalho durou um dia inteiro e o desenho original agora faz parte da Coleção de Arte Parlamentar .
Entre um e outro, houve inúmeros retratos, homenagens, citações em praticamente todas as formas de arte entre as quais uma ‘escultura sonora’ do Big Ben também incluída no acervo de Westminstar.
Ainda no campo sonoro, o artista Peter Cusack fez uma consulta pública para gravar um disco com os sons favoritos dos londrinos e as badaladas do Big Ben ganharam primeiro lugar e o direito de aparecer na primeira faixa.
O Big Ben está, ainda,no imaginário daqueles que cresceram assistindo filmes da Disney. Foi em seus ponteiros que Peter Pan – o menino que nunca deixou de ser criança – pousou, junto com Wendy e seus irmãos, antes de partir com eles para Neverland ou Terra do Nunca. O relógio mais famoso do mundo também foi cenário dos filmes de Mary Poppins – a babá mágica que considerava tudo possível, até o impossível.33
Notas
- 1 Os sinos da Elizabeth Tower tocaram enquanto o corpo da rainha era levado em cortejo para o Hall e Westminster, no dia 14, e novamente no dia 19 de setembro, horas antes do enterro. Nesse dia, o Big Ben tocou 96 vezes, a cada minuto, em alusão aos 96 anos da rainha. No dia anterior, deveria ter tocado para marcar o início e o fim do 'minuto de silêncio', mas isso não ocorreu devido a um defeito no mecanismo dos sinos
- 2 Não há informações oficiais sobre a origem do nome do sino mas há pelo menos duas especulações históricas. A primeira afirma que Big viria do fato de ser o maior entre os cnco sinos da torre e Ben seria uma homenagem a Sir Benjamin Hall, o primeiro barão de Llanover, que foi supervisor da construção. Outros preferem a tese de que Ben seria uma alusão ao boxeador Benjamin Caunt que por sua altura e por ter um alto desempenho no esporte era cochecido como Big Ben
- 3 Leia, aqui no blog, sobre outros monumentos da Europa: La Giralda / Torres de Sevilla / Torre Eiffel / Elevador de Santa Justa
- 4 Leia, também, outras matérias sobre lugares especiais da Inglaterra: Abadia de Westminster / Stonehenge
Para saber mais
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Big Ben – Elizabeth Tower – Westminster Parlament – Londres – Inglaterra – Europa
Fotos
- (1) Graeme Maclean em Wikimedia, postado originalmente em Flickr , CC BY 2.0
- (2 e 3) Site do Parlamento do Reino Unido
- (4) Paulobrad em Wikimedia,CC BY-SA 4.0
- (5) Arild Vågen em Wikimedia,CC BY-SA 3.0
- (6) Autor desconhecido em Wikimedia, no site do Parlamento do Reino Unido, publicado originalmente em The Illustrated News of the World, Domínio Público
- (7) Obra de Claude Monet em National Gallery postada por site do Parlamento do Reino Unido
- (8) Imagem da Disney, postada por site do Parlamento do Reino Unido
Referências
- Site oficial do Parlamento do Reino Unido
Excelente momento. Excelente trabalho. Parabéns.
Obrigada, Sidney. Há muito tempo que eu queria fazer uma matéria sobre o Big Ben. Só estava esperando o final da reforma. Mas aí veio a morte da Rainha e achei melhor não esperar mais. Até porque a parte externa já está pronta.
Foi no momento exato. Apesar de triste, mas faz parte da vida.
Eu esperei muto pra fazer esta matéria sobre o Big Ben. Só queria fazer quando a reforma estivesse totalmente concluída, inclusive na parte interna, mas a morte da rainha me fez mudar de ideia.
Realmente, é um dos ícones mais importantes de Londres e da Inglaterra e você escreveu divinamente sobre ele. Em 2019, eu estive lá e ele estava em plena reforma. Ainda assim, foi bom conferir de perto.
Ah, que legal que deve ter sido olhar para o Big Ben cercado de andaime. Acho interessante quando os monumentos estão em reforma. Parace que isso os torna mais próximos, menos infalíveis hahaha
Excelente texto Sylvinha!
O Big Ben é mesmo um símbolo de Londres e de sua história.
Abraços
Vale, Val, que bom que gostou da matéria sobre o Big Ben.
O Big Ben continua sem tocar??
Não. Já está apto a tocar e, como disse na matéria, tocou na despedida da rainha, embora tenha falhado na marcação do inicio e do fim do minuto de silêncio.