Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite
O círculo de pedras conhecido como Stonehenge e localizado no condado de Wiltshire, no sudeste da Inglaterra, é um dos monumentos mais famosos da pré-história. Além da importância arqueológica, o conjunto impressiona pela grandiosidade. Suas maiores pedras chegam a ter até cinco metros de altura e a pesar cerca de 50 toneladas, o que sempre suscitou pelo menos duas perguntas: quem construiu o monumento e como as pedras gigantes foram carregadas até ali cerca de cinco mil anos atrás1?
Embora não haja informações seguras sobre a origem de Stonehenge, já foi possível obter alguns dados sobre sua construção. Sabe-se, por exemplo, que o monumento foi erguido em três etapas ao longo de mais de mil anos. As primeiras pedras foram fixadas no período Neolítico – cerca de 3 mil e 100 anos antes de Cristo – quando ainda não se fazia uso de metais. Estima-se que foram necessárias mais de trinta milhões de horas de trabalho para que se chegasse à etapa final e à sua forma definitiva.
As pedras maiores, que formam o circulo externo de Stonehenge, chegam a pesar 50 toneladas. São blocos de arenito conhecidas como sarsens e teriam trazidas da floresta de West Woods – localizada a aproximadamente 30 km de distância. Acredita-se que para transportá-las os construtores de Stonehenge dividiram o trajeto em duas partes: uma por mar, com as pedras amarradas a embarcações, e outra por terra, em cima de uma espécie de trenó feita com trocos de árvores e puxada por tração humana. A colocação das pedras teria sido feita por um sistema de alavancas que utilizava cordas e troncos de madeira.
Já as pedras menores, conhecidas como bluestones ou pedras azuis, teriam vindo de um local ainda mais distante: as colinas Preseli, no País de Gales, que ficam a cerca de 230 km de Stonehenge. O termo bluestones é usado indistintamente para as pedras menores do monumento, geralmente de origem ígnea, ou seja, constituídas a partir da solidificação do magma vulcânico.
Lendas sobre a origem de Stonehenge
A grandiosidade e os mistérios que envolvem Stonehenge sempre atraíram a atenção dos arqueólogos e inspiraram inúmeras lendas. Há quem diga, por exemplo, que o monumento foi trazido da Irlanda com a ajuda de Merlin, o mago da corte do Rei Arthur. A crença seria inspirada em uma narrativa publicada no livro “História dos Reis da Bretanha” (A Historia Regum Britanniae ), escrito por Godofredo de Monmouth no século 12.
De acordo com esse conto, as pedras do Stonehenge – principalmente as azuis, que se localizam no centro – seriam curativas e teriam sido levadas por gigantes da África para a Irlanda a fim de criar um circulo que se chamou de Anel do Gigante ou Rodada do Gigante. Quando, no século 5, o rei Aurélio Ambrósius resolveu construir um memorial aos nobres celtas britânicos mortos pelos saxões, Merlin o teria aconselhado a transferir o Anel do Gigante da Irlanda para a Inglaterra. O transporte teria sido feito pelo pai do Rei Arthur, Uther Pendragon, e mais 15 mil homens, com ajuda do Mago.
Outra lenda envolve ninguém menos que Satanás e está relacionada com um dos elementos mais famosos do complexo: a Pedra do Calcanhar. Segundo o relato popular, as pedras de Stonehenge pertenciam originalmente a uma mulher irlandesa e teriam sido vendidas ao diabo que as carregou até a planície, onde se encontram agora. Ao colocá-las no local, o diabo teria entrado em conflito com um frade e lhe atirado uma pedra, mas o frade teria saído ileso deixando na pedra a marca de seu calcanhar.
Entre os pesquisadores, uma das hipóteses mais difundidas ao longo do tempo foi a do pioneiro da Arqueologia John Aubrey. Sua suposição era de que a origem de Stonehenge estivesse ligada aos Druidas – espécie de sacerdotes e curandeiros do povo Celta. Mas com o desenvolvimento do método de datação a partir do carbono-14, soube-se que a construção de Stonehenge teria se iniciado por volta do ano 3100 aC e terminado por volta do ano 1600 aC, enquanto a presença dos Druidas no local teria ocorrido somente séculos depois, durante a Idade do Ferro.
Templo religioso ou observatório astrológico?
A finalidade de Stonehenge também é motivo de polêmica. Há quem defenda a tese de que o círculo de pedras foi construído para uso religioso, como local de orações, de celebrações e de cura. Especula-se, também, sobre a possibilidade de ter sido construído, ou usado tardiamente, como cemitério. Essa última hipótese ganhou força depois da descoberta de ossadas no local. Há também os que contestam essa possibilidade, mas acreditam que embora erguido por razões desconhecidas, Stonehenge foi posteriormente usado como templo.
Já para o astrônomo inglês naturalizado americano Gerald Stanley Hawkins, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, Stonehenge era um observatório astronômico criado com o propósito de prever fenômenos celestes, especialmente os movimentos do sol e da lua. Em seu livro Stonehenge Decoded , publicado em 1965, Hawkins classifica o círculo de pedras como uma espécie de computador pré-histórico e afirma, por exemplo, que os chamados “Buracos de Aubrey” – 56 cavidades organizadas em círculo ao redor das pedras – eram usadas pelos britânicos neolíticos para determinar a ocorrência de eclipses.
A tese de Stanley Hawkins foi contestada por consagrados pesquisadores como o também britânico Richard Atkinson. Na década seguinte, entretanto, recebeu apoio de Fred Hoyle – um dos mais reconhecidos pesquisadores do século 20 no que diz respeito à origem do universo. Em seus livros “From Stonehenge to Modern Cosmology” (De Stonehenge à Cosmologia Moderna), de 1972 e On Stonehenge, de 1977, Hoyle não apenas concorda com a função astronômica de Stonehenge, como também exalta os conhecimentos de seu executores, principalmente os da primeira fase de construção que teriam, em sua opinião, conhecimentos mais sólidos do que seus sucessores.
Os sinais de que Stonehenge seria um observatório astronômico vão além dos “Buracos de Aubrey”. Estão também nas chamadas “Pedras da Estação” que, segundo os astrônomos defensores dessa tese, marcam as extremidades de linhas imaginárias ao longo das quais localizam-se os pontos onde a Lua surge e desaparece em cada dia do ano.
Recentemente, o arqueólogo e professor da Universidade de Bournemouth, Timothy Darvill, publicou estudo segundo o qual os grandes blocos de arenito de Stonehenge (os chamados Sarsens) formam um calendário solar perfeito com 365,25 dias.
Em favor da tese astronômica há ainda o fato do monumento estar alinhado com os solstícios de verão (primeira foto) e de inverno (segunda foto). Solstícios, para quem não sabe, são as passagens da primavera para o verão e do outono para o inverno. No primeiro – que na Ingletarra e em todo o hemisfério Norte ocorre por volta do dia 21 de junho – temos o dia mais longo do ano, com mais de 12 horas de luz do sol. Já no segundo, que cai normalmente no dia 21 de dezembro, temos a noite mais duradoura.2
O alinhamento com solstícios e a capacidade de prever fenômenos celestes e ciclos astronômicos não são características raras em monumentos pré-históricos. Isso ocorria em parte por se tratarem de sociedades agrícolas que dependiam das condições ambientais para tirar maior proveito de suas plantações, e em parte por atribuírem a esses momentos do ano significados simbólicos e religiosos.
O solstício de verão em Stonehenge
Assim como em outros monumentos pré-históricos – caso, por exemplo de Newgrange, na Irlanda – em Stonehenge comemora-se até hoje a passagem do solstício de verão com festas e rituais. E a boa notícia é que, nesse dia, é possível estar entre as pedras – o que atualmente está proibido nos outros dias do ano.
Além do encaixe do sol no desenho do monumento, os visitantes podem usufruir de um espetáculo a parte: os rituais realizados por grupos místicos, acompanhados de música, dança e, em alguns casos, de indumentárias como coroas de flores e vestimentas inspiradas na cultura Celta. A tradição, iniciada no século 20, foi criada – ou retomada – por grupos neopagãos, como os neodruidas, e por adeptos de crenças da Nova Era, ironicamente quando os arqueólogos afastaram a hipótese do monumento ter sido construído pelos Druidas, o que gerou muitas críticas.
Mas independentemente da polêmica que se criou em torno de tais manifestações, é interessante apreciá-las especialmente por sua grande variedade. E para os quem tem afinidade com a atmosfera mística, é uma boa oportunidade de se conectar com forças ocultas por meio de rituais ou de meditação. 34
Notas
- 1 Há pouca exatidão das fontes em relação às datas, ao tamanho e ao peso das pedras
- 2 No hemisfério Sul, as datas se invertem: o solstício de verão cai em torno de 21 de dezembro e o de inverno em torno de 21 de junho
- 3 Leia, aqui no blog, matérias monumentos arqueológicos mundo afora: Newgrange / Teotuhuacan / Tulum / Pedra do Ingá /
- 4 Leia, também, sobre outros lugares especiais da Inglaterra: Westminster /
Stonehenge – Wiltshire – Inglaterra – Europa
Referências
Desde pequena, queria conhecer Stonehenge. Mas só fui conhecer quando fiz intercâmbio e o lugar nao me decepcionou. Fui com a escola e foi muito divertido. Pelo mistério, lendas e polêmicas, realmente, é um lugar que não pode passar batido para quem vai à Inglaterra.
Pois é, Soninha. Lugares como Stonehenge, Newgrange e Pedra do Ingá realmente não podem bassar batidos.
Pretendo voltar ao Reino Unido no próximo ano e sem dúvida Stonehenge entrará no roteiro. É um um lugar que quero muito conhecer e adorei saber tanta coisa interessante sobre ele aqui.
Stonehenge é interessante e intrigante. Não deixe de colocar no seu roteiro.