Atualizado em 17/10/2022 por Sylvia Leite
As ideias estão aí, pairando no ar, e mais de uma pessoa pode introjetá-las, em diferentes épocas. Se não for assim, como explicar o fato de alguém ter construído um castelinho que parece obra de Gaudí, sem nunca ter ouvido uma só palavra sobre o artista catalão? Falo da Casa de Pedra, localizada em Paraisópolis – uma das maiores favelas de São Paulo.
O autor e proprietário é o jardineiro, agora reconhecido como artista plástico, Estevão Silva da Conceição. Ele só queria uma casa com jardim, mas os 75m² de seu terreno não eram suficientes para comportar esse sonho. Depois de erguer uma armação de ferro e cimento para guiar uma roseira – que era a única planta da casa – teve a ideia de usar o mesmo tipo de estrutura na construção de um jardim suspenso.
Para dar vida às paredes e colunas, pois não gostava de olhar para o cimento cinza, Estevão foi incrustando pedras e todo tipo de objeto: pratos, canecos, máscaras. Aos poucos, esse universo foi se ampliando e vieram as imagens de santos, máquinas fotográficas, relógios, chaves e outros utensílios de metal.
Apesar de algumas peças estarem cortadas, ou quebradas, ele garante que tudo foi comprado em bazares e brechós, ou recebido de amigos. Nada é sucata. O resultado dessa equação é um castelinho encantado que lembra muito o Park Güell.
Antes da Casa de Pedra
O autor da Casa de Pedra nasceu no sertão da Bahia e tem o mesmo nome do santo que nomeia a sua cidade: Santo Estevão. Estudou um pouco, mas não ultrapassou o primeiro grau. Logo que se mudou para São Paulo, no final da década de 1970, trabalhou como servente de pedreiro, vigia e montador e viveu em alojamentos. Depois passou a ser porteiro e jardineiro. Foi nessa época que chegou a Paraisópolis.
A Casa de Pedra começou a ser construída há cerca de três décadas, mas somente por volta de 2.000 é que foi descoberta por uma jornalista e uma estudante de arquitetura. Até alí, Estevão não tinha consciência de que seu jardim suspenso era um trabalho artístico e poderia atrair a atenção de pessoas do mundo inteiro.
Em pouco tempo, o jardineiro tornou-se conhecido como artista plástico e, em 2002, foi levado a Barcelona, com ajuda da Fundação Gaudí, para participar das comemorações pelos 150 anos do artista catalão. Ele conheceu a obra do seu antecessor, reconheceu a semelhança com a sua, e acabou ganhando o apelido de “Gaudí brasileiro”.
Estevão também virou tema do documentário “Gaudí en la favela”, de Sergio Oksman, diretor brasileiro que vive na Espanha há mais de 20 anos e teve sua obra apresentada no livro “Contando a arte de Estevão”, do crítico Oscar D’Ambrosio, editado pela Sowilo Editora.
Ao voltar para o Brasil, transformou sua residência em museu e passou a cobrar entrada de quem quisesse conhecer o jardim suspenso. No começo, tudo era muito informal e nem sempre tinha gente em casa para receber os visitantes. Hoje as visitas estão institucionalizadas e a Casa de Pedra faz parte do Circuito Paraisópolis das Artes.
Com a divulgação de seu trabalho, Estevão passou a ser procurado por pessoas que queriam ter peças suas e, para responder a essa demanda, ele começou a produzir vasos e outros objetos com o mesmo tipo de incrustação usada na casa.
Um Museu-Casa peculiar
Dois aspectos diferenciam a Casa de Pedra da maioria dos outros museus-casa: a primeira é que a construção em si é que constitui a obra do artista e a segunda é o fato do local continuar sendo sua residência, onde vive com a mulher, Edlene Souza Conceição e os filhos Stefana e Enrique.
Os atrativos não param aí. Embora com contornos mais delicados, os cômodos da casa também são repletos de pecinhas, tanto nas paredes como no teto. O quarto do casal parece uma tapeçaria, formada por frisos e estrelas.
Quem consegue escalar os patamares do jardim, tem a sensação de estar subindo em uma rede de árvores. Ao chegar lá em cima, a cerca de 8m do chão, encontra as plantas que caracterizam o jardim suspenso. De quebra, pode observar a vista da favela e do vizinho Morumbi.
Desbravar a Casa de pedra é uma experiência lúdica e estética. Daria para escrever muitas páginas, e descrever os detalhes, mas nada que se diga, ou mostre, vai expressar a sensação de explorar esse labirinto colorido.1
1Leia, aqui no blog, matérias sobre outros lugares especiais de São Paulo: Galeria do Rock, Bixiga, Teatro Oficina, Vila Itororó
Casa de pedra – Paraisópolis – Morumbi – São Paulo – Brasil – América do Sul
Fotos
- 1 a 5: Cristina Gallo via Flikr - Licença CC Creative Commons - Atribuição 2.0 genérica (CC B Genérica)
- Foto 6 (quarto do casal): Divulgação
Adorei. Que criatividade. Tão perto de nós e eu não conhecia… Obrigada.
Super legal! O cara é arquiteto, engenheiro e decorador! Marina
Excelente a matéria Sylvia. Adotei conhecer a casa de Pedra.
Que coisa extraordinária!!!! Que orgulho desse conterrâneo genial!!!! Nossa, fiquei acabeunhafa de conhecer Gaudí e não conhecer esse incrível artista brasileiro, baiano,pau de arara!
Espetacular!
Animada a conhecer o local. Fantástico. Gratidão por compartilhar a informação.
Quanta beleza e criatividade do Estêvão! Lembrei-me das obras do sergipano Artur Bispo do Rosário.
Parabéns pela matéria, Sylvinha!
Abraços,
Val Cantanhede
Que barato. Fiquei curioso. Mas acho que faz parte do teu objetivo mesmo.
Brigado. Sempre fácil et gostoso de ler.
Boas festas.
Mil beijos.
Joaquim
Legal, não é, Vi? Podemos ir lá qualquer hora. bj
Isso mesmo, Marina.Uma figura!
Legal é ir lá. Experimente!
rsrs Pois então vá a Paraisópolis.
Concordo!
Eu que agradeço pela leitura e pelo comentário!
Obrigada, Val. O Bispo do Rosário está na lista.
Não pensei nisso como objetivo, mas realmente é legal quando a matéria aguça a curiosidade das pessoas. Beijos
A casa de Pedra é a expressão do mistério da ilimitada capacidade artística e de superação do ser humano. Gostaria muito de visitá-la quando fosse a Sao Paulo.
Augusta Leite Campos
É só marcar, Gusta. Vai ser bom ótimo voltar lá com você.
Muito legal. Assisti algo sobre o tema mas, foi muito rápido. O texto nos dá uma visão mais ampla.
Que bom que gostou. Quando for a São Paulo podemos ir até lá.