Atualizado em 30/04/2024 por Sylvia Leite
Contam os moradores da praia de Pirangi do Norte, no município de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, que tudo começou nos últimos anos do século 19 – ou nos primeiros do século 20, não se sabe ao certo -, quando o pescador Luís Inácio de Oliveira resolveu plantar, no sítio onde morava, o que hoje conhecemos como Cajueiro de Pirangi.
Ele certamente imaginava que ali nasceria uma árvore como as outras, mas o cajueiro cresceu de forma inesperada, a ponto de, em 1994, ter entrado para Guinesse Book – o livro dos records – como o maior do mundo. Nascia, assim, um dos cajueiros gigantes do Nordeste. Atualmente, a árvore ocupa uma área aproximadamente de 8 mil e 500 m², de onde são colhidos, a cada safra, cerca de 8.500 cajus.
O motivo da expansão dos cajueiros gigantes está em duas anomalias que se alimentam mutuamente: a primeira, faz com que seus galhos cresçam para os lados e acabem tocando o chão por não aguentarem o próprio peso. A segunda faz com que, a partir de cada um desses galhos, surjam raízes que originam novos troncos. Aparentemente são árvores independentes, mas todos os trocos e galhos têm o mesmo código genético.
Benefícios e problemas
Ao tornar-se atração turística, o cajueiro passou a contribuir com a economia local, beneficiando diretamente dezenas de artesãos e ambulantes que comercializam produtos típicos no seu entorno. Mas, além dos benefícios, a árvore gigante traz também preocupações porque seu galhos não param de crescer e, de tempos em tempos, a comunidade se depara com um desafio que gera muita polêmica: como lidar com o crescimento da árvore? podar seus galhos ou deixa-la tomar cada vez mais espaço, invadindo as áreas vizinhas?
Por volta de 2.006, os galhos do cajueiro gigante começaram a invadir a pista de uma rodovia conhecida como Rota do Sol, que dá acesso ao litoral Sul do estado. Os partidários da poda argumentavam que além de provocar grandes congestionamentos na rodovia, os galhos do cajueiro poderiam atingir as casas de uma área próxima, ameaçando suas estruturas. Os defensores da manutenção dos galhos temiam que, com a poda, o cajueiro, mudasse de comportamento e até morresse. A solução foi construir um caramanchão sobre a rodovia de modo que os galhos, suspensos, não atrapalhasem mais o trânsito.
Ritmo de crescimento
Não se sabe exatamente quando foi que o tamanho do cajueiro começou a chamar a atenção dos moradores da região a ponto de ser detectada sua anomalia, mas como a multiplicação dos galhos tem se dado em proporção geométrica, acredita-se que nos primeiros anos a velocidade tenha sido bem menor.
Em 1955, cerca de meio século depois da suposta data do plantio, o Cajueiro de Pirangi foi tema de uma reportagem de Ítalo Viola, na revista ‘O Cruzeiro’. Na época, sua área ainda era de 2 mil m², mas, de acordo com o texto, tinha uma produção de 45 mil frutas por safra e já causava espanto, tanto que a própria revista o apelidou de ‘O Polvo’ .
Ainda segundo a reportagem, o cajueiro gigante já havia sido visitado por diversas personalidades, entre as quais estariam Juscelino Kubitscheck, o ex-governador de Minas que, no ano seguinte, se tornaria presidente da República; os ex-governadores de São Paulo Lucas Garcez e, do Rio de Janeiro, Amaral Peixoto; um ex-embaixador da Espanha; o escritor e Sociólogo Gilberto Freyre e o jornalista Assis Chateaubriant.
Curiosidade dos Cajueiros Gigantes
Entre as curiosidades do cajueiro está o ‘Salário Mínimo’, nome dado ao único galho que não se multiplicou como os outros porque sofreu apenas uma das duas anomalias. Ou seja: embora tenha crescido para o lado e tocado o chão, dali não surgiram raízes e muito menos um novo tronco.
Outro contraste com o gigantismo do cajueiro é o lagarto-de-folhiço ou Coleodactylus Natalensis Freire encontrado em seus galhos. Trata-se de um animal remanescente da Mata Atlântica e ameaçado de extinção, que mede pouco mais de 2 centímetros.
A disputa dos Cajueiros Gigantes pelo título de Maior do Mundo
Por toda a sua história, o Cajueiro de Pirangi já tem lugar garantido no turismo e na memória de quem o visita, mas o título de maior do mundo já não faz mais sentido desde quando foi revelada a existência, no Piauí, de um cajueiro maior, talvez até mais antigo (segundo os piauienses com mais de 200 anos, mas sobre isso não há comprovação) e com as mesmas anomalias. Seja como for, não se pode mais falar em cajueiro gigante e sim em cajueiros gigantes.
