Belém do São Francisco: o berço dos bonecos gigantes

Tempo de Leitura: 4 minutos

Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite

Bonecos Ze Pereira e Vitalina - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAQuem não conhece os bonecos gigantes do Carnaval de Olinda? O que pouca gente sabe é que esses belos objetos de cena não nasceram na cidade histórica, mas na pequena Belém do São Francisco, localizada no semiárido pernambucano.

O primeiro de todos, batizado como Zé Pereira, foi confeccionado em 1919, e somente 12 anos depois é que surgiu, inspirado nele, o primeiro boneco de Olinda lançado pelo famoso bloco Homem da Meia-noite.

Os que vão mais longe na pesquisa descobrem que os bonecos gigantes têm uma inspiração longínqua trazida pelo padre belga Norbetro Phalempin, que chegou Belém do São Francisco em 1903.

Em seus relatos sobre o Velho Continente, o padre teria contado aos jovens belemitas que a Igreja Católica europeia usava bonecos gigantes em suas procissões. Os bonecos representariam personagens bíblicos e seu objetivo, segundo o padre, era atrair os fiéis para os ritos litúrgicos.Bonecos no memorial Zé Pereira e Vitalina - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA

A ideia foi logo assimilada pelo jovem Gumercindo Pires que não sossegou enquanto não conseguiu, junto com amigos, criar um boneco com corpo de madeira e cabeça de papel machê, usando uma técnica aprendida com sua tia Nenzinha. Mas a intenção de Gumercindo era ‘desvia-lo’ das procissões para o carnaval.

A novidade agradou os belemitas e teve sucesso imediato. Cerca de 10 anos depois Zé Pereira ganhou uma companheira, a boneca Vitalina, com quem se casou em cerimônia pública.

De lá pra cá, o casal tornou-se ícone do carnaval dos belemitas e os bonecos gigantes foram parar em Olinda, onde, ao longo dos anos, foram modernizados – passando a ser confeccionados com fibra de vidro – fizeram ainda mais sucesso e ganharam fama internacional.

O museu dos Bonecos Gigantes

Um século depois, Zé Pereira e Vitalina continuam liderando as alegorias do carnaval de Belém do São Francisco e, entre uma festa e outra, podem ser vistos em seu próprio memorial, montado na principal avenida da cidade. AoBonecos Ze Pereira e Vitalina - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIA seu lado, estão dezenas de bonecos que representam importantes personagens da história belemita, a começar pelo padre Norberto Phalempin.

Além de reunir dezenas de bonecos, o acervo do museu é composto, também, por figurinos, objetos, painéis com informações históricas, fotos e vídeos. Artistas que estiveram ou estão envolvidos com a produção dos bonecos gigantes, têm sua história contada em um grande painel ao fundo do salão.

Mas o Memorial Zé Pereira e Vitalina não se resume a pessoas, objetos e registros diretamente ligados aos bonecos. O museu homenageia o Teatro funciona também como sede e local de ensaio da centenária Orquestra Filarmônica Dion Pires, outro importante patrimônio cultural da cidade. E foi o mesmo padre Norberto – que ensinou Gumercindo a produzir seus próprios bonecos -, quem incentivou o desenvolvimento da música entre os belemitas, dando aulas de canto e de vários instrumentos.

Entre as mangas e o casario histórico

O Memorial Zé Pereira e Vitalina e a Orquestra Filarmônica já são motivos suficientes para uma visita a Belém do São Francisco. Mas a cidade nos cativa por muitas outras razões. A principal delas talvez seja o casario, muito bem Casario histórico em Belém do São Francisco - Foto de Sylvia Leite - BLOG LUGARES DE MEMORIAconservado, que se estende ao longo de uma larga avenida e algumas de suas transversais.

Outras construções históricas em ruas próximas ainda esperam por restauração. Caso do Marcado Público, construído em 1928 e atualmente em estado de abandono, que foi visto pelo Brasil inteiro quando serviu de locação para cenas da novela Senhora do Destino.

Resta, ainda, a culinária que tem como principais ingredientes a carne de bode e os peixes de água doce. Isso sem falar nas mangas de várias espécies, já que Belém do São Francisco encontra-se hoje entre os cinco maiores produtores de manga do Brasil.

E para quem quiser se aventurar um pouco mais, não faltará o que explorar nas 88 ilhas que compõem o município de Belém do São Francisco. Uma delas, a Ilha Grande, abriga uma preciosidade: a última roda d’água ainda em funcionamento no Velho Chico. 1

Notas

    Belém do São Francisco – Pernambuco – Brasil – América do Sul

    Texto

    Fotos

    • Sylvia Leite

    Participação especial

    • Jane Alves, professora aposentada da UFMG
    • Manoel Prado, sociólogo e Auditor do Ministério do Trabalho

    Sugestão de pauta

    • Márcia Alves e Lucinha Simões

    Referências

    • Zé Pereira e Vitalina - Os primeiros bonecos gigantes do Brasil, livro infantil de Maria Auxiliadora Lustosa Coelho
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    Beatriz
    Beatriz
    10 meses atrás

    Que bacana! Ótima matéria, não sabia da origem desses bonecos gigantes.

    Marcella
    Marcella
    10 meses atrás

    Olha só, eu achava que os bonecos de Olinda eram de Olinda mesmo!! Coisa mais linda ver a cidade tomada por eles no carnaval 🙂

    Severina
    Severina
    10 meses atrás

    Excelente material, luz para a memória cultural de noss Nordeste! Obrigada Silvia Leite

    Augusta Leite Campos
    Augusta Leite Campos
    10 meses atrás

    Não podia imaginar que os bonecos do carnaval de Olinda viesssem de uma cidade à beira do São Francisco. O velho Chico sempre nos surpreendendo. Parabéns Sylvia por este resgate de nossa história.

    Ana
    Ana
    10 meses atrás

    Quando estive em Recife visitei os bonecos gigantes, acredito que sejam os de Olinda. É bem legal de ver, são enormes mesmo rs

    Cynara Vianna
    10 meses atrás

    Sou pernambucana, moro em Recife e só tive conhecimento origem dos bonecos gigantes de Olinda quando visitei o museu. Fiquei surpresa ao saber que a tradição vinha de Belém do São Francisco. Nossa cultura é muito rica e diversificada.

    Alexandra
    Alexandra
    10 meses atrás

    Que interessante! Eu não sabia que Belém do São Francisco era o berço dos bonecos gigantes. Na minha cidade, no interior de São Paulo, também tem essa cultura folclórica dos bonecos.

    Cintia C.
    Cintia C.
    10 meses atrás

    Muito legal saber disso, eu jurada que a origem era em Olinda. Acho os bonecos gigantes lindos demais. Saudades de Pernambuco!

    Sonia Pedrosa
    9 meses atrás

    Muito legal conhecer a origem desses bonecos que são um verdadeiro patrimônio pernambucano.

    sidneyjs
    sidneyjs
    9 meses atrás

    Muito bom. Sempre tive em mente Olinda.