Atualizado em 29/04/2024 por Sylvia Leite
O lugar é simples e silencioso. Apenas uma plataforma de mármore preto marca o ponto onde o corpo de Gandhi foi cremado um dia após seu assassinato, em janeiro de 1948. Ao lado da pedra, uma lanterna guarda a chama eterna que nos traz a lembrança de seus ensinamentos. O despojamento do memorial Raj Ghat contrasta com a intensidade das homenagens, que vão de flores a cerimônias políticas e religiosas.
Ghandi é lembrado no mundo inteiro como criador de uma filosofia pacifista, mas na Índia essa memória ganha um tom de reverência e agradecimento por sua decisiva participação na luta pela independência do país, que ficou por quase um século sob o domínio britânico.
Não há autoridade em viagem oficial a Delhi que não seja convidada a visitar o local, em especial aqueles que mantêm algum vínculo com as causas sociais.
Raj Ghat: um lugar de homenagens
Em 2018, por exemplo, no dia do nascimento de Mahatma Gandhi, o Raj Ghat foi cenário de uma homenagem prestada pela ONU. Ao lançar pétalas sobre o túmulo do ativista, o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres referiu-se a ele como “a maior alma que já viveu” na terra e repetiu uma famosa frase do ativista: “a não violência é a maior força à disposição da humanidade”.
Entre uma e outra homenagem oficial, Mahatma Gandhi é reverenciado por pessoas comuns da Índia e por visitantes de outros países. Os que desejam paramentar seus rituais, podem comprar pétalas e folhas colhidas por moradores da região.
O respeito dos indianos a Gandhi é algo que impressiona e o reconhecimento oficial à sua filosofia, embora em alguns casos não passe de formalidade, no mínimo nos dá esperança. Mas para que se possa apreciar tudo isso sem achar que está perdendo tempo em um parque sem grandes atrativos, é preciso prestar atenção ao comportamento de cada visitante e, principalmente, conhecer um pouco da história desse pregador da desobediência civil e da não violência.
A trajetória de Gandhi
O despertar do líder pacifista ocorreu na Inglaterra, aonde viveu como aluno de Direito da University College of London. Nesse período,Mohandas Karamchand Gandhi – esse era seu nome de batismo – teve contato com as
ideias de Henry Stephens Salt, um escritor e ativista social conhecido por sua pregação em defesa do vegetarianismo e dos direitos dos animais. Foi também nessa época que ele leu pela primeira vez o texto que o inspiraria pelo resto da vida: o Bhagavad-Gita– escritura sagrada da Índia que apresenta um diálogo do deus Krihsna com o guerreiro Arjuna.
Seus primeiros passos como pacifista deram-se em Londres, ao criar e liderar um clube vegetariano, mas a consolidação desse caminho ocorreu na África do Sul, para onde se mudou por razões profissionais. Foi ali que, oprimido pela discriminação com que ingleses e holandeses tratavam negros e hindus, criou um movimento em defesa dos direitos dos indianos.
O ativismo de Gandhi na África do Sul estendeu-se por cerca de 20 anos e foi nesse período que ele concebeu a sua filosofia da não violência, batizada como Satyagraha – termo hindi que pode ser traduzido como força da verdade. Apenas com palavras, ações de desobediência civil e greves de fome, Ghandi conseguiu mobilizar multidões tanto na África do Sul como na Índia, para onde voltou aos 45 anos de idade.
Em sua terra natal, Gandhi empreendeu grandes lutas que acabaram resultando na independência do país. Uma delas foi contra a lei que proibia os indianos de produzirem seu próprio sal, obrigando-os a a comprar o produto dos ingleses com alta tributação. O momento mais marcante dessa trajetória foi uma caminhada de 400 km em direção ao Oceano Índico que ficou conhecida como a Marcha do Sal. Ao longo de 25 dias, Gandhi foi conquistando seguidores e, diante de aproximadamente 60 mil pessoas, começou a produzir sal em panelas a partir da água do mar. A ação provocou milhares de prisões, inclusive de Gandhi, seguidas de um acordo com o governo britânico, que passou a permitir a produção de sal na região costeira.
Mas o movimento que ganhou maior repercussão na trajetória de Gandhi foi sua luta contra a indústria têxtil, representada simbolicamente pelo tear manual. Assim como no caso do sal, os indianos eram obrigados a pagar caro por roupas produzidas pelas fábricas inglesas. O caminho encontrado pelo líder pacifista foi passar a tecer seus próprios tecidos e a costurar suas próprias roupas, incentivando todo mundo a fazer o mesmo.