O cajueiro piauiense fica no município de Cajueiro da Praia e também é aberto à visitação turística. Desde 2013, tem o título de Patrimônio Natural e Turístico do município. A luta agora é pelo tombamento nacional e para substituir o Cajueiro de Pirangi no Guiness Book.
Quantos outros cajueiros gigantes irão surgir?
Por mais espantoso que isso possa parecer, há indícios de que os cajueiros gigantes não sejam tão raros quanto se supunha quando apenas o de Pirangi era conhecido. Além do Cajueiro Rei, no Piauí, existe outro, no próprio Rio Grande do Norte que, embora sem comprovação científica, é tido como o segundo maior do mundo e parece ter sofrido mesma anomalia que os dois primeiros. Trata-se de um cajueiro de 3 mil 88 m² que está localizado na comunidade rural de Areias Alvas, no município de Grossos.
A valorização turística do cajueiro de Pirangi foi provavelmente o que motivou a divulgação do Cajueiro Rei e do cajueiro de Areias Alvas. Talvez pela mesma razão, ou pela ação de pesquisadores, outros cajueiros gigantes ainda possam ser descobertos no Nordeste, e até incluídos nessa disputa pelo título de maior do mundo.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, matérias sobre outras curiosidades naturais do Nordeste: Lajedo de Pai Mateus / Parque dos Falcões / Arara-azul-de-lear / Horto de Caípe Velho
Cajueiro de Pirangi – Parnamirim – Rio Grande do Norte/
Cajueiro-Rei – Cajueiro da Praia – Piauí / – Brasil – América do Sul
Fotos
Referências
- Portal de Turismo da Prefeitura de Natal
- Revista 'O Cruzeiro' (Matéria reproduzida pela revista Palavras Todas Palavras)
- Site UESPI
Que incrível! Muito interessante!
Obrigada pelo comentário. Da próxima vez não esqueça de dizer seu nome.
Muito interessante, tinha conhecimento apenas do cajueiro de Pirangi
O de Pirangi é o mais divulgado, mas acredito que existam outros além dos três citados na matéria.
Nossos cajueiros gigantes do Nordeste são nossas maravilhas da Natureza. Nossas sequoias. Junto com nossa caatinga deveriam ser nossos símbolos e nossa grande atração turística.
Parabéns pela linda reportagem.
Augusta Leite Campos
Agora deu saudade das viagens com os Filhos ainda bastante novos.
Obrigada, Gusta. Os cajueiros gigantes são maravilhosos mesmo. E você disse uma coisa interessante: são nossas sequoias mesmo.
Adoro quando minhas matérias despertam boas lembranças rsrs.Valeu, Sidney!
Belo registro, Sylvinha. O cajueiro é uma super atração, mesmo!!!
Beijão.
Que interessante sua matéria, Sylvinha! Não tinha conhecimento do cajueiro piauiense. Apenas visitei o do cajueiro de Pirangi, quase um bosque.
Abraços,
Val Cantanhede
Que interessante sua matéria, Sylvinha! Não tinha conhecimento do cajueiro piauiense. Apenas visitei o do cajueiro de Pirangi, quase um bosque.
Abraços,
Val Cantanhede
Muitas curiosidades e informações interessantes sobre os cajueiros gigantes do Nordeste. O de Pirangi fui na época da escola, mas esse do Piauí é novidade pra mim. Acabamos de visitar um na Bahia, mas nem tão grande assim, porém as crianças adoram conhecer.
São muito interessantes mesmo esses cajueiros. E para as crianças é um passeio e tanto. Obrigada pelo comentário.
Valeu, Soninha. Beijo
É, Val, o de Pirangi é o mais conhecido mesmo, mas, como disse na matéria, acredito até que existam outos escondidos pelo Nordeste adentro.
Os cajueiros gigantes do Nordeste, são realmente uma maravilha da natureza! Adorei a sua matéria, Cheia de curiosidades e informações legais.
Que bom que gostou! Toda quinta tem matéria nova no blog. Não eprca!
Quando visitamos o Cajueiro de Pirangi ficamos apaixonados, mas saber mais sobre ele aqui no post foi maravilhoso. Acho que mesmo que o outro cajueiro entre no lugar do Pirangi, o primeiro sempre será conhecido como o maior do Mundo.
Concordo com você. Mesmo que o títuo de maior do mundo passe a ser de outro, o de Pirangi já tem o seu lugar na história.