Atualizado em 02/05/2024 por Sylvia Leite
Embora atualmente sejam considerados uma tradição de todo o continente europeu, os famosos e alegres Mercados de Natal, realizados entre os meses de novembro e dezembro, têm sua origem na parte Norte do continente, onde viviam durante a Idade Media os povos germânicos – Sacro Império Romano Germânico – mais precisamente onde hoje se localizam Alemanha, Áustria, Dinamarca, Noruega, Suécia, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido e uma parte da França.
Ao longo dos séculos, especialmente após a Reforma Luterana, em 1517, a tradição se popularizou, ganhou toda a Europa e acabou alcançando também lugares mais distantes como Estados Unidos, Canadá e até o Japão. Mas ainda é a Alemanha que concentra o maior número de festas, com mais de 2 mil e 500 mercados, 59 deles em Berlim.
Uma pesquisa feita em 2022 pela agência inglesa PlanetCrusie para identificar os melhores Mercados de Natal do mundo mostra que 28 dos 51 eventos listados estão localizados em cidades alemãs. Além disso, a cultura germânica permanece presente na maioria dos mercados espalhados pela Europa e pelo mundo, seja em tradições gastronômicas como salsichas e o famoso vinho quente (Glühwein), seja por arranjos decorativos como as famosas “Adventskranz” ou Coroas de Advento – isto é, coroas do tempo que antecede ao Natal – compostas por ramos de pinheiro ou azevinhos e adornadas com velas, que têm origem na Igreja Luterana, mas também foi adotada pela Igreja Católica.
A história dos Mercados de Natal
Ao que tudo indica, os Mercados de Natal surgiram por questões econômicas. Comerciantes que vendiam seus produtos semanalmente teriam enxergado a oportunidade de aumentar seus lucros criando feiras especiais com produtos específicos para o período natalino.
Acredita-se que inicialmente os Mercados de Natal vendiam principalmente as carnes consumidas na festa. Com o tempo é que foram incorporadas as guloseimas, o artesanato, os símbolos e narrativas religiosas, além de elementos como a música, a iluminação e os aromas de especiarias usadas no preparo de comidas e bebidas, que ajudam a envolver essas feiras em uma atmosfera de encantamento.
A mudança teria marcado a transformação dos Mercados de Natal nos grandes eventos atuais que unem o comércio e outras atividades profanas, inclusive carrosseis e rodas-gigantes, a referências religiosas alusivas ao nascimento de Jesus Cristo, como espetáculos artísticos e apresentações folclóricas. Essa identificação com as celebrações em si teria feito com que as feiras natalinas passassem a ser conhecidas como Mercados de São Nicolau – o santo cuja lenda inspirou a figura do Papai Noel e o hábito de colocar presentes em sapatos e meias durante a noite de 24 de dezembro.
O precursor de tudo isso teria sido o “Mercado de Dezembro”, em Viena, realizado pela primeira vez em 1294, mas o Mercado de Natal mais antigo de que se tem registro é o de Munique, criado em 1310. Embora existam atualmente outros Marcados de Natal na capital da Baviera, este – chamado nos primeiros tempos de Nikolaimarkt em homenagem ao santo – é considerado o evento oficial. Atualmente, o secular mercado de Munique é conhecido como Chrismarkt ou Christkindelmarkt e desde 1972 vem sendo realizado na Mairneplat – a principal praça da cidade.
Há outros também bastante antigos como o de Dresden, que data de 1432 e é um dos mais famosos da Alemanha. Esse mercado – o Dresdner Striezelmarkt – é chamado assim porque sua mais tradicional guloseima – uma espécie de panetone coberto de açúcar que hoje tem o nome de Stollen ou Christstollen – era originalmente era conhecida como Striezel.
Certamente os Mercados de Natal dos Estados Unidos, Canadá, Japão e mesmo os de países europeus menos próximos da Alemanha como, por exemplo, Portugal, assumem perfis distintos e condizentes com as culturas locais, mas alguns deles, como o de Tóquio, por exemplo, são organizados com patrocínio de empresas e embaixadas alemãs e, por isso, recebem forte influência dos mercados originais.
Os bazares e natais iluminados no Brasil
O Brasil não cultiva a tradição de Mercados de Natal , mas, nem por isso, deixa de ter seus espaços comerciais no período natalino. Ao contrário dos eventos europeus, nossos bazares costumam ser pequenas iniciativas privadas – realizadas normalmente em espaços fechados, como clubes, associações culturais ou mesmo em residências – com duração de dois a três dias. Em comum com os mercados europeus eles têm apenas a venda de guloseimas e produtos artesanais.
Mas vem crescendo no país a realização de eventos públicos que, por um lado, recriam a atmosfera das antigas feirinhas de Natal – cujo ponto forte eram os brinquedos como carrosséis e rodas gigantes – e, por outro, inspiram-se no Natal Iluminado de Gramado, marcado por desfiles e apresentações artísticas, além de uma grandiosa iluminação. E tanto um como outro têm clara influência dos eventos germânicos medievais.
Embora não sejam estruturados como mercados, nem reconhecidos como tal, esses eventos costumam incluir a venda de artesanato ou comidas típicas e talvez possamos considerá-los a nossa versão dos Mercados de Natal. Mas isso é assunto para outra matéria.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre tradições natalinas: Auto de Natal / Presépio / Casas de Papai Noel
Mercados de Natal – Alemanha e outros países – Europa
Fotos
- ReneS em Flickr e Wikimedia
- Atribuído a Micha L. Rieser em Wikimedia
- Tonda Tran em Pixabay
- The InstaPLANET Cultural Universe Photographer em Wikimedia CC BY-SA 2.5
- Alice Wiegand em Wikimedia CC BY-SA 4.0
- Foto de Mônica Guimarães da Modê Bijus
Esses mercados de Natal são uma tentação. Eu não resisto!
Tentação mesmo, Soninha! Muita coisa deliciosa nesses Mercados de Natal.