Teotihuacan: um enigma a ser decifrado

Tempo de Leitura: 6 minutos

Atualizado em 13/03/2023 por Lugares de Memória

 Pirâmide do Sol - Foto Piabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Quem já ouviu falar em Teotihuacán, provavelmente sabe que os monumentos mais conhecidos desse sítio arqueológico são a Pirâmide do Sol e a Pirâmide da Lua – o que nos leva a crer que seus construtores tinham ligações com a astronomia ou com a astrologia. Embora isso não esteja de todo incorreto, ao se pesquisar um pouco mais descobre-se que os nomes das pirâmides não são originais  -foram dados pelo padre franciscano Bernardino Sahagún, no século 16 – e há indícios de que o grande tema daquela civilização talvez fosse outro: a água.

As evidências começam nas próprias pirâmides, que teriam sido erguidas em homenagem ao deus da umidade, dos raios e das tormentas (Tlaloc), e a sua esposa, Deusa dos lagos e das correntes de água (Chalchiuticue). A preocupação com o tema aparece na própria estrutura da cidade, que conta com vários dispositivos para coleta de água da chuva denominados pluviuns, e também em Pirâmide da Lua - Foto Piabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA sua decoração, seja nos desenhos esculpidos em pedra ou nas pinturas murais.

O friso da Pirâmide do Sol, por exemplo, é denominado Cinturão de Chalchihuites (pequenos círculos que simbolizam a água). No conjunto arqueológico Tepantitla, um dos conjuntos habitacionais que restaram em Teotihuacán, encontram-se duas pinturas murais com referências à água.

A primeira, em Tepantitla I, é conhecida como “Mural de Tlalocan” ou “Paraíso de Tlaloc” em alusão ao lugar para onde iam as pessoas que morriam vítimas de raios ou da água. A parte de cima do painel mostra uma deidade com água escorrendo de suas mãos e, na parte de baixo, pessoas comuns que realizam tarefas relacionadas à água.No Tepantitla I - "Paraíso de Tlaloc" - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA painel de Tepantitla II, sacerdotes enfileirados portam chapéus que representam o deus-crocodilo Cipáctil e seguram serpentes adornadas com motivo aquáticos.

O Museu dos Murais Teotihuacanos “Beatriz de la Fuente”, localizado na própria Teotihuacán também reúne pinturas com essa temática. Em um dos murais, vemos uma concha rodeada de ondas do mar. No outro, jaguares em procissão expelem água pela boca. Um terceiro painel mostra as mãos do deus Tlaloc aparando gotas de água. Há quem afirme que a imagem sugere escassez e que isso talvez explique o declínio da cidade, versão contestada pelo fato de Teotuhuacán estar localizada sobre uma bacia hidrográfica natural, a menos de 50 km da Cidade do México.

Tepantitla II - Sacerdotes com adornos alusivos ao deus-crocodilo - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA O sítio arqueológico

Muitas outras dúvidas envolvem a história desse sítio arqueológico, a começar pelo nome. Teotihuacán significa Cidade dos Deuses na língua Nahuati (ou Náuatle) falada pelos Astecas, que ocuparam o local depois do seu declínio e abandono. Eles a batizaram assim porque acreditavam estar em uma cidade sagrada construída por gigantes.Deus da chuva - Foto Museu Nacional de Antropologia Divulgação - - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Grande parte das informações que temos hoje sobre Teotihuacán, nos foi fornecida por essa civilização pré-colombiana, que demonstrava ter algum conhecimento sobre a cidade e a civilização que o ergueu. Ainda assim, os dados são imprecisos e, em alguns casos, contraditórios.

O nome original da cidade, por exemplo, é uma interrogação. Consta que, em algum momento, a cidade foi batizada como Tollan, o mesmo dado, em certo momento, à cidade mexicana que hoje é conhecida por Tula. Assim como Teotihuancán, ambas são palavras do idioma Nahuati e significam lugar dos tules, que é uma espécie de árvore aquática – o que reforça a suposição de que a civilização de Teotihuacán tivesse uma forte ligação com a água – mas nada garante que não tenha havido um nome anterior.Concha com ondas no Museu dos Murais de Teotihuacán - Foto INAH Divulgação -BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

A data de fundação continua imprecisa. Algumas versões coincidem ao afirmar que ocorreu antes da era Cristã, mas há uma divergência nas datas que podem oscilar em quase 300 anos. Outros defendem a tese de que a construção só foi iniciada no século 1.

Até hoje não se sabe, também, quem foram os construtores de Teotihuacán. Os Totonacas reivindicaram a autoria da cidade e tudo indica que sua versão foi confirmada pelos Astecas, mas não há consenso sobre isso. Alguns acreditam que o lugar pode ter sido erguido e habitado por uma civilização multi-étnica.

Jaguares expelem água pela boca em peça do Museu dos Murais de Teotihuacán - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Mesmo a ligação da cidade com o tema da água parece não ter origem em seus fundadores – a menos que os deuses da chuva e da água tenham sido rebatizados pelos Astecas porque os nomes Tlóloc e Chalchiuticue são palavras do idioma Nahuati.

