Atualizado em 28/10/2024 por Sylvia Leite
Quem visita Niagara Falls, no Canadá, tem a oportunidade de posar para fotos diante de um barril, numa referência aos aventureiros que um dia resolveram desafiar a força das cataratas e descer suas águas dentro do artefato. A impressão inicial é que se trata de uma lenda, mas as aventuras são reais e a primeira1 delas foi protagonizada por uma senhora de 63 anos – a professora aposentada norte-americana Annie Edson Taylor – que, além de não ter morrido, saiu da água praticamente sem ferimentos. Vale lembrar que isso aconteceu em 1901, quando os sexagenários não eram considerados jovens como hoje e as mulheres enfrentavam muitas restrições.
Acredita-se que a empreitada foi bem sucedida porque Annie impermeabilizou o barril, colocou uma bigorna de 45kg para mantê-lo em pé e cercou o corpo de almofadas. Além disso, antes de se lançar nas águas, testou o barril com um gato dentro para ter certeza de que tudo correria como previsto. Ao que tudo indica, a professora desafiou as cataratas em busca de publicidade e de dinheiro, tanto que anunciou o que faria e teve o acompanhamento de turistas e repórteres. O dinheiro parece que nunca chegou, já a publicidade foiimediata. Logo depois do evento, ela passou a ser conhecida como “Heroina das cataratas do Niagara” e serviu de exemplo, e estímulo, para os que vieram depois. Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Cerca de 25 por cento dos que tentaram segui-la não conseguiram se salvar.
Uma descida perigosa
O primeiro a morrer foi o dublê americano Charles Stephens, que se aventurou em um barril russo de carvalho. Assim como Annie, ele também usou uma bigorna para manter o equilíbrio, mas não quis testar o equipamento. Durante a descida, a bigorna rompeu o fundo do barril e ele sumiu nas cataratas. O caso ficou tão famoso que virou tema de um dos capítulos do documentário da Discovery Channel, intitulado “As mais estranhas formas de morrer”. Além disso, Stephens ganhou o prêmio Darwin – uma espécie de homenagem irônica a pessoas que supostamente contribuem com a evolução humana ao morrer ou ficar estéril de forma incomum e por meio de suas próprias ações.
Entre os que, como Annie, conseguiram sobreviver, estão os canadenses Peter Debernardi e Jeffrey (Clyde) Petkovich – que se tornaram os primeiros a descer as cataratas em dupla. A motivação deles foi bem diferente dos demais: uma espécie de mensagem às crianças para mostrá-las que existem coisas melhores do que usar drogas. As crianças, aliás, foram alvo de mais duas ocorrências inspiradas por esse ‘desejo’ de descer as cataratas em um barril. Um deles é o episódio Niagara Falls – Vamos às cataratas, do desenho animado Pica Pau e o outro é a descida das cataratas pelo Mágico David Copperfield, em 1990, e que depois acabou se revelando um truque.
Embora muitos tenham sobrevivido, a descida é extremamente perigosa e está proibida desde 1951. Alémdaqueles que transformaram suas tentativas em espetáculos, há muitos outros aventureiros ou suicidas cujas façanhas ninguém fica sabendo. Pelo menos é o que indicam os mais de cinco mil corpos encontrados até hoje no local.
Mas nem só de aventuras vive a região. As cataratas do Niagara são fonte de energia elétrica e atraem turistas do mundo inteiro, interessados em contemplar sua beleza. Niagara Falls não é apenas o nome das cataratas. Nomeia, também, as duas cidades que margeiam o Rio Niagara na altura das quedas d’água: uma na província de Ontário, no Canadá, e outra no estado de Nova Iorque, nos Estados Undidos. Niagara é também o nome da região do Canadá por onde passa o rio e, na língua dos Iorqueses ou Haudenosaunee significa ‘trovoada de águas’. Já a palavra Haudenosaunee nomeia a maior das três quedas que compõem as cataratas, que fica do lado canadense.
Tudo isso já torna Niagara on the Lake um lugar agradável e encantador. O encantamento cresce ainda mais ao sabermos que a cidade, que esteve por meio século na condição de capital da colônia inglesa do Alto Canadá ou Canadá Superior, – hoje correspondente ao Sul da província de Ontário – foi cenário da assinatura do decreto que libertou os escravos em toda a região. Isso ocorreu em 1793, doze anos depois da fundação da cidade e cerca de 10 anos antes da Abolição da Escravatura no resto do Império Britânico3.
Além de história e beleza, Niagara on the lake guarda tradição artística, especialmente na área teatral, na qual se destaca o festival Shaw Festival, criado em 1962 pelos dramaturgos Brian Doherty de Niagara-on-the-Lake e Calvin G Rand de Buffalo (EUA), e inspirado no dramaturgo irlandês Bernard Shaw. O evento é realizado anualmente entre os meses de abril e outubro, atraindo um enorme público para a pequena cidade.
Como se tudo isso fosse pouco, Niagara on the Lake tem vinícolas e vinhedos localizados a poucos quilômetros de distância, que podem ser visitados de bicicleta. E entre a pequena cidade e Niagara Falls- onde ficam as cataratas – encontra-se o famoso relógio floral, com cerca de 12 metros de diâmetro e formado por mais de 15 mil flores.4
Notas
- 1 Cerca de 70 anos antes dela, outro norte-americano havia pulado de uma plataforma no Rio Niagara, mas do lado americano do rio e sem usar barril
- 2 Capítulo: O ator, o aventureiro e a banhista
- 3 Os territórios em poder da Companhia das Índias Orientais, Ceilão (atual Sri Lanka) e a Ilha de Santa Helena tiveram a abolição decretada ainda mais tarde, em 1843
- 4 Leia, aqui no blog, matéria sobre a Ponte 25 de abril, em Portugal, outro lugar que atrai aventureiros dispostos a enfrentar desafios
Niagara Falls e Niagara on the Lake – Ontário – Canadá – América do Norte
Referências
- Site oficial de Niagara Falls
- Site oficial de Niagara Falls
- Desenho animado Pica Pau – Episódio Niagara Fools: Vamos às cataratas
Para saber mais
- Para saber o que fazer na cidade das cataratas, acesse o roteiro de um dia em Niagara Falls elaborado pelo blog Viajoteca
- Descubra, também, as vinócolas e os atrativos históricos de Niagara on the Lake, na postagem do blog Entre Mochilas e Malinhas
- Para conhecer mais um pouco do Canadá, acesse a postagem sobre Toronto: a cidade mais multicultural do mundo, no blog O mundo em lanches
- Conheça também um pouco de Montréal, a maior cidade francesa do mundo depois de Paris, no blog Existe um Lugar no Mundo
Muito legal, Sylvinha! A cidade é uma gracinha e vale ficar uns dois dias para visitar as cataratas, jogar no cassino e aproveitar as várias atrações.
Beijão!
Que incrível, ainda não tive oportunidade de Conhecer Niágara e suas cataratas, fiquei apaixonada pela historia. Espero ter oportunidade de conhecer.
Tomara que você consiga. Vai gostar.
Adorei o seu post sobre Niagara, a região das cataratas, das histórias e das flores! É um lugar que ainda não conheço mas tenho muita vontade! Assim como todo o Canadá! Amei conhecer a história também!
Que bom que gostou. É uma região linda que vale a pena conhecer.
Com certeza. É um dos lugares mais bonitos e agradáveis que já visitei.
Adoro saber mais sobre a história de destinos que quero visitar. Seu post contando curiosidades sobre a região das cataratas do Niagara me encantou.
Bom saber disso, Angela. Volte sempre! Toda quinta tem matéria nova.
Bem legal né Syl!! Sempre ouvi dizer bem da região das cataratas. Vale super a pena conhecer né, adorei!!
Vale sim, Nathalia. Eu conheci Niagara quando ainda era adolescente e fiquei maravilhada.
Tenho muita vontade de conhecer essa região das cataratas no Niágara. Muito interessante seu post!
Niagara é uma região muito bonita e cheia de histórias.
Que doida essa Annie Edson Taylor, primeira pessoa a descer as cataratas do Niágara! Nunca é bom ser o primeiro a testar algo rsrsrs. Gostei de saber que essa modalidade de esporte não é lenda, nem tema fantasioso de desenho animado!
Hahaha, parece mesmo coisa de desenho animado, mas as aventuras de Niágara Falls são verdadeiras.
Que história louca das Cataratas do Niágara! Tenho muita vontade de conhecer, e agora mais ainda 🙂
A Catarata do Niágara tem histórias louquíssimas mesmo. E além disso é um lugar muito bonito.