Durante a luta pela independência, Gandhi conseguiu unir os seguidores das duas maiores religiões do país: os hindus e os muçulmanos. Sua esperança era de que a paz entre eles perdurasse para sempre, mas, ao se livrar dos ingleses, o país dividiu-se entre a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. Por causa dessa divisão, ele não comemorou a independência.
Gandhi nunca recebeu o Nobel da Paz, embora tenha sido indicado várias vezes, mas, em 1989, quando o prêmio foi concedido a Dalai Lama, o presidente do comitê afirmou que a escolha era, em parte, um tributo à sua memória.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre a Índia: Goa / Gurudwara Bangla Sahib / Tilonia / Taj Mahal / Jantar Mantar / Tilonia
Raj Ghat – Nova Delhi – Índia
Fotos
- (1,4 e 5) Sylvia Leite
- (2) Gilles Clarke, site das Nações Unidas
- (3) Marisa Portela
- (6) Autor desconhecido - Domínio público (1946)
Livros
- "Minha Vida e Minhas Experiencias com a Verdade" - autobiografia
- "A Marcha do Sal", livro de fotografia de Érico Hiller
Filmes
- Gandhi, dirigido por Richard Attenborough, com roteiro de John Briley.
Peças de Teatro
- Gandhi, um líder servidor, de Miguel Filliage e Bene Catanante, com o ator João Signorelli.
Belíssima matéria Sylvia, parabén!
Gandhi merece ser reverenciado, sempre! Ótimo texto, Sylvinha, parabéns!
Obrigada! Pena que você não se identificou.
Merece, sim. Pena que você deixou de se identificar.
Sylvinha o texto "Gandhi merece ser reverenciado, sempre! Ótimo texto, Sylvinha, parabéns!" é meu…. achei que estava devidamente identificada…. por sorte, esqueci que tinha comentado e voltei aqui. rsrsrsrs
sonia pedrosa
KKK Que bom! Fico agoniada quando alguém não se identifica. Liberei os comentários de anônimos para facilitar os que não conseguem fazer de outro modo, mas é legal quando a pessoa assina o texto no final rsrsr
Uma das grandes histórias da humanidade . Parabéns.
A Africa do Sul foi o berço do ativismo político-social dos maiores líderes do século vinte. Neste país tão belo mas com uma história de tanta violência surgiram dois grandes líderes pacifistas : Gandhi e Nelson Mandela. Parabéns Sylvia pelo texto. Augusta Leite Campos.
Verdade. Uma grande história que não deveria ser esquecida.
Pois é, Gusta. Que sigamos os seus exemplos.
O relato da edificante vida do Mahatma Gandhi nestes tempos sombrios e truculentos em que estamos vivendo é um verdadeiro bálsamo.
Parabéns pelo texto tão vívido e oportuno, Sylvinha!
Abraços
Val Cantanhede
Adorei. Como sempre.Bjs
Valeu, Val. bj
E como sempre esqueceu de escrever seu nome rsrsrs obrigada assim mesmo, mas da próxima vez lembre de se identificar, ok?
Que texto e história linda. Fiquei muito emocionada com tudo que li. Obrigada por me proporcionar esse encontro com Marahtma Gandhi.
É bonita mesmo, Normeide. Eu que agradeço a você, pela leitura e pelo comentário.
Gandhi é um espírito elevadíssimo, um exemplo para toda a humanidade e deve ser reverenciado, sempre. Ótimo registro, Sylvinha.
O memorial Raj Ghat será de facto um encontro com Mahatma Gandhi, uma inspiração para todos. Continuo sem perceber como nunca recebeu um prémio Nobel. Parabéns pelo post.
Obrigada, patrícia. Toda semana tem matéria nova por aqui e blog já tem mais de 160 postagens. Acompanhe!
Valeu Soninha! É isso mesmo, não pode ser esquecido.
Muito legal seu texto sobre um encontro com Gandhi. Na verdade eu já li dois livros sobre ele, um grande homem sem dúvida. Parabéns pelo conteúdo, abraços
Obrigada, Moisés. Abraços
Adoro conhecer mais sobre outras culturas, costumes. Muito interessante o Raj Ghat, um grande encontro com Mahatma Gandhi.
É interessante mesmo, Deyse, e além disso é um lugar bonito, silencioso e agradável.