Atualizado em 30/04/2024 por Sylvia Leite
O nome atual da cidade faz referência a um homem que tinha terras no local, o brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão. Já seu fundador foi Mateus da Costa Pinto – um fazendeiro que comprou parte dessas terras e nelas construiu uma capela, uma escola e uma venda. Tanto Jordão como Mateus eram portugueses, mas Campos do Jordão acabou conhecida como a Suíça brasileira. E essa é apenas uma das curiosidades que envolvem sua história.
A pequena vila foi fundada em 1874 e batizada como São Matheus do Imbiri por estar localizada ao lado de um ribeirão e de um pico que tinham esse nome. Cerca de duas décadas depois, passou a ser chamada de Vila Jaguaribe em homenagem a um fazendeiro que comprou terras na região. Inicialmente, era apenas mais um vilarejo sem qualquer diferencial, mas seu clima frio e seco seria responsável por importantes transformações.
O ciclo da saúde
O impulso foi dado pela criação de sanatórios para tratamento de doenças pulmonares – uma ideia do médico sanitarista Emílio Ribas, que havia passado um período na Europa estudando a tuberculose. Na época, o mundo vivia uma epidemia dessa doença, que era responsável por 70% das mortes por infecções no Brasil, e acreditava-se que o ar seco e frio das montanhas era capaz promover a cura dos problemas respiratórios, um tratamento conhecido como climatoterapia.
Para viabilizar seu projeto, Ribas uniu-se a outro sanitarista, Victor Godinho, e juntos iniciaram a construção de uma estrada de ferro que facilitasse aos doentes a subida da serra, até então feita a pé ou em burros. Eles não tiveram fôlego para concluir a ferrovia, mas a obra foi encampada pelo governo e inaugurada em 1914. No ano seguinte, a vila seria elevada a distrito de São Bento de Sapucaí, já com seu nome definitivo: Campos do Jordão.
Durante quase cinco décadas, a cidade acolheu doentes que chegavam não apenas para os sanatórios, mantidos por instituições de caridade, mas também para casas de repouso, pensões e residências. Pessoas famosas como Monteiro Lobato e Nelson Rodrigues, teriam passado por lá. Mas, a partir dos anos 1950, o tratamento da tuberculose passou a ser feito com a penicilina surgida na década anterior, e a procura por Campos do Jordão tornou-se cada vez menor.
O ciclo do turismo
Enquanto diminuía a procura pelos centros de saúde, surgia no local outra modalidade de hospedagem, desta vez voltada para o turismo. O frio e o clima seco continuavam sendo os atrativos, mas agora para descanso e lazer. Um novo zoneamento da cidade isolou os sanatórios e conta-se que alguns hotéis chegaram a colocar máquinas de raio x em sua entrada para garantir que ali não entraria nenhum tísico – nome dado aos doentes de tuberculose.
No mesmo período, ou talvez um pouco antes, começaram a surgir construções em estilo europeu, o que acabou contribuindo para a imagem de Campos do Jordão como destino turístico de inverno. A utilização desse tipo de arquitetura é justificada por muitos pela necessidade de adaptar as residências ao clima da montanha ou pela chegada à região de colônias alemãs. Mas é possível que as casas feitas com madeira, tijolos aparentes e telhados triangulares tenham surgido com o objetivo de atrair turistas. Sinal disso seria o fato de muitas delas não seguirem a técnica construtiva das casas europeias de montanhas, conhecida como Enxaimel, mas apenas sua aparência.
Sejam quais forem as razões de seu surgimento, a arquitetura europeia de Campos do Jordão contribuiu para que a cidade recebesse, em 1957, durante um congresso de climatologia realizado em Paris, o título de Suiça Brasileira. A atmosfera europeia foi aos poucos tomando conta da cidade e ganhou reforço com a criação, em 1970, do famoso Festival de Inverno. A cidade ficou conhecida, também, por suas malharias e pela culinária serrana onde predominam pratos suíços e alemães.