A única certeza em relação a Teotihuacán é que entre os séculos 3 e 5, o seu período mais florescente, foi a maior cidade da América pré-colombiana e provavelmente a sexta maior do mundo antigo. Sabe-se também que sua cultura exerceu influências sobre vários povos do México. Mas quando se fala em tamanho da população voltam as incertezas. As inúmeras versões variam de 350 mil a mais de 150 mil habitantes em sua época mais florescente.

Mãos do deus da chuva retendo gotas em painel do Museu dos Murais de Teotihuacán - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

As relíquias de Teotihuacán

Teotihuacán é hoje a zona arqueológica mais visitada do México, tanto por sua importância histórica e arqueológica, como por ter recebido da UNESCO, em 1987, o título de Patrimônio da Humanidade.

Seu tamanho impressiona e fascina. Ao longo de um eixo com 4 km de extensão e cerca e 40 m de largura, encontram-se dezenas de monumentos praticamente completos. A via foi batizada como Avenida dos Pintura rupestre em Teotihuacan - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA Mortos porque os Astecas acreditavam que naquelas construções estavam enterrados os dirigentes e outras pessoas de destaque na a civilização teotihuacana.

As duas fotos mostram restos de murais do antigo conjunto residencial Tetitla, um dos mais de 2.000 que existiam em Teotihuacán.

Em uma das extremidades da avenida, encontra-se a Piramide de la Luna – precedida por 12 pirâmides menores que definem os contornos da praça de mesmo nome. Na outra, localiza-se um monumento conhecido como Cidadela.

Entre um e outro, mais próximo à Pirâmide da Lua, encontra-se o maior e mais conhecido monumento do complexo, que acabou tornando-se ícone da identidade nacional mexicana – a Pirâmide do Sol. Quem consegue subir seus mais de 200 degraus, tem uma vista privilegiada do sítio arqueológico.

PIntura rupestre em Teotihuacán - Foto INAH Divulgação - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA - Assim como ocorre em inúmeros monumentos do mesmo período, as construções de Teotihuacán foram matematicamente posicionadas me relação ao céu. A Pirâmide do Sol, por exemplo, está voltada para o Oeste a fim de que, no solstício de verão, o sol se ponha em sua frente.

Além da experiência de subir as duas principais pirâmides, e constatar as diferentes sensações provocadas por uma e por outra, faz parte da visita caminhar ao longo da Avenida dos Motos a fim de perceber sua amplitude espacial.

O percurso é grande e exige tempo, mas o caminho está repleto de seduções, como é o caso dos conjuntos habitacionais que já foram inteiramente cobertos por pinturas murais e ainda hoje conservam partes significativas dessas magníficas obras de arte.1

Notas

Para saber mais

Vista da Avenida dos Mortos, o eixo principal de Teotihuacán - Foto Piabay - BLOG LUGARES DE MEMÓRIA

Teotihuacan – San Juan Teotihuacán – Estado do México – México – América do Norte

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R Leandro
5 anos atrás

Eu estive em Teotihuacan, o relato da jornalista e preciso!

Val Cantanhede
5 anos atrás

Fascinante mesmo, Sylvinha! Estive lá em 2014, com um grupo de amigas. Somente uma de nós, a Bela, conseguiu subir as escadas íngremes das pirâmides do Sol e da Lua, mas na descida, ela parou pelo menos três vezes para descansar e chegou ofegante. Eu não cheguei a subir sequer a metade das escadarias pq meus joelhos não permitiram. Mas valeu a pena!
Abraços

Anônimo
Anônimo
5 anos atrás

Oi Silvinha boa tarde, estou maravilhada com seu trabalho nos levando a sonhar em visitar . Deus te abençoe, bjos. Isaura M. M. Campos

Unknown
3 anos atrás

Subi quando jovem. O ano passado, apreciei da base e hoje,no seu relato maravilhoso. Espetacular.

cleonicein
3 anos atrás

Teotihuacán que enigma este lugar, nao tinha ideia dessa ligacao com a agua. sempre uma historia interessante a nos contar ne Sylvia.

Angela Beatriz Camara Martins
3 anos atrás

Eu adoro o México! Tenho muita vontade de conhecer essas pirâmides. Afora mais depois de ler esse post! Muito interessante esse enigma que envolve Teotihuacan.

Cintia Vaz
Cintia Vaz
3 anos atrás

Fui para Teothuacan 2x e foi realmente o sitio arqueológico mais impressionante que eu já vi na minha vida. A primeira vez, fui por acaso. Nem sabia que existia e me apaixonei. No ano seguinte, voltei e fomos em um passeio com um guia arqueólogo. Foi inacreditável. O Museu Nacional de Antropologia foi o museu mais legal que eu já fui, embora não tenha ido ainda nos mais famosos. Esse Museu dos Murais eu não fui. Não sabia que existia e o guia não levou. Provavelmente não estava incluso no "pacote". Eu Sabia que Teothuacan era famoso mas não fazia ideia que era o sitio arqueológico mais visitado do mundo, eu achava que os mais visitados eram os Egípcios. Acabei de aprender mais um pouco hehehee. Adoro seus posts. Beijos

Unknown
3 anos atrás

Que maravilha

Sonia Pedrosa
1 ano atrás

Os melhores destinos são feitos de histórias e mistérios, sem dúvida!