Atualizado em 04/10/2023 por Sylvia Leite
Para o poeta bengali Rabindranath Tagore, vencedor do Nobel de Literatura em 1913, o palácio Taj Mahal, localizado em Agra, na Índia, é ‘uma lágrima na face do tempo’.
A frase de Tagore é apenas uma entre milhares de referências literárias ao mausoléu de mármore branco, erguido à margem de um afluente do Ganges, e considerado ao longo dos séculos como a maior prova de amor eterno que já se teve notícia.
O monumento foi construído pelo imperador mongol Shah Jahan sobre o túmulo de sua esposa favorita Mumtaz Mahal (o nome pode ser traduzido como a preferida do palácio) que morreu ao dar à luz o décimo quarto filho do casal.
Estima-se que mais de 20 mil operários tenham trabalhado na construção do Taj Mahal ao longo de duas décadas e seus dados técnicos não são menos grandiosos: a cúpula tem altura equivalente a um prédio de vinte andares e foi costurada com fios de ouro. Na decoração interna foram usados 28 tipos de pedras semipreciosas.
Pelo que se conta, Jahan planejava construir para si, na outra margem do rio, um monumento de igual forma e tamanho, mas revestido com mármore negro, e unir os dois edifícios por uma ponte. Assim, ficaria ligado à esposa por toda a eternidade.
O que de fato ocorreu foi que ele acabou sepultado no mausoléu branco ao lado de Mumtaz, poucos anos depois da conclusão da obra.
Conhecer toda essa história não é condição para se encantar com a beleza e a grandiosidade do monumento, mas ajuda a entender, por exemplo, como uma edificação de dimensões gigantescas consegue exprimir tanta delicadeza – qualidade que, aliás, dificilmente estaria impressa em uma obra motivada apenas pela demonstração de poder.
O sentido oculto do Taj Mahal
Mas a história de amor é apenas um dos aspectos que permeiam os significados do edifício. Para muitos, sua verdadeira essência está além das paredes, cúpula, torres e jardins.
“Ao entardecer, quando se apagam os contrastes de luz e sombra, e as formas côncavas e convexas se desvanecem umas em outras, enquanto o mármore de brancura de marfim que reveste o mausoléu brilha com luz própria, o Taj Mahal se despoja de toda densidade material; nesse momento, parece ser da mesma substância que a lua cheia.”
As palavras acima, do filósofo e historiador suiço-alemão Titus Burckhardt nos dão uma dimensão da profundidade desse simbolismo. Ele e outros estudiosos das religiões enxergam no Taj Mahal a imagem do paraíso.
Segundo Burckhardt, a arquitetura e os adornos do Taj Mahal fazem alusões a vários elementos paradisíacos como a enorme cúpula feita de uma pérola branca, quatro pilares de sustentação e quatro rios que partem de um centro em direção as pontos cardeais.
Um símbolo em cada detalhe
Para desfrutar de tudo isso, não se pode ter pressa. A cada passo, descobrimos novos elementos e, por meio deles, novos símbolos se revelam. Parece não haver um friso, uma forma ou uma flor que não tenha significado. Para desvendá-los, ou simplesmente, admirá-los, a visita deve durar pelo menos algumas horas.
No caminho até o mausoléu é preciso muita atenção aos detalhes. O espelho d’água que se estende do portal de entrada até bem próximo do prédio principal é ladeado por duas fileiras de ciprestes – símbolo da morte, do renascimento e da eternidade.
Em volta das árvores, contornando a grama, pedras desenham estrelas de oito pontas, um dos símbolos mais recorrentes na arte e arquitetura islâmicas. Segundo os estudiosos do sufismo, oito é o caminho para o nove, que simboliza a perfeição. É o número do equilíbrio e do caminho espiritual.
O número oito está presente também em outras partes: com forma estrelada, no piso da nave central do edifício e como polígono, na grade rendada que cerca as duas tumbas.
Há oito na própria estrutura do mausoléu, que embora pareça quadrado, tem suas quinas quebradas (ou chanfradas), formando um octógono irregular.
Nas paredes internas e externas, há simbolismo nos relevos, nos rendados e nas incrustações de pedras semi-preciosas, quase sempre materializado em padrões geométricos ou arabescos que traduzem, respectivamente, as estações (os níveis) e os estados espirituais; ou em flores de lotus que, em geral são representadas com oito pétalas e, na tradição hindu, significam pureza do corpo e da mente.
Depois de descobrir tudo, ou todo o possível, vale uma longa contemplação de despedida a partir do portal de acesso. A depender da hora, o Taj Mahal pode ir da nitidez à bruma total para só fazer o caminho inverso no dia seguinte com o aumento da luz do sol.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, outras matérias sobre a Índia: Raj Ghat / Gurudwara Bangla Sahib / Kolam / Jantar Mantar
Taj Mahal – Agra – Uttar Pradesh – Índia – Ásia
Referências bibliográficas
- Livro El Arte del Islam, Titus Burckhardt
- Artigo The Myth of the Taj Mahal and a New Theory of Its Symbolic Meaning, Wayne E. Begley
- Livro O Simbolismo dos Padrões Geométricos da Arte Islâmica, Sylvia Leite
Para saber mais
- Descubra o que fazer na Índia no roteiro de 26 dias preparado pelo blog Turismo de Primeira
É amor sem fim!!!! Lindo!
Lindo mesmo. De tirar o fôlego! Obrigada pelo comentário, beijos.
Oi Sylvia, como sempre, uma boa escolha e reportagem impecável. Gostei.
Obrigada, Maria Helena. Beijo.
Silvinha, todas as vezes que leio "lugares de memória", fico morrendo de vontade de conhecer o lugar. Você está de parabéns. Aida Carrera
Parabéns Silvia, pela dedicação em cada postagem.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
É lindo mesmo. Deu vontade de dormir no jardim pra poder admirar aquilo tudo no outro dia de manhãzinha. Cada hora, é uma visão diferente.
Obrigada, Gilca, pelo comentário e pela sua constância na leitura. Beijo.
Aida, todas as vezes que leio um comentário desses, fico morrendo de vontade de escrever mais rsrs. Obrigada! Beijo.
Elizete, sem querer excluí seu comentário. Era para ter excluído a minha resposta que estava com erro de digitação. Desculpe. Você disse que deu vontade de ir ao Taj Mahal. A resposta corrigida rsrs está aí em cima. Beijos
Super Silvinha. Parabéns mais uma vez.
Obrigada, querido! Beijos
Bela escolha, bela escrita, traduz muito do que vemos e experimentamos alí… Revive memórias, de fato!! Gracias!!!!
Bela escolha e Bela escrita traduz muito o que vemos e sentimos alí. Revive memórias!!! Gracias!
Obrigada, Aninha! Bom saber que você gostou. Toda quinta tem postagem nova. Volte sempre!
Obrigada pelo comentário. Respondi logo acima.
Mais um lugar para não se perder de vista…
Com certeza!