Uma lenda local de Campos do Jordão
E como se não bastassem suas histórias reais, Campos do Jordão tem inúmeras lendas. A mais famosa delas, que até virou música, é a Lenda dos Três Pinheiros e gira em torno de Inácio Caetano Vieira de Carvalho, o primeiro morador das terras onde foi fundada Campos do Jordão.
Segundo se conta na cidade, Inácio Caetano era muito sovina e acabou acumulando um grande tesouro em moedas e pó de ouro. Um dia, já velho, juntou tudo o que possuía e foi até o bairro do Rancho Alegre acompanhado por um escravo. Parou diante de três pinheiros e ordenou ao escravo que cavasse um buraco no centro geométrico entre os três. Guardou o tesouro no buraco e cobriu com terra. Depois matou o escravo para não ter testemunhas.
Quando Inácio Caetano morreu, os moradores de Campos do Jordão passaram anos procurando o ouro enterrado, mas o local que antes tinha apenas três pinheiros, havia se transformado em um imenso pinheiral e era impossível descobrir o local exato. E, desde então, todas as sextas-feiras, no bairro onde o tesouro está enterrado, também chamado de Lomba Larga, o velho aparece com roupa e chapéu pretos, cavalgando em um cavalo também preto, e fazendo a seguinte pergunta: “Lomba Larga, Lomba Larga, Três Pinheiros, onde estão meus dinheiros?”
E para provar que tudo isso é verdade, quem conta essa lenda faz questão de lembrar que os três pinheiros estão registrados na bandeira de Campos do Jordão.1
Notas
- 1 Leia, aqui no blog, sobre outras cidades do interior de São Paulo: Joanópolis / Brodowski / Paranapiacaba / Taubaté /
Para saber mais
- Descubra o que fazer em Campos do Jordão, lendo a postagem Campos do Jordão: roteiro de 2 ou mais dias, no blog Diário de Uma Viajante
- Para saber quais são os 15 melhores passeios de Campos do Jordão, acesse o blog Fefa pelo Mundo
- Se a questão for o que fazer em Campos do Jordão no verão, acesse o blog Viajante Econômica
- Se você gosta de flores, vá a Campos do Jordão na época da Festa da Cerejeira em Flor, como recomenda o blog Receitinhas e Viagens
- Se você estiver em dúvida entre Campos do Jordão ou Monte Verde, leia postagem do blog Viajando com a Mala Rosa
- Agora, se além de Campos do Jordão, você quer conhecer outra importante estância turística do interior de São Paulo, leia a postagem O que fazer em Holambra em 1 dia, no blog Elizabeth Werneck
Campos do Jordão – Serra da Mantiqueira – São Paulo – Brasil – América do Sul
Fotos
Eu adoro uma lenda!!! Não conhecia…
Já estive 2 vezes em Campos do Jordão e não me canso. É sempre uma experiência maravilhosa!
Campos do Jordão tem várias, mas a dos três pinheiros é a mais significativa.
Eu não conhecia a história de Campos do Jordão e gostei muito! Bastante interessantel
Que bom que gostou. Toda semana tem matéria nova no blog. Acompanhe!
Valeu, Newsinho!!!
Saudades. Um dos locais que não se pode deixar de conhecer.
Eu adoro Campos do Jordão, já visitei inúmeras vezes, mas nunca tinha aprofundado as curiosidades e história do local assim. Na próxima visita, com certeza vou olhar para esses fatos que você nos trouxe.
Que legal, Juliana. Faça isso sim. Visitar um lugar conhecendo sua história nos faz perceber, ou entender detalhes que jamais perceberíamos ou entenderíamos sem ter alguma informação prévia.
Eu amo Campos do Jordão. Uma cidadezinha tão linda, tão charmosa, romântica e muito família, as atrações são maravilhosas.