La Candelaria: o centro cultural de Bogotá

Tempo de Leitura: 7 minutos

Atualizado em 01/05/2024 por Sylvia Leite

Rua de La Candelaria - Foto de Martinduquea em Wikimedia - BLOG LUGARES DE MEMORIAHouve época em que Bogotá era tida como a Atenas Sul-americana por sua importância cultural e foi o acervo histórico, artístico e arquitetônico do bairro de La Candelária – Centro Histórico da cidade – que motivou esse apelido. Alí está reunido um vasto patrimônio formado por igrejas e casarões centenários, além da Plaza Bolivar, considerada o coração de Bogotá.

La Candelária conta, ainda, com mais de 50 museus de naturezas e períodos tão diversos como Museo del Oro, onde se pode conhecer um pouco da cultura pré-colombiana com sua famosa Lenda do Eldorado – e o Museu Botero, que reúne obras do artista plástico contemporâneo e sua coleção particular.

O bairro de La Candelaria, assim como a própria cidade, datam de 1538. Naquele ano, o conquistador espanhol Gonzalo Jimenez de Quesada colocou ali a pedra fundamental do que seria, primeiramente, a capital do Novo Reino de Granada, depois convertida na atual Bogotá.

Patrimônio arquitetônico

Catedral Primada em La Candelaria - Foto de No machine-readable e Kinori - BLOG LUGARES DE MEMORIALa Candelaria abriga a sede da presidência da Colômbia e a residência do presidente, ambas localizadas em um prédio neoclássico do início do século 20, conhecido como Casa de Nariño.

Mas a maior concentração de prédios históricos de La Candelaria, e da própria Bogotá, está na Plaza Bolívar, declarada Patrimônio Nacional em 1995. Nessa praça,  onde  encontram-se Catedral Primada, a Prefeitura, o Congresso Nacional e o Palácio da Justiça, ocorrem as principais manifestações populares e acontecimentos políticos da Colômbia.

O Palácio da Justiça foi palco de um trágico acontecimento em 1985, quando mais de cem pessoas morreram e cerca de seis mil processos foram destruídos durante um confronto de 28 horas entre forças policiais e guerrilheiros do Movimento 19 de Abril (M-19).

A importância histórica da Plaza Bolívar já começa pelo nome e pela estátua que homenageiam o herói da independência colombiana. Embora fosse um militar venezuelano, Simon Bolívar tornou-se, junto a José de San Martín, um personagem chave na luta pela descolonização da América Espanhola. Foi, também, um dos fundadores e o primeiro presidente da Grã-Colômbia – a primeira união de nações independentes formada por Colômbia, Venezuela, Panamá e Equador.

La Candelaria e seus dois marcos zeroChorro de Quevedo - Ftoto de Frank Ballesteros - BLOG LUGARES DE MEMORIA

Embora o ponto de partida oficial da cidade de Bogotá seja a Catedral Primada, localizada na Plaza Bolívar, muitos acreditam que seu verdadeiro marco zero está em um pequeno e charmoso largo denominado Plaza Chorro de Quevedo (ou Chafariz de Quevedo).

Os adeptos dessa versão – por muitos considerada lendária – afirmam que Quesada inspirou-se na imagem católica da Terra Prometida – onde todas as necessidades dos moradores seriam atendidas – para construir ali uma povoação com 12 cabanas, um mercado e uma igreja. O local recebeu, três séculos depois, uma fonte de água que passou a abastecer as primeiras casas. A fonte teria sido obra do um certo Padre Quevedo que havia comprado aquela área.

Hoje, o Chorro de Quevedo é considerado um ponto boêmio e turístico de La Cadelaria, com cafés ao seu redor, paredes decoradas com Arte de Rua (Street Art) e ateliês de artistas instalados nos becos que dão acesso à praça. Pátio interno do Museu Botero em Bogotá - Foto Felipe Restrepo Acosta emWikimedia - BLOG LUGARES DE MEMÓRIAIsso sem falar nos contadores de história que fazem apresentações ao ar livre. O largo também virou cenário de vários filmes, entre os quais  La estrategia del caracol , dirrigido por Sergio Cabrera, e Diástole y sístole: los movimientos del corazón, dirigido por Harold Trompetero.

A fonte original  foi destruída no século 19, por causa do rompimento na tubulação de uma ponte, mas uma fonte nova faz alusão ao monumento histórico. O Chorro de Quevedo abriga, ainda, a Ermida de San Miguel del Principe – uma construção de 1969 que, como a fonte, ocupa o lugar de um monumento centenário: a Capilla del Humilladero. Essa capela teria sido a primeira igreja de Bogotá, quando a cidade ainda era a capital do Novo Reino de Granada.

Os variados Museus de La Candelaria

Os acervos museológicos de La Candelaria têm um alcance histórico ainda mais amplo do que seu patrimônio arquitetônico, tanto por guardar a memória de diversos momentos históricos – da época pré-colombiana até os diasMuseo del Oro - Foto de Mariordo em Wikimedia - BLOG LUGARES DE MEMORIA atuais – como por  tratar também, de temas especificos, como, por exemplo, a Inquisição pu a  história da moeda no país.

Um dos mais procurados atualmente é o Museo Botero, localizado a menos de um quilômetro da Plaza Bolivar. Além das peças do artista, o museu reúne 85 obras internacionais, produzidas a partir do século 19, que pertenciam à sua coleção particular.

Botero ficou conhecido pelos personagens ‘gordinhos’, mas sua obra também contém registros históricos, especialmente da violência na Colômbia e no mundo. Caso dos quadros que retratam a morte do traficante Pablo Escobar e da série 79 telas sobre a tortura na prisão de Abu Gharib, no Iraque.

Entre os principais acervos históricos concentrados en La Cadelária, encontram-se o Museo de La Independencia , também chamado de Casa del Florero, o Museo de La Inquisición e o Museo de La Moneda. Mas o que atrai mais visitantes é o Museo del Oro – um dos maiores dessa temática no mundo -, seja por sua impressionante riqueza material, seja pela importância cultural de seu acervo.

A lenda do Eldorado

O Museu del Oro não é apenas o museu mais procurado como talvez seja o lugar mais visitado de La Candelaria, comparável apenas à Plaza Bolivar e ao Museu Botero. Seu acervo reúne mais de 30 mil peças, de ouro e de cerâmica, produzidas pelas tribos pré-colombianas da etnia Muísca.

Miniatura que representa a coroação do rei Muisca - Foto de Andrew Bertram - World66 em Wikimedia - BLOG LUGARES DE MEMORIATodo esse material está organizado em quatro salas que revelam as técnicas de mineração e manufatura da época; a maneira como esses povos utilizavam o metal em seu contexto doméstico, político e religioso; o simbolismo relacionado à sua cosmologia e as cerimônias de oferendas. Nessa quarta sala, encontra-se a peça mais significativa do museu por representar o ritual que teria dado origem à Lenda do Eldorado.

Para entender o significado da escultura é preciso saber pelo menos uma das versões da lenda e do ritual que a teria inspirado. Segundo a narrativa – que ganhou o mundo e provocou destruição e morte na região – havia um certo lugar da Colômbia que era cravejado de pedras preciosas. Seu rei era tão rico que se cobria de ouro e distribuia riquezas.

Essa crença em um ‘Eldorado’ teria surgido a partir dos relatos de Quesada -,o fundador de Bogotá – depois que ele assistiu a um rito dos Muíscas.

O que ele teria visto, na realidade, não passava de uma cerimônia de coroação. Nela, o rei era coberto por uma resina e por ouro em pó. Em seguida, navegava em uma jangada até o centro de uma lagoa, onde pedia aos Deuses proteção para seu governo e, em agradecimento, fazia oferendas com metais e pedras preciosas.

Para os Muíscas, tudo não passava de um ritual religioso, mas para um europeu movido pelo desejo de explorar as  riquezas de um território ainda pouco conhecido, era uma demonstração de riqueza.

As ruas de La Candelaria

Rua de La_Candelaria - foto de domínio público em Wikimedia - BLOG LUGARES DE MEMORIA

Toda essa abundância cultural já seria suficiente para justificar uma visita a La Candelaria, mas isso ainda não é tudo. Depois de visitar museus e monumentos, vale a pena caminhar pelas ruas estreitas do bairro e observar, com calma, o casario colorido.

No caminho irão surgir prédios históricos de encher os olhos, como as igrejas de Nossa Senhora da Candelária e de Nossa Senhora do Carmo, ou o Palácio Echeverry – antiga residência da família que lhe dá nome, onde funciona atualmente o Ministério da Cultura.

Esse passeio também pode incluir o tradicional Mercado de La Concordia e um roteiro especial para conhecer a Arte de Rua em La Candelaria, sem esquecer de fazer pelo menos uma pausa para saborear o famoso e tradicional café colombiano. 1

Notas

Para saber mais

La Candelaria – Bogotá – Cundinamarca – Colômbia – América do Sul

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10 Comentários
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Val Cantanhede
Val Cantanhede
2 anos atrás

Bogotá merece mesmo o título de Atenas da América do Sul.
Excelente matéria, Sylvinha!
Bjs

Luiz Carlos Oliveira de Santana( Lula )
Luiz Carlos Oliveira de Santana( Lula )
2 anos atrás

Adorei! Motivado para conhecer Bogotá

Sonia Maria Pedrosa Silva Cury
2 anos atrás

Sempre achei a Colômbia um país muito interessante e a sua capital, a mesma coisa. Mas ainda não conheço. Tenho muito interesse em conhecer de tantas coisas lindas que já li a respeito, incluindo seu texto. Maravilhoso!

Cynara Vianna
2 anos atrás

Passamos 1 dia e 1 noite em Bogotá durante uma conexão longa e nos hospedamos no bairro da Candelaria. Foi a melhor escolha que fizemos naquela ocasião. Conseguimos ver o que consideramos ‘o melhor’ de Bogotá.

Hebe
Hebe
2 anos atrás

Eu ainda não conheço nada da Colombia, é um país que quero muito ir em breve. Adorei saber mais sobre o centro Cultural de Bogotá, que lugar bonito!